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Comunidades: Nos compassos da Mérica Mérica

Roteiro turístico honra a vida na colônia e a tradição italiana na região norte de Flores da Cunha

É o poeta Angelo Giusti que dá o tom. No embalo da composição La Mèrica, hino oficial da colonização italiana no Rio Grande do Sul, o turismo se desenvolve nas comunidades de São Roque, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora do Bom Conselho e São Vitor. E ele se materializa no roteiro “Compassos da Mérica Mérica”, caracterizado pela simplicidade do cotidiano da colônia.
Seis empreendimentos, entre vinícolas, restaurante e agroindústria familiar, compõem o passeio. Nele, o turista pode conhecer o dia a dia das propriedades rurais, percorrendo-as em um “carretão” em meio à natureza, aos aromas da terra e de seus frutos e às belas paisagens da região, recheadas de cultura e história. Na época da vindima, os visitantes também participam da colheita e da pisa da uva.
No roteiro, é possível desfrutar de La Colacion, como é chamada a refeição feita durante o dia de trabalho, com direito a salame, pão e chimia. A gastronomia italiana também está contemplada em almoço típico: galeto, tortéi, polenta, queijo e um bom sagu de sobremesa. 
Os vinhos, claro, estão sempre à mesa, além da degustação na visita às vinícolas da região. Tudo em um ambiente recheado de história e cultura, que inspirou Angelo Giusti na composição mais famosa da Serra Gaúcha.
O poeta também era agricultor e compunha poemas e canções no dia a dia da lavoura. É esse legado poético do trabalho colonial que se pretende cultivar no roteiro. “Os turistas vivenciam bastante a cultura da colonização italiana. Em 1875, Geovani Pagno chegou da Itália e, desde então, essa cultura sempre foi passada de geração para geração na propriedade. Aqui em casa, a conversa acontece no dialeto, o pão é feito no forno de barro até hoje”, conta Ricardo Pagno, um dos principais idealizadores do roteiro.
Foi para dar aos turistas acesso às maravilhas dessa rotina que Pagno reuniu um grupo de cerca de 15 pessoas que abraçaram a ideia de fundar a rota, projeto que contou com a assessoria da Secretaria do Turismo, do Sebrae e do Centro Empresarial. “O turismo não se faz sozinho. Não é uma comunidade ou uma propriedade que vai alavancar o turismo de Flores da Cunha, mas a cidade como um todo”, comenta Pagno.
Para ele, todos os munícipes têm de comprar a ideia, desde o agricultor da empresa que vai trabalhar com o turismo até o frentista que vai dar informações para o turista, os restaurantes que terão de trabalhar com um horário de almoço mais prolongado, entre outros exemplos. Na visão do agricultor, nas questões de infraestrutura, como estradas, eletricidade e internet, a cidade está bem atendida. 
“Eu vejo que as pessoas estão demandando lugares novos. Gramado é ótimo, Canela é ótimo, Vale dos Vinhedos é ótimo, mas as pessoas já foram várias vezes nesses lugares. Tanto em Flores da Cunha quanto em Nova Pádua, temos belezas naturais e a gastronomia muito fortes, com a questão do vinho, da uva. Eu acho que Flores tem tudo para ser um novo polo turístico”, afirma o empreendedor. 
Segundo Pagno, os benefícios são inúmeros para a comunidade, não se resumindo à economia: “Tu tens uma propriedade mais cuidada, mais organizada e também melhora a autoestima. Nós recebemos pessoas e elas nos parabenizaram por coisas simples, que para nós são normais, do dia a dia”. E ao que tudo indica, esses hábitos se perpetuarão para as demais gerações: o sobrinho Vitório, de 6 anos, já arranha o dialeto e é incentivado todos os dias a cultivar o amor pelo trabalho na colônia. 
Por falar em futuro, Pagno compartilha seu sonho para os próximos anos do turismo na região. “O de crescer, de realmente consolidar. Que a pessoa que more em Caxias ou sei lá onde, acorde e diga: “hoje eu vou lá na Família Pagno, na Colônia Muraro, no Joel Bolzan”. Crescer e agregar mais famílias sempre foi uma ideia do grupo para que a gente se consolide cada vez mais”, projeta o empreendedor.

As propriedades do roteiro
Adega Mascarello
Cultiva a tradição da família na fabricação de uma linha de vinhos, sucos e espumantes de uvas produzidas em vinhedos próprios. Atende o público para visitação e degustação.
Casa do Cogumelo
Propriedade rural de Joel Bolzan e família. O diferencial fica por conta do cultivo de cogumelos para comercialização. O espaço está sendo preparado para a visitação.
Casa Gilioli
O amor à terra e o cultivo da videira herdados da família na produção de vinhos, espumantes e sucos. Na propriedade, serve-se cardápio típico em ambiente temático, sob agendamento.
Colônia Muraro
Aconchegante propriedade no conjunto da paisagem rural de Flores da Cunha. Visitantes podem participar do dia a dia da colônia e adquirir produtos feitos no local.
Famiglia Veadrigo
Na vinícola, é possível acompanhar o processo de elaboração dos vinhos e ter contato com os vinhedos. O restaurante serve farta gastronomia típica italiana.
Família Pagno
Turistas podem usufruir de passeio de carretão e café colonial em um local cercado de vinhedos, bosques, igrejas e muitas histórias. Além da viticultura, cultiva a criação de animais.
 

Ricardo Pagno é incentivador do turismo e recebe de portas abertas todos os visitantes para acompanhar as rotinas da colônia.  - Gabriela Fiorio
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