Como está a barragem do Rio das Antas?
Depois da tragédia em Brumadinho, entenda como são avaliadas as condições físicas da Usina Hidrelétrica Castro Alves, em Nova Pádua
As tragédias fazem com que voltemos o olhar com mais atenção para algumas situações. Após a ruptura da barragem em Brumadinho, no Estado de Minas Gerais – que deixou mais de 150 vítimas e quase 180 corpos ainda desaparecidos –, a reportagem do Jornal O Florense foi em busca de informações de como estão as condições da estrutura de represamento – a barragem, da Usina Hidrelétrica Castro Alves, junto ao Rio das Antas, na divisa dos municípios de Nova Pádua e Nova Roma do Sul.
Diferente de uma barragem de rejeitos como a que se rompeu no Sudeste, que tem um dique formado por materiais argilosos ou rochas compactadas para armazenar resíduos de mineração, as barragens de hidrelétricas são feitas de concreto e aço e têm como função represar e estocar água, matéria-prima para a produção de energia. Em Nova Pádua, a estrutura da barragem é de concreto convencional e compactado, e “encontram-se em total conformidade com a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB)”, conforme nota divulgada pela Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), responsável pela operação e manutenção da usina. Ainda de acordo com a empresa, a PNSB é quem determina o monitoramento e a avaliação das condições das barragens e estruturas civis associadas aos seus empreendimentos, inclusive com acompanhamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
Segundo a empresa, as barragens e demais estruturas civis das hidrelétricas da Ceran foram construídas dentro de modernas técnicas de engenharia e estão em plena condição de operar com segurança, não havendo qualquer anormalidade que comprometa a integridade e a funcionalidade das usinas. “Estas estruturas são constantemente monitoradas por mais de 100 instrumentos implantados desde a construção da obra, e projetados para identificar qualquer mudança de comportamento. As informações são permanentemente registradas em relatórios de inspeção e uma equipe da engenharia avalia rotineiramente os dados obtidos, emitindo posteriormente relatórios de comportamento. Essas ações permitem que os engenheiros responsáveis tomem decisões de forma preventiva, eficiente e segura”, afirma a Companhia, que ressalta que a integridade dos equipamentos das usinas é garantida por um sistema automatizado de supervisão e controle, acompanhado por operadores 24 horas por dia. Esse sistema detecta qualquer anormalidade e sinaliza para que a equipe técnica possa intervir de forma imediata.
Caso a barragem viesse a se romper, a Ceran destaca que o trecho é o menos antropizado – área cujas características originais foram alteradas –, do Complexo Energético Rio das Antas, por se tratar da porção onde o vale é mais encaixado e as encostas mais declivosas. Isso quer dizer que quase inexiste comunidades e residências inseridas na zona de transição do reservatório e, por este motivo, também há poucas estradas no local – apenas a via que, com a balsa, leva ao município de Nova Roma.
A Castro Alves é composta por três unidades geradoras (turbinas), e a usina tem uma estrutura de represamento e uma casa de força, onde a energia potencial hidráulica é transformada em energia elétrica. O Jornal O Florense tentou contato com engenheiros ou com a diretoria da Ceran, que informou se manifestar apenas por meio de notas oficiais.
Principais volumes da usina
Escavação comum: 284.423 m³
Escavação em rocha a céu aberto: 296.922 m³
Escavação em rocha subterrânea: 761.316 m³
Concreto convencional: 98.818 m³
Concreto compactado a rolo: 198.024 m³
Aço: 5.012 toneladas
Dez anos de geração de energia
Localizada no Rio das Antas, a usina tem capacidade de geração de 130MW (megawatts) de energia elétrica. A barragem, com mais de 45 metros de altura, começou a ser construída em agosto de 2003 e foi concluída no final de 2007. A área alagada é de cinco quilômetros quadrados, a qual iniciou o represamento em janeiro de 2008, e durou em torno de 15 dias. As unidades geradoras começaram a operar em março de 2008. Na época de sua construção, atuaram mais de 1,8 mil trabalhadores.
Margeado à direita pelos municípios de Nova Roma do Sul e Antônio Prado e, à esquerda por Nova Pádua e Flores da Cunha, a unidade integra o Complexo Energético Rio das Antas, formado ainda pelas usinas Monte Claro (entre Bento Gonçalves e Veranópolis) e 14 de Julho (entre Cotiporã e Bento Gonçalves), com potência máxima de 360 megawatts, quantidade suficiente para atender uma cidade com cerca de 600 mil habitantes, conforme dados da Ceran. O reservatório formado pelos três empreendimentos abrange uma área com aproximadamente 12,4 quilômetros quadrados, ocupando parcialmente terras das cidades de Antônio Prado, Bento Gonçalves, Cotiporã, Flores da Cunha, Nova Pádua, Nova Roma do Sul, Pinto Bandeira e Veranópolis.
Rotina 24 horas no rio
Durante cerca de quatro minutos você pode apreciar as belezas naturais do Rio das Antas de um ângulo diferente. É o tempo de atravessar o curso de água pela balsa. Um trabalho árduo e manual que a família de Lúcia Criguer Sartori, 62 anos, moradora de Nova Roma do Sul, faz há pelo menos 35 anos. No início, apenas Lúcia e o esposo, já falecido, comandavam a balsa. Após a morte do patriarca, há 15 anos, a família resolveu dar continuidade ao trabalho. Hoje, além de Lúcia, se revazam para o trabalho de transportar veículos de uma margem a outra seu filho, Luciano Sartori, 36 anos, e o genro, Jairo Anghinoni, 48 anos.
O trabalho, que é 24 horas, de segunda a segunda, é alternado ainda com a família Grifante, também de Nova Roma do Sul – a responsabilidade da balsa é de sete dias para cada uma.
“É um trabalho árduo e cansativo. Ficamos 24 horas trabalhando embaixo de sol ou chuva. Já conhecemos bem o rio, mas sempre dá um pouco de medo”, conta a operadora da balsa, que afirma que nos dias de folga o trabalho não para. “Temos outras atividades quando não estamos aqui. Eu trabalho na viticultura, meu cunhado cuida de cavalos e minha sogra mantém os afazeres da casa”, complementa Jairo.
O valor para fazer a travessia de balsa varia conforme o veículo – de R$ 3,75 para bicicletas a R$ 11,25 para caminhões –, mas também pelo horário. À noite chega a R$ 12,50. Todo o valor arrecadado fica com as famílias. “Têm períodos em que o rio sobe muito e, por segurança, precisamos interditar a balsa. Por isso também necessitamos de outras fontes de renda”, admite Anghinoni.
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