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Clima perfeito para a uva

Produtores estão ansiosos com o início da safra que, devido ao tempo seco, promete ser de qualidade

Está chegando a hora da colheita na maior produtora de uva e vinhos do Brasil. Os cachos ainda preenchem de roxo e verde os parreirais, mas em pouco tempo estarão colorindo a mesa de muitas pessoas, prontos para serem degustados na forma de fruta ou bebida. Enquanto esse dia não chega, os produtores olham para o céu, pedindo para que o tempo colabore e a nova safra seja tão boa quanto a do ano passado, conhecida como “A Safra das Safras”.
Em todo o mês de janeiro, há 70 anos, essa expectativa toma conta da propriedade de Joel Caldart, no Travessão Martins – antes dele, passaram por isso o pai e o avô. Na última fase de tratamento das parreiras, Joel aguarda com ansiedade o momento da colheita, que deve começar no fim de janeiro. “Na safra de uva, cada ano é um ano. Tudo depende do clima, do tempo. Esperamos que ele colabore e dê tudo certo”, torce o produtor.
Nem sempre o tempo colaborou. Em 2018, devido a uma forte chuva de granizo, a família perdeu 98% de sua produção. Com as parreiras ainda em recuperação, no ano passado, todo o trabalho árduo rendeu apenas meia safra, salva pela qualidade dos produtos. Mas a desse ano tem tudo para retomar a quantidade média da produção na propriedade de 4,5 hectares, onde são cultivadas as variedades Bordô, Niágara Branca e Isabel. A temperatura observada nas últimas semanas – calor de dia, frio à noite – faz Joel prever uma colheita de até 120 toneladas. 
Esse clima, que lembra o europeu, também favorece a qualidade dos produtos, fornecendo a eles mais cor e açúcar. “Agora, é importante que não chova quando formos colher, a uva tem que estar seca para ser de qualidade”, explica Joel.
Por isso, a previsão do tempo para as próximas semanas, sem grandes períodos de chuva, anima o produtor para o tão esperado momento da colheita. “O coração está mais tranquilo. Este ano está bem melhor. Se o tempo colaborar, temos tudo para ter um bom início de safra”, diz o produtor, esperançoso. 
 

Contratempos

A caminhada até aqui, no entanto, teve percalços. Quem faz a retrospectiva é o vice-presidente da Cooperativa Nova Aliança, Joel Panizzon. Agosto, época em que começa a poda, colaborou com a quantidade certa de chuvas. No entanto, quando as parreiras haviam brotado, setembro trouxe uma geada tardia, provando que 2020 não iria poupar nem os produtores de uva.
A partir de outubro, veio a seca e, em novembro, agricultores de comunidades como Carmo, São Vítor e Serra Negra sofreram com a chuva de granizo. “Em dezembro, a cada nuvem que vinha, nós tremíamos um pouquinho, estávamos perdendo as esperanças. Mas as últimas temperaturas ajudaram, voltou a fazer safra cheia e a expectativa é boa”, comenta Panizzon.
A Cooperativa, que conta com 550 famílias, espera colher cerca de 40 milhões de quilos de uva, 10% a mais do que na safra passada. “Seria um sonho que a qualidade continuasse como a do ano passado. Pelo que vemos, tem tudo para ser de qualidade. Estamos na expectativa, que venha a uva de vez”, brinca o produtor.

Novas tecnologias

A secretária de Agricultura e Abastecimento, Fabiane Veadrigo, observa que o tempo seco colabora para o aparecimento de menos doenças e a qualidade das uvas. “A expectativa é de uma safra mais ou menos parecida com a do ano passado em termos de quantidade e muito boa em qualidade”, projeta a secretária.
Sobre a seca, Fabiane conta que ela aumentou a procura dos produtores pela Secretaria para a abertura de novos açudes. Durante a pandemia, vários agricultores tiveram sua produção dificultada pela escassez de produtos para a irrigação, como canos e tubos de esgotamento, gerando uma corrida grande por novas tecnologias.
“Esse ano acendeu uma luz vermelha, estão todos preocupados com essa questão da água. Nós instruímos o produtor sobre tudo que é necessário para a abertura e, com os licenciamentos corretos, a prefeitura pode auxiliar com horas subsidiadas para a construção. Mas é preciso planejar com antecedência, não dá para encher um reservatório em tempos de seca”, aconselha Fabiane. 
Segundo o engenheiro agrônomo da Emater-RS, Raul Dalfolo, sistemas de irrigação já não são mais uma questão de luxo, mas de sobrevivência. Mais do que o tempo, que promete ser bom, ele projeta na mão de obra uma das principais dificuldades para o momento da colheita: “É uma grande preocupação. Além do alojamento para os que vêm de fora, a questão da higiene será complicada. E já há rumores que o preço da mão de obra vai aumentar devido à pandemia, o pessoal não quer se expor. Mas, no geral, está tudo tranquilo”. 

Joel Caldart possui 4,5 hectares de uva e pretende colher 120 toneladas da fruta. - Pedro Henrique dos Santos
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