Clima de abandono
Situação de calçadas, meios-fios e terrenos baldios se agrava durante a pandemia
Nos últimos meses, o número de reclamações quanto à limpeza das ruas do município aumentou. Em vários pontos da cidade, é possível notar o mato se proliferando em calçadas e ultrapassando os meios-fios. A princípio sem relação nenhuma com o vírus, a situação é uma prova de como a pandemia impacta a oferta de outros serviços públicos para além da saúde.
Outra situação cada vez mais evidente é o descaso com terrenos baldios, que não recebem a atenção devida dos proprietários e, entre outros problemas, dificultam a visibilidade das ruas e se tornam habitat ideal para todo o tipo de bicho. Essa é uma situação ainda mais antiga, que incomoda principalmente moradores de bairros distantes do centro da cidade.
No Loteamento Residencial Sonda, o problema já dura seis anos. Desde que mora ali, a recepcionista Letícia Maria Ditadini jamais viu alguns dos terrenos de sua rua serem roçados, produzindo um mato que hoje compete em altura com as placas de trânsito. “Nós vivemos assim, à deriva. Ninguém vem roçar, já colocaram até fogo. E aí junta uma série de bichos: cobras, ratos bem grandes, nós estamos bem indignados”, conta Letícia.
Uma das principais preocupações é um terreno que acumula, além de mato, bastante água. Nesse banhado, moradores do bairro relatam o medo de que ali possa se desenvolver larvas do mosquito da dengue. Para evitar que isso aconteça, o motorista Gustavo Pan Zuanazzi e a auxiliar administrativa Simone Forcelini, casal vizinho do terreno, pagaram a limpeza dele do próprio bolso por duas vezes – atitude jamais tomada pelo proprietário.
“Tenho uma filha de cinco anos. Semana passada, esqueci de ligar o aparelho para os mosquitos no quarto dela. Mesmo que a nossa casa passe o dia inteiro fechada, porque trabalhamos fora, é impossível dormir com tantos mosquitos. No dia seguinte, ela tinha umas 20 picadas por todo o corpo. É um absurdo. Moramos na cidade e parece que é no interior”, conta Simone.
Na rua abaixo, também há sérios problemas por conta do mato acumulado, que já invade as bocas de lobo. Em outubro de 2018, moradores tiveram seus sobrados alagados pela falta de escoamento. “Era meia noite, meu esposo e o nosso vizinho foram abrir os bueiros, embaixo de chuva, porque estavam todos sujos. Alagou tudo, tivemos um prejuízo grande, perdemos bastante material, máquinas, coisas que a gente vendia”, relata a moradora Rosi Baggio.
Ela também chama a atenção para a dificuldade de visualizar as ruas pelo tamanho do mato acumulado em terrenos baldios. “Está ficando tão alto, tão feio, que está difícil para atravessar. Eu mesma já escapei por pouco de dois acidentes, porque tu tens que ir no meio da rua para enxergar se vem alguém do outro lado. É muito mato”, conta Rosi.
Dificuldades da pandemia
A demanda já chegou às mãos da secretária de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito, Rosiane Machado Pradella, que vai cuidar dos trâmites junto à equipe de Fiscalização. Rosiane lembra que a manutenção de terrenos privados é de responsabilidade dos proprietários, conforme regulamenta a Lei Municipal Nº 522/1969. À prefeitura cabe fiscalizar, notificá-los em caso de mau estado de conservação e aplicar multas se o problema reincidir.
Durante a pandemia, no entanto, a tarefa de fiscalização tornou-se mais difícil – os fiscais que trabalham com terrenos são os mesmos que vistoriam os estabelecimentos, trabalho que aumentou muito desde a adoção da bandeira preta. “O efetivo que olha para isso também está olhando para demandas possivelmente mais urgentes, como a questão da Covid. É importante que as pessoas sejam nossas fiscais, mandem essas solicitações para que nós possamos cuidar da conservação e deixar a cidade mais limpa”, diz Rosiane.
As solicitações devem ser encaminhadas para os canais oficiais da prefeitura: tanto em contato por telefone com as secretarias, quanto pela ouvidoria disponível no site do município – o secretário de Obras e Viação, Lucas Daniel Carenhatto, ressalta que não são atendidas reclamações feitas em canais extra-oficiais, como redes sociais.
Recentemente, a Secretaria lançou o atendimento pelo whatsapp (54) 9.9660.9937, onde as solicitações são respondidas de forma mais ágil. “É possível mandar fotos do que está acontecendo e, na mesma hora, elas já são encaminhadas para o diretor que vai executar o serviço. Encurta o caminho, facilita para nós e para os moradores. Nossa indicação é que as pessoas priorizem esse canal de whatsapp”, recomenda Carenhatto.
Responsável pela limpeza de calçadas e meios-fios, a Secretaria também tem sua atuação prejudicada durante a pandemia: uma equipe que já foi de 20 pessoas hoje se resume a três, devido a afastamentos por conta da Covid-19. Além disso, no mês passado, a máquina utilizada na limpeza quebrou e as peças necessárias para o conserto, por serem importadas, ainda não foram entregues.
Sem a possibilidade de realizar novas contratações devido à Lei Complementar Nº 173, que impede o aumento de gastos públicos, a Secretaria já se movimenta para garantir o efetivo necessário a fim de atender as demandas da limpeza urbana. “Nós já encaminhamos um processo de contratação de uma empresa terceirizada, que vai auxiliar a prefeitura a fazer esse trabalho. No momento, estamos apenas aguardando o processo legal, de licitação, acontecer. Essa terceirização emergencial vai nos ajudar a entregar um resultado melhor”, explica Carenhatto.
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