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Comércio vazio, ruas nem tanto

Comerciantes observam que o fluxo de pessoas segue igual mesmo com as lojas fechadas

Injustiça. É assim que o comércio do município enxerga as medidas adotadas com o novo decreto estadual que restringem a atuação do setor. “A indústria está trabalhando, a construção civil está trabalhando, muitos serviços estão trabalhando. A lotérica está aberta, os bancos trabalham com agendamento, por que isso não pode ser replicado, colocado como uma possibilidade para o comércio?”, pergunta o diretor-executivo da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Flores da Cunha, Josué Valandro. 
Por isso, na tarde de terça-feira, dia 3, a entidade se reuniu com o prefeito César Ulian e solicitou algumas medidas de flexibilização para a abertura de estabelecimentos não-essenciais. “O ideal seria o comércio poder trabalhar de portas abertas, controlando a entrada e a saída de clientes. Mas se isso não for possível, que pelo menos existam mecanismos para vender. Há alternativas como a tele-entrega, o pague e leve, o teleatendimento. São formas de dar a possibilidade de continuarmos respirando mesmo com a ajuda de aparelhos”, diz Valandro.
Durante o encontro, a prefeitura sinalizou o envio de uma solicitação ao governo do Estado para a retomada do sistema de cogestão, em conjunto com a Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), que possibilitaria aos prefeitos ter mais autonomia na hora de liberar ou não as atividades. 
A CDL entende que o formato atual não resolve o problema da disseminação do vírus e ele pode ser muito prejudicial à economia do município: “É o pior momento, se isso tivesse acontecido no final do mês, menos mal, mas no início foi bem complicado, época de recebimento e de vendas”, comenta o diretor-executivo.
Para a comerciante Munique Zorzi Bertin, da Dani Calçados, a situação é de extrema importância. “Temos consciência do cenário da Covid-19, mas dependemos das vendas do dia a dia para sobreviver e pagar as nossas despesas, como aluguel, água, luz, funcionários, além dos fornecedores. O nosso setor já vem sofrendo com a redução drástica no movimento desde o início da pandemia, e o fechamento do comércio irá atingir não somente a nós, mas também os essenciais, é o efeito cascata”, relata. 
O comércio varejista não essencial tem, durante a bandeira preta, a disponibilidade de realizar tele-entrega das mercadorias, o que ameniza um pouco os prejuízos. “Nossa cidade ainda não tem o costume de comprar por rede social, e como não é permitida o pegue e leve na porta, dificulta ainda mais. O medo e a preocupação também fazem com que o pessoal não queira consumir, não sabem se no dia de amanhã terão ainda seus empregos”, relata. 
Para Munique, o fechamento não é a melhor solução para o momento, pois está sendo sacrificado um dos setores que mais cumpriu com todas as medidas e cuidados. “Fica difícil ter esperança para o nosso setor, que é sempre o primeiro prejudicado enquanto o afrouxamento das medidas de distanciamento é o grande vilão. O comércio não é culpado”. 
E outros empreendedores veem da mesma forma. Muitos deles relatam que estão fechados, mas o movimento nas ruas continua o mesmo. “Com tudo fechado, as pessoas seguem saindo, basta olhar os arredores, a Praça. É uma questão de consciência. Tudo poderia estar aberto, mas que as pessoas saíssem só quando realmente precisarem. Se é pra diminuir o fluxo nas ruas, não sei se fechar o comércio gera isso”, diz a gerente da Ótica e Joalheria Farroupilha, Daiane Bueno.
Aberta por ser uma atividade essencial – a venda de óculos de grau –, a loja recebe a visita de clientes à procura de outros produtos, o que, segundo Daiane, não é justo com comerciantes que estão fechados. Desde o início da pandemia, o movimento caiu bastante, houve diminuição no faturamento e redução na carga horária dos funcionários, que hoje trabalham em revezamento. “Afetou principalmente os valores. As pessoas que continuaram gastando são aquelas que têm mais condição. Não há grandes compras. Essa medida atinge apenas o faturamento, porque as pessoas continuam circulando”, comenta Daiane.
 

 - Valdinéia Tosetto
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