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Comunidades: Um imigrante poeta

Angelo Giusti é considerado o primeiro homem de letras de Nova Trento

Angelo Giusti nasceu na Itália e fez parte das primeiras gerações de imigrantes da Colônia Caxias, da qual Nova Trento – atual Flores da Cunha – pertenceu até 1924. Passou grande parte de sua vida no Travessão Rondelli, onde cultivava a terra e escrevia poesias. 
Eram tempos difíceis, mas a alma de Angelo Giusti era rica e cheia de inspiração. O poeta-agricultor fazia os poemas e canções durante o dia na lavoura e, de noite, à luz de velas, passava tudo para o papel. Com sua charrete – puxada por um cavalo branco – conhecida por toda a região, ia até a sede da vila, onde o Frei Capuxinho Exupério de La Compôte transformava as letras em partituras. 
Autodidata, Giusti sabia ler e escrever, mas nunca frequentou escolas. Aprendia e gravava a melodia de memória e, aos finais de semana, nos encontros de igreja e nas festas comunitárias, cntava com seus conterrâneos às composições que criava. 
Angelo Giusti deixou inúmeros poemas, inspirados na fé das pessoas, na religiosidade e nos acontecimentos da sua época. Ele faleceu em fevereiro de 1929 com 81 anos de idade e seus restos mortais repousam no Cemitério da Capela do Carmo no Travessão Rondelli.

Mas como chegaram até nós essas poesias?
Devemos, em grande parte, a Ângelo Giusti Neto e a Guerino Pavan, esse último vizinho e amigo. O trabalho de pesquisa e elaboração de um pequeno livro de suas poesias, contendo diversas ilustrações, deve-se principalmente ao prof. Luís Alberto De Boni na década de 70. Foi publicado pela Universidade de Caxias do Sul com o título: ‘Poemas de um Imigrante Italiano’.
Na introdução do livro, escrito por De Boni, ele informa: “Dizer que houve algo de extraordinário na vida deste colono, que residiu sempre no Travessão Rondelli, à beira da estrada que vai de Flores da Cunha à Antônio Prado, seria um exagero. Foi um simples agricultor, como tantos outros. [...] Porém, Angelo Giusti foi um poeta. E isso o distingue de tantos outros imigrantes. Sua poesia não pertence a nenhuma antologia, seus versos carecem de burilamento. Mas o que se poderia esperar de alguém que, conforme testemunho dos que o conheceram, aprendeu a ler ouvindo, do lado de fora da escola, ainda na Itália, o que o professor ensinava? Chegando ao Brasil, não lhe sobrou tempo para outra coisa, além de lutar pela sobrevivência”. 
O tema de suas poesias versa, geralmente, sobre assuntos religiosos, a vida dos Imigrantes, o comportamento humano e sobre os Sinos: Le Campane de Nova Trento.

La Mérica
Da I’talia noi siamo partiti
Siamo partiti col nostro onore.
Trenta sei giorni de macchina e vapore
E in Merica siamo arrivà.
(Da Itália nós partimos
Partimos com a nossa honra.
Trinta e seis dias de navio a vapor
E na América chegamos.)

A l’America noi siamo arrivati,
Nons abbiam trovato ne paglia, ne fieno,
Abbiam dormito sul nudo terreno,
Como le bestie abbiamo riposà.
(Na América nós chegamos
Não achamos nem palha, nem feno,
Dormimos sobre a terra nua
Como os animais descansamos.)

Ma la Mérica. I lunga e I larga
E circondata da monti e da piani,
E com L’industria dei nostri italiani
Abbiam formato paesi e città.
(Mas a América é longa e larga,
É circundada de montes e planícies,
E com a indústria dos nossos italianos
Construímos vilas e cidades.)

Seguindo os passos

Da localidade vizinha, São Vitor, mais um autor, que através da escrita retrata sua infância e a cidade florense: Rosalino Mascarello. 
No livro ‘Lugares da Memória’, ele nos faz viajar até as paisagens do interior, nas encostas do Rio das Antas, onde de pequeno olhava e admirava a natureza.

Flores da Cunha

Minha terra não tinha este nome, não
Nova Trento lhe foi dado no batismo
Pelos fundadores de longe vindos
Mas da certidão apagado o nome foi.

Flores da Cunha, novo nome
Sem o povo não saber porquê.
Dali em diante florenses ou novatrentinos,
Citadinos ou contadinos cantam loas.

Flores da Cunha dos altos montes
Dos vinhedos, do trabalho à porfia
Vai vivendo e conquistando espaço.

É poético, às seis, doze e dezoito
Ouvir o toque da Ave-maria da torre
Como ouviu Giusti primeiro poeta florense.
 


 

 - Gabriela Fiorio
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