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Comunidades: Uma comunidade unida pela religião

Aos domingos de tarde, eram suspensos os jogos e as pessoas se dirigiam à igreja para rezar o terço

A tradição não se perpetuou. Aos domingos poucas pessoas ainda se reúnem para rezar o terço, mas a lembrança ainda vive na memória de muitos que residem no Travessão Rondelli. Alguns eram crianças, outros um pouco maiores, mas o ritual era sempre o mesmo.
O padre chegava a cavalo. Uma ou duas vezes por mês. E ainda rezava em latim. “Ninguém entendida nada, mas estávamos lá, sempre”, diz um grupo de amigos que reside na Comunidade de São Roque: Bertinho Piccoli, 58 anos; Donato Piccoli, 70 anos; Nestor Picolli, 61 anos; e Fernandes Veadrigo, 65 anos. 
“De noite, quando tinha a capelinha, íamos em procissão, rezando, acompanhar a santa até a família vizinha. Lá, rezávamos o terço e conversávamos.  Agora não tem mais esse hábito, se perdeu com o tempo, e na comunidade também, uma vez a gente rezava o terço todos os domingos de tarde”, lembra Gema Mascarello Pagno, 78 anos, moradora da comunidade de São Vitor. 

São Roque

Conforme escritas de José Victório Piccoli, as primeiras capelas se emprestavam as imagens, ocorrendo, às vezes, intrigas para a devolução. “Ao contrário das primeiras estátuas, a de São Roque é artística e bem modelada. As versões oriundas dos mais antigos são interessantes, mas faltam-lhes autenticidade. Diz-se que a estátua de São Roque foi levada à sede da Capela à noite para evitar qualquer problema”, relata o escritor.
A informação também é apresentada pelos amigos que se reuniram no salão da comunidade para receber o Jornal O Florense. “São Roque era disputado, tinha outra Capela que queria, então eles foram buscar de noite, meio que roubado”, dizem.
A terra onde se encontra a capela foi doada por Cirillo Piccoli com área de 400m² da Colônia nº49, conforme escritura pública de 1901. Acredita-se, porém, que essa doação foi muito anterior à data da escritura. Aí foi construída uma igreja de madeira que serviu à comunidade, tendo ao lado um campanário também de madeira. Em 1947 foi inaugurada a atual, de alvenaria, que exigiu muito esforço e trabalho da comunidade.
Mais tarde, em 1956, concluiu-se a construção do salão de alvenaria de dois pisos. Outra etapa foi a construção do campanário que também exigiu muita dedicação dos moradores. O segundo piso servia para a escola municipal e para os almoços nas festas e o primeiro piso abrigava a cozinha, a bodega, o salão de jogos e de encontros diversos.
Uma velha aspiração da sociedade era a substituição do campanário de madeira por um de alvenaria. Como a Sociedade enfrentava desafios, a obra foi iniciada, aos poucos, concluída e finalmente inaugurada em 1965. A torre é imponente motivo de admiração e elogio por parte daqueles que vão às festas ou transitam pela ERS-122. O sino veio da França da mesma fundição onde foram fabricados os da matriz de Flores da Cunha. No próprio sino existe a inscrição da procedência e uma frase em língua latina. Conforme documento, o sino foi bento em 1923.

Nossa Senhora do Carmo

Logo após a chegada dos primeiros imigrantes que formaram a comunidade do Travessão Rondelli, na 15ª légua da antiga Colônia Caxias, foi providenciada a construção de uma capelinha de madeira. A escola do santo daria nome ao templo, mas, incialmente, não teve unanimidade entre as famílias, que se dividiam entre devotos de São Miguel e de Nossa Senhora do Carmo, a escolhida com o passar do tempo. 
Inaugurada em 1951, a atual capela de alvenaria guarda em seu interior imagens da Padroeira e de São Miguel e é resultado da união de esforços da comunidade. 
Os primeiros sepultamentos desta comunidade eram feitos na Vila de Nova Trento – atual Flores da Cunha. Depois de instalado o cemitério local, por volta de 1920, os enterramentos se davam em covas feitas direto na terra, onde eram colocadas cruzes de ferro com a inscrição dos nomes, datas e mensagens dos familiares. Nesse cemitério, que faz parte da Sociedade Capela Nossa Senhora do Carmo, encontram-se os restos mortais do poeta Angelo Giusti. 
O salão comunitário foi construído aos poucos e foi entregue à comunidade em 1991.

São Vitor

“Na minha infância, antes de ir para a escola, eu e meus irmãos levantávamos da cama e íamos ao redor do fogão, todas nós crianças, rezando, minha mãe ensinava a rezar o Creio, o Salve Rainha, os Atos, Ave Maria, Pai Nosso, todas essas orações que até hoje, não digo todos os dias, mas quase sempre eu rezo. E, depois, a gente tomava o café, e nem sempre tínhamos leite, então era preto com polenta, com batata, com pão”, conta Gema Mascarello Pagno.
Conforme a moradora, a igreja que existe hoje é a mesma de antigamente, quando era criança – a igreja foi construída na década de 30. “Eu não me lembro quando construíram (a igreja), mas o salão sim, tinha um galpão velho que eles faziam alguns churrascos. Depois colocaram as pedras maiores lá em baixo da bodega e, mais tarde, construíram um salãozinho pequeno com uma cozinha do lado e foi indo assim alguns anos. Faz uns 10 anos que derrubaram esse salão e fizeram outro, mas a igreja permanece a mesma”, lembra Gema que tem fresca em sua memória a chegada do Frei Eugênio para rezar as missas na comunidade. “Quando ainda não tinha o muro de contenção da igreja, o Frei Eugênio vinha rezar a missa a cavalo e o deixava na estrada. Então, depois ele ia na beira do barranco pra montar no cavalo”, conta ela em risos, que ainda recorda que se iria tomar Comunhão no domingo, não podia comer nada no sábado de noite. 
Gema, que sempre foi bastante ativa na comunidade, atualmente faz parte do Clube de Mães e do grupo de canto da Igreja. “Estou em casa há mais de um ano, mas eu já fiz parte da liturgia, fui ministra da eucaristia, presidente da comunidade quando tinha meu marido, depois eu fui catequista, coordenadora da liturgia, e depois eu sempre fiquei na liturgia e cantos”, relata ela, que também participou do projeto ‘Vereador por um dia da melhor idade’. “Vejo que não temos mais muitos jovens na comunidade, todos trabalham fora e não querem muito participar”, finaliza, ainda esperançosa. 

Restinga

A comunidade da Restinga, Travessão Salgado, teve a necessidade de construir um local que pudesse reunir as famílias para rezar. Assim construíram uma pequena capela de madeira inaugurada em 7 de maio 1961, dedicada a Nossa Senhora de Fátima. 
No ano de 1964, os moradores se uniram para a construção de um salão comunitário, que com o passar do anos passou por diversas reformas. 

Frei Jaime Biazus, natural da Capela realizou a primeira missa na nova igreja, em 1947. - Arquivo
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