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Condições climáticas antecipam a safra da uva

Quantidade de dias com temperaturas altas fez com que o amadurecimento das frutas esteja antecipado em pelo menos duas semanas. Previsão é de que a colheita deste ano deve iniciar até o final de janeiro

Quem observar os parreirais nesse início de mês verá um cenário diferente dos anos anteriores. As uvas estão mais maduras do que o habitual. Isso por causa das condições climáticas. A predominância de altas temperaturas e de tempo seco nos meses de novembro e dezembro fez com que as frutas amadurecessem precocemente. O resultado é uma antecipação da safra. Os frutos da vindima 2013 devem ser colhidos de 10 a 15 dias antes. Normalmente, o forte da colheita ocorre entre a metade do mês de fevereiro até a metade de março, mas com o clima quente isso deverá ser adiantado para o final de janeiro (ou início de fevereiro). Variedades como a Vênus e a Niágara já estão sendo colhidas para a venda in natura.

Isso ocorre porque as temperaturas mais altas interferem nas fases da uva. As parreiras precisam de sol para brotar e para amadurecer os cachos. “Quanto maior a temperatura, maior é a taxa metabólica e o ritmo de desenvolvimento das videiras. Ou seja, todo o ciclo da planta se antecipa, favorecendo a precocidade da brotação, floração, frutificação e maturação”, explica o pesquisador na área de agrometeorologia da Embrapa Uva e Vinho, José Eduardo Monteiro.

Segundo o pesquisador, esse é o terceiro ano consecutivo em que a safra inicia com chuvas abaixo da média. Em novembro foram registrados 24 milímetros e no mesmo mês do ano passado, a precipitação ficou em 23mm. O normal para o período seria de 140mm. Dias ensolarados também ocorreram em dezembro. Porém, o período seco findou com as chuvas que começaram na metade do mês e se intensificaram no início de janeiro. Esse fato interrompeu a sequência de dias em que as videiras estavam com deficiência hídrica e recuperou parcialmente os níveis de água no solo.

A predominância de dias de sol também contribuiu para o controle fitossanitário e diminuiu a necessidade de aplicação de fungicidas contra doenças. “A falta de umidade inibe doenças, se utiliza menos o uso de defensivos e beneficia a sanidade da fruta”, explica Monteiro.

Para as próximas semanas, quando deve iniciar a colheita, o prognóstico, elaborado pelo Centro de Previsão e Estudos Climáticos (CPTEC) e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), prevê chuvas acima da normalidade no Rio Grande do Sul. Isso deve se repetir nos meses de fevereiro e março. De acordo com os pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho, José Eduardo Monteiro e Henrique dos Santos, não há como precisar a perspectiva para a safra, mas esse início de janeiro é o mais importante para a definição do potencial produtivo, pois corresponde à fase de enchimento dos frutos.

“Tudo vai depender do comportamento do clima durante o período de maturação, mas ao que tudo indica a qualidade será muito boa”, pontua o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua e coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin. Ele lembra que a qualidade da uva não depende apenas das condições climáticas, mas de várias ações de manejo dos produtores durante os diversos ciclos da videira.

Frutas para abastecer mercados
Na propriedade de Valdomiro Fabian, no Travessão Paredes, em Nova Pádua, os primeiros cachos da safra 2013 já foram colhidos nesta semana. As uvas de mesa são vendidas na Ceasa de Porto Alegre e estão abrindo a temporada de vendas também para mercados e na própria casa do agricultor de 41 anos. Com o clima quente de dezembro e as chuvas de janeiro, as frutas, no geral, tiveram antecipação na safra em até duas semanas. As uvas cobertas de Fabian não estão totalmente maduras, mas alguns cachos selecionados darão “água na boca” dos consumidores nas prateleiras dos mercados.

Com uma safra considerada 20% superior a de 2012, Fabian destaca ainda a qualidade e sanidade dos cachos. A família mantém um hectare de uvas com cobertura plástica (variedades Itália, Rubi e Benitaca), além de outros 3 hectares de uvas comuns. Para Fabian, pelo clima desta safra, a fruta será superior a do último ano. “Teremos mais quantidade e mais qualidade. Acho também que está mais bonita”, resume o produtor. A carga de uvas de mesa que saiu de Nova Pádua nesta semana seguiu para a Capital gaúcha para ser vendida in natura (foram despachadas 120 caixas).

Segundo Fabian, o sol forte também faz com que a fruta fique mais saborosa e atrativa aos olhos do consumidor. “Até agora o clima colaborou e não tivemos prejuízos. A uva coberta será destinada para a mesa do consumidor, bonita e com qualidade”, complementa o agricultor. Na propriedade devem ser colhidos 24 mil quilos de uvas.

Safra deverá ser 20% menor
Os números da safra da uva têm oscilado entre médias e grandes quantidades nos últimos anos. Em 2011, a safra chegou a 709 milhões de quilos – a maior da história –, enquanto que em 2012 foram 696 milhões de quilos. A projeção para a vindima deste ano é de uma diminuição em relação aos dois últimos anos. Conforme o coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, a previsão é de uma colheita entre 15% a 20% menor do que a de 2012. Porém, são números que dependem das condições climáticas e são baseados em levantamento feito com entidades e viticultores e não incluem áreas novas, por isso, podem mudar. “Temos uma previsão, pois não são todos os anos que as parreiras produzem. As árvores frutíferas geralmente dão uma quantidade maior num ano e menor no outro, depende da polinização, da floração. O cacho parece estar menor esse ano, o que vai pesar menos”, projeta o coordenador.

Entretanto, a perspectiva de quebra de safra é um alento para o setor. Os estoques de vinhos estão acima do normal. De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), as vinícolas gaúchas têm 306 milhões de litros em estoque, o maior volume desde 2009, quando havia um acúmulo de 313 milhões de litros de vinhos e derivados. Até fevereiro a expectativa é escoar 40 milhões por meio de leilões públicos. Os interessados fazem a oferta e o governo federal completa o valor até chegar ao preço mínimo estipulado para cobrir os custos de produção. “A expectativa é baixar os estoques durante janeiro e fevereiro e com isso poder receber o vinho da safra. Estamos mantendo o acordo de receber uvas de melhor qualidade e temos a esperança de conseguir escoar toda a safra”, afirma o presidente do Ibravin, Alceu Dalle Molle.

Números
A destinação da uva vem se modificando nos últimos oito anos. Dos 696 milhões de quilos da safra 2012, 56,1% foram para produção de suco de uva. Em 2004, 75,5% da produção de uvas comuns se transformava em vinho, contra 24% para suco. No ano de 2011, o destino das uvas para a produção de vinho se igualou com a do suco de uva. Foram 49% para a produção de sucos e 51% para a elaboração de vinhos.



Variedade Benitaca é pouco cultivada na região e foi trazida do Nordeste pela família Fabian. - Camila Baggio
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