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Colono e Motorista: Apicultura x agricultura: uma precisa da outra

Há três gerações, família Tormen se dedica à criação de abelhas

Você já parou para pensar no que aconteceria se as abelhas simplesmente desaparecessem? A extinção desse pequeno inseto provavelmente afetaria todo o equilíbrio do planeta. Elas são essenciais para a manutenção da biodiversidade, a produção de alimentos e a vida humana, assumindo grande importância na manutenção da vida no planeta. 
A principal função executada pelas abelhas é a polinização. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), elas são responsáveis por 73% da polinização das plantas cultivadas. Através desse serviço ambiental, elas atuam na regeneração das florestas e da biodiversidade, tendo ainda importância fundamental na alimentação humana e proporcionando a existência de muitos alimentos presentes em nosso cotidiano.
E esses bens preciosos, que são as abelhas, têm um companheiro fiel aqui em Flores da Cunha: Eitor José Tormen, de 65 anos. “Desde o tempo do meu avô, sempre lidamos com abelhas. Depois meu pai e agora eu. E até que eu tiver forças vou continuar”, enaltece o apicultor, que relata ser uma terapia ficar cuidando dos insetos. “Tem que ter boa vontade e amor, gostar do que tu faz, se não, não adianta nem começar. Tem que ter cuidado, porque a abelha é um inseto, ela é inofensiva se você souber respeitar o espaço dela. Agora, você agredindo o espaço dela, ela se torna também agressiva”, revela sobre como lidar com as colmeias.
Eitor, que há 50 anos lida com as abelhas, sabe direitinho a rotina delas e declara ser uma comunidade bastante organizada. “O horário da abelha, para lidar com ela, é das 10h às 16h, porque às 10h a temperatura começa a aumentar. A abelha é um inseto que gosta de calor e, tendo calor, dias bonitos e com sol, ela vai sair em campo, vai trabalhar. Então se torna muito mais fácil lidar com a colmeia, porque as mais agressivas são as operárias, e elas estão no campo”, explica, declarando que o mel é elaborado no verão. “No verão geralmente a florada é mais abundante do que no inverno e para ter mel, colher mel, precisa ter flor de néctar e no inverno é mais escasso. Então, no inverno o enxame se reduz, a abelha vive mais porque ela vai trabalhar menos, e é na primavera quando começa a melhor florada. A florada que mais néctar tem, pois o enxame se renova”, informa o apicultor, afirmando que no inverno a abelha operária dura em torno de 3 a 4 meses e, no verão, de 28 a 32 dias. Já a rainha, de 2 a 4 anos. 
“Quem procria é a rainha, as outras são operárias e guardiãs. Se a rainha for embora, todas vão. A rainha, se for bem cuidada, não abandona a colmeia, só se for maltratada – se não trocar a cera, se não limpar a caixa, e, no inverno, quando for escasso de alimento, às vezes tem que alimentar elas. Daí ela nunca vai te abandonar”, diz Tormen, que atualmente tem em torno de 50 caixas de abelhas.
Sobre o passado, Tormen relembra o primeiro enxame: “Nós sentávamos do lado da caixa da colmeia, matávamos os zangões a dedo, porque o zangão só come mel, ele precisa pra fertilizar a rainha, mas ele só tem essa finalidade, depois, o resto, é só comilão. E quando tinha bastante na colmeia nós sentávamos no lado e matávamos”, conta, aos risos. Hoje, todo equipado, com roupa, luvas e botas, ele trata as abelhas como se fossem da família. “É uma atividade que eu gosto, eu me sinto bem quando eu estou mexendo com elas e o mel é uma consequência do que tu está fazendo. Eu estou fazendo a minha parte para preservar a nossa natureza e até que conseguir vamos tocar esse barco”, enaltece o apicultor, que colhe em torno de 500 a 600kg de mel e, muitas vezes, doa para entidades e lares de idosos, além de tirar uma renda extra.
Emocionado ao falar de sua paixão pelas abelhas, Eitor vê semelhanças da apicultura com a agricultura. “Tem que se dedicar e a natureza, o tempo, a chuva, atrapalham as abelhas também. No inverno, como esses tempos atrás, úmido, começa a proliferar doença, dá mais mortalidade, porque vai começar a desenvolver fungos. E para uma boa produção de mel é como qualquer outra cultura, se a primavera for boa, bem estabilizada, pouca chuva, é como a florada da parreira, pouca chuva, seco, tu produz mel, se não tu não produz. Apicultura é como qualquer outra atividade da agricultura, porque se a natureza, o tempo, não trabalhar direito, tu não vai produzir mel. O ano passado, a primeira florada foi perdida, porque a primavera foi chuvosa, daí depois a segunda deu melhor”, explica ele, que informa que cada ano são duas colheitas de mel: “Uma vez tinha data mais certa, meados de novembro tu colhia, agora não, mudou por causa dos defensivos, as abelhas são mais fracas e mudou todo o ciclo delas. Isso acontece porque uns fazem mal-uso dos defensivos. Se os agrotóxicos fossem usados de acordo como deveriam, teríamos menos mortalidade. Prejudica a abelha e prejudica um todo, porque não vai haver mais a polinização”.
Conforme o apicultor, as abelhas se adaptam a qualquer ambiente, sempre posicionando as caixas em lugares que seja mais seco, livre do vento sul e frente sempre norte. E para mexer nelas, um passo a passo: “Tu vai com calma, faz uma fumacinha, daí elas comem um pouco de mel, enchem o abdômen, aí elas não conseguem mais dobrar o corpo para picar”, revela Tormen, que declara que a apicultura e a lavoura devem ser irmãs e nunca devem ser separadas, pois uma depende da outra. “Agricultura depende da abelha e a abelha depende da agricultura”, finaliza.

Há mais de 50 anos, Eitor Tormen lida com abelhas, atividade que foi passada de geração para geração.  - Karine Bergozza Tormen possui aproximadamente 50 caixas de abelhas.  - Karine Bergozza
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