Comunidades e Bairros: Por uma Lagoa cada vez mais bela
Moradores do bairro comemoram conquistas e reivindicam novas obras para seguir crescendo
“Quando as pessoas perguntavam onde nós morávamos, a gente respondia bem baixinho: Lagoa Bela. Hoje, já estufamos o peito e falamos bem alto para todo mundo ouvir”, afirma Roseli Romitti, 48 anos, cheia de orgulho da terra onde vive há quase três décadas e meia. Muita coisa mudou nesses 34 anos: a comunidade, que se baseava na atividade agrícola e nas olarias, tem hoje infraestrutura que atrai cada vez mais famílias e empresas.
A percepção do irmão Clairton Romitti, 41 anos, é que Lagoa Bela já deixou de ser um bairro de interior: “O investimento feito pela prefeitura encurtou a distância do Centro, em cinco minutos estamos lá. Temos bastante trabalho, condições de viver e conviver melhor aqui. Somos a ligação com outras cidades e bairros e temos uma grande extensão de terra, com ainda muito a explorar”, justifica, citando o asfalto até o entroncamento da ERS-122, entregue em 2018, como um grande avanço.
Mas o crescimento do bairro foi forjado principalmente pela união da comunidade. A construção do atual salão comunitário, inaugurado há mais de uma década, foi um exemplo disso. O antigo estava fechado devido aos constantes roubos e a invasão de moscas, que inviabilizavam as reuniões e denegriam a imagem do local. “Um dia conversando, questionamos: vamos deixar assim? Vamos deixar a comunidade morrer?”, conta Roseli.
O renascimento começou ainda no salão antigo, onde pequenos eventos voltaram a ser realizados, com pratos e talheres descartáveis, já que os jogos antigos haviam sido roubados. Com o passar do tempo, os utensílios eram buscados de casa em casa para a realização das festas, que aconteciam em salões de outras comunidades. “Um dia, conseguimos reunir 200 pessoas. Os homens começaram a se engajar de novo, criamos força. Aí nós vimos que dava para fazer. Foi quando começou a ideia de construir o salão novo”, ela relembra.
Assim, só com “a cara e a coragem” e mão de obra voluntária, a população ergueu o salão e criou um cemitério ao lado, o único 100% regularizado do município. Hoje, o sonho é a construção de uma nova igreja, já que a construída em 1939, pequena e de maneira, se encontra condenada pela idade, depois de ter sofrido com depredações. “O projeto existe, nós já estávamos fazendo eventos, jantas, para arrecadar os fundos. Aí parou tudo”, diz Roseli.
A pandemia não só impediu a continuidade das obras, mas também dificultou os encontros – hoje, as missas são rezadas no salão – e arrefeceu o entusiasmo da comunidade. “Nós estávamos bem animados, mas se sente agora que está difícil. Aos poucos está voltando, mas ainda não está no normal da missa. Esperamos que com tudo isso a fé de todos seja renovada”, ela projeta, revelando que outro anseio é o de revitalizar a igreja antiga.
Muitas vezes à frente desses projetos, os irmãos herdaram dos pais o gosto por ajudar o próximo – juntos, eles comandam um bar e um restaurante nascidos justamente com esse intuito. “A comida surgiu com a nossa mãe Tereza, uma baita cozinheira. Ela começou a servir o almoço para os trabalhadores das granjas e olarias que ficavam sujos, sem condições de buscar um almoço no Centro. Eles pediam para a mãe fazer e ela nunca foi de negar nada, sempre com o intuito de fazer o bem”, revela Clairton.
O famoso Bar do Romitti, em Lagoa Bela, também tem uma história parecida. Com o salão fechado por causa dos roubos, a comunidade não tinha onde se reunir nos finais de semana. O pai Hilário achava longe ir até o Centro para beber, então comprava uma garrafa de cachaça e dividia com os vizinhos – logo, uma só ficou pouco e passou a ser duas, três. “Eles sugeriram para o pai comprar e vender. Depois passaram a pedir cigarro, bala para as crianças, um saco de arroz. Começou assim, aos pouquinhos”, lembra a filha.
Na união e na ajuda dos moradores, se formou o progresso do bairro, muitas vezes à revelia dos governos. “Não se tinha olhos para a comunidade, ninguém queria fazer investimentos pensando que era um lugar longe, inadequado”, diz Clairton, ao lembrar as inundações que eram frequentes na comunidade, completando: “Hoje, estamos crescendo em uma proporção fora do comum. Eu vejo a comunidade como uma criança pobre, cheia de sonhos e com grande vontade de se desenvolver, porém com um longo caminho pela frente”.
Nesse caminho, os moradores esperam a ajuda do governo para melhorias como a praça e a academia ao ar livre, ainda inexistentes na localidade, e a pavimentação do loteamento do bairro. Mas a principal reivindicação é o trevo de acesso, que costuma provocar acidentes em uma região cada vez mais movimentada: “Eu vejo como uma roleta russa, é muito perigoso. Tem que sair da ERS para entrar no acesso, ninguém sabe para onde ir ali”, comenta o irmão.
Elevada à condição de bairro em 2017, a comunidade conhecida como Nossa Senhora do Bom Conselho intitulou-se Lagoa Bela por origem incerta: uns lembram as inundações, outros citam uma grande lagoa que havia no terreno da família Falavigna. De certo mesmo, só o desejo da comunidade de que o nome seja o prenúncio de um local cada vez mais belo para moradores e visitantes.
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