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Colono e Motorista: Os desafios diários da agricultura familiar

Há quase duas décadas a professora Luciane Lorenzet Toscan se dedica a agricultura

Há quase duas décadas, a professora Luciane Lorenzet Toscan, de 42 anos, trocou o amor pelos livros e cadernos por outra paixão: a agricultura. Natural de Otávio Rocha, a florense trabalhou por cerca de 14 anos na área urbana, mas, em 2003, após casar-se, mudou para o Travessão Cerro Largo, em Nova Pádua, onde passou a se dedicar à produção nos 6 hectares de uva, um de cebola e também em uma área de ameixa. 
Hoje ela é agricultora, profissão que se orgulha em exercer ao lado do marido, Ivanor Toscan. “Eu trato parreira, uso roçadeira, motosserra e não me aperto, a única coisa que eu não sei fazer, ainda, mas vou aprender, é o enxerto de parreira. De resto eu faço igual ao meu marido, eu acompanho ele em tudo”, comemora Luciane, explicando que se divide entre as atividades domésticas e o trabalho na colônia, mas que adora essa rotina e sente-se desafiada diariamente. 
“Parte da minha infância eu também morei na colônia, junto com meus pais, mas depois, com as dificuldades – já que naquela época não tinha ônibus, nem transporte para ir à escola – optei por vir para a cidade estudar. Porém, hoje eu não voltaria para a cidade, porque o trabalho na colônia é mais desgastante na parte física, se trabalha mais com o corpo e os braços, mas a tua cabeça, quando chega em casa de noite, tu deita no travesseiro e dorme tranquilo”, revela a florense, complementando que, muitas vezes, as pessoas que trabalham em uma empresa não têm essa liberdade, uma vez que voltam para a residência pensando em formas de resolver os problemas que encontrarão no dia seguinte. 
A associada ao STR, desde 2003, acredita que o papel feminino na colônia vem ganhando cada vez mais espaço no decorrer dos anos e concorda com a premissa que menciona que lugar de mulher é onde ela quiser. “Eu posso dizer que sem a mulher a luta é pela metade. Porque ela sempre está do lado do marido, ou na frente. Às vezes ela também está atrás, mas não por ser menos, e sim para dar um empurrão. Então é de extrema importância a participação da mulher”, frisa a produtora. 
Luciane também relata acerca da idade das pessoas que ajudam nas tarefas diárias no interior. Conforme ela, para as mulheres que tem um pouco mais de idade, o trabalho dificulta, porque, ao longo do tempo, não vai mais conseguindo desenvolver todas as atividades: “Eu tenho disponibilidade de ajudar porque estou em uma idade que ainda consigo fazer isso, mas, acho que vai de cada um, porque pode fazer aquilo que quiser e consegue, não é porque é mulher que é menos, é inferior, só que depende muito da pessoa querer isso”.
No entanto, algo que não depende apenas do desejo das pessoas e que é apontado como um dos principais problemas para quem vive da agricultura, são os valores dos produtos e adubos. De acordo com ela, os preços dos insumos triplicaram, mas, o valor final das frutas não aumentou: “A gente não está conseguindo ter aquela sobra financeira para manter o patrimônio, as contas. Eu acho que esse é o grande problema, porque eu vejo nos jovens que eles querem, talvez, uma coisa melhor, e hoje, na colônia e na agricultura familiar está um pouco difícil essa parte. Temos que diversificar a produção, não se pode mais viver de um único produto, porque, dependendo da cultura, não conseguimos nos manter apenas com ela”, alerta a produtora, que vê sua atual profissão como de extrema necessidade para o desenvolvimento das pessoas e países. 
“A agricultura é de fundamental importância, porque se hoje chega uma mesa com alimento na casa das pessoas, é por causa da agricultura familiar. Se ela parar será um grande problema, então ela tem que continuar. É importante e nós devemos continuar trabalhando, porque é a gente que alimenta muitas pessoas. Vejo com extrema importância o trabalho dos agricultores e digo para que nunca desistam, sabemos que existem inúmeras dificuldades, mas, tendo saúde, a gente consegue resolver”, prospecta Luciane, otimista.

Luciane Lorenzet Toscan defende que o espaço da mulher agricultora é conquistado dia pós dia, por ela mesma.  - Karine Bergozza
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