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Comunidades e Bairros: Ligação estreita com a comunidade

Propriedade de Santo Andreazza foi sede da central telefônica da Linha 60

“Na cidade, é bom. Mas o que eu vou fazer lá? Com o que vou trabalhar? Aqui eu venho para colônia, tenho parreiral, uvas, faço o vinho. Se eu trabalho, eu passo o tempo. Mas na cidade eu vou fazer o que?”. É assim que Santo Andreazza, um dos mais icônicos moradores da Linha 60, explica o seu desejo de permanecer na comunidade onde vive desde pequeno, que viu crescer e, muitas vezes, foi parte decisiva nesse crescimento.
Tudo com muito amor e do jeito certo, lição ensinada pelo avô, Antônio Andreazza, ainda quando era criança, em meio à colheita da uva: “Ele me dizia assim: “quer fazer coisa boa?, faz com ela madura que não tem coisa melhor”. Foi assim que eu aprendi. Se é verde, fica um gosto amargo. Com o vinho, a mesma coisa”, revela Santo. 
Do avô, ele também lembra as histórias que ouvia quando criança – dentre elas, a do mágico e do galo, da qual seu Antônio foi testemunha ocular. “É verdade porque meu avô contava isso, também estava lá. Ele queria surrar o mágico. Naquela época, se alguém de fora vinha de Flores da Cunha e falava da terra do galo, era uma briga só. Não tinha solução”, recorda o neto.
Na infância, tudo era diferente, segundo ele. A começar pela escola, que ficava em cima do rio, bem na frente do atual poço artesiano. “Estudei meu primeiro ano lá. Tinha as frestas no assoalho e o rio corria embaixo”, conta Andreazza, também aluno de Dona Diva Bedin no colégio que ficava dentro de um casarão, que depois deu lugar à escola próxima ao salão e a igreja da comunidade. 
Com 16 anos, Santo também acompanhou de perto as negociações para desapropriar o terreno que serviria de sede para o salão e para o campo, que foi bancado pelos próprios moradores. “A prefeitura queria pagar, mas não tinha dinheiro na época. Então, a comunidade pagou. Tiramos dinheiro do bolso para construir o salão. O maior salão de comunidade do interior foi aqui”, revela o agricultor, sobre o evento ocorrido na metade da década de 70. Ele também lembra que o primeiro salão, construído em 1955, foi um pioneiro no interior.
Mas o progresso com o qual Santo esteve mais diretamente ligado foi o da telefonia, que teve a central instalada em sua casa, durante a gestão do prefeito Ângelo Araldi. “Meu primo veio aqui em casa perguntar se eu queria o telefone. Claro que eu quis, naquela época não tinha. Falamos com o prefeito, fizemos um contrato, dividimos igualmente entre todos. Depois precisava uma central, que ninguém queria porque não tinha dinheiro. Aí colocamos aqui”, conta.
Nas gestões seguintes, a central foi gradativamente ampliada, mas durante muito tempo, para falar via telefone com alguém da Linha 60, tinha que se ligar primeiro para Santo Andreazza e ser encaminhado pela atendente Roberta. “A telefonia rural aqui em casa foi uma das primeiras. Foi um avanço, quando chegou o telefone nós tínhamos tudo. A comunidade estava por cima”, afirma Andreazza, orgulhoso de ter contribuído para o desenvolvimento do local.
Segundo ele, várias pessoas de fora param na Linha 60 para elogiar a beleza do lugar. Um desenvolvimento, desde o início dos tempos, atribuído à localização: “Aqui era a via principal de Vacaria a Caxias, muitos carreteiros passavam por aqui. Tinha a sala de comércio e uma ferraria. Ainda me lembro de antigamente ir lá, com uns 13 anos, olhar os ferros das carroças, dos cavalos”, relembra.
Nos últimos tempos, a região atraiu metalúrgicas, que cada vez mais competem em número com as vinícolas. “Nós ficamos no meio das cidades de Caxias do Sul e Flores da Cunha, o que é positivo e fez com que a região se desenvolvesse muito. A comunidade da Linha 60 é diferenciada por causa dessa ligação próxima com Caxias”, encerra Santo.

Santo Andreazza guarda até hoje placa de inauguração da central telefônica.  - Gabriela Fiorio
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