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Cinco anos sem Leonel Brizola

Fundador do Partido Democrático Trabalhista morreu em 21 de junho de 2004

Neste domingo, dia 21 de junho, o PDT lembrará, por meio de solenidades em todo o país, os cinco anos da morte de Leonel de Moura Brizola, escolhido pela revista IstoÉ em 1999 como um dos 20 maiores estadistas brasileiros do Século 20, na companhia de Getúlio Vargas, João Goulart, Juscelino Kubitschek, Marechal Rondon, Barão do Rio Branco e Oswaldo Aranha. Ex-prefeito de Porto Alegre, deputado estadual e federal e governador do Rio Grande do Sul, deputado federal pelo extinto Estado da Guanabara e duas vezes governador do Rio de Janeiro, Brizola deixou ao PDT – e ao país – um legado político baseado na doutrina trabalhista.

Estudante de Engenharia, ele ingressou no recém-fundado Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em agosto de 1945 para apoiar a política social de Getúlio Vargas. Era um universitário atípico, uma vez que a maioria de seus colegas era comunista. Provavelmente porque o gaúcho teve uma infância pobre e trabalhou para pagar os estudos, o que o identificou com a classe operária. No Parlamento, Brizola se tornou o líder das esquerdas e o principal coordenador do grupo de pressão sobre João Goulart, o Jango, na consecução das reformas de base, principalmente a reforma agrária, que em sua opinião devia “ser feita na lei ou na marra”. Articulou a Frente de Mobilização Popular, apoiada pelas principais lideranças de esquerda, inclusive por Luiz Carlos Prestes. Brizola se pronunciava muito pelo rádio e percorria todo o Brasil em pregações, mobilizando o povo para forçar as reformas estruturais. Liderou, em 1961, o Movimento da Legalidade (o qual resultou na renúncia de Jânio Quadros), dando posse ao presidente João Goulart. Nesse ambiente é que se desencadeou o Golpe Militar de 1964.

Na companhia de Jango, partiu ao exílio, no Uruguai. Mesmo isolado, seu prestígio político era tão grande que a Ditadura Militar obrigou os governantes uruguaios a expulsá-lo, em 1977, seguindo para os Estados Unidos e Europa. Em setembro de 1979 entrou no país por Foz do Iguaçu (PR) e foi para São Borja. Com seu retorno, estabeleceu-se uma acirrada disputa pela legenda PTB. Ao perder na Justiça o comando da sigla, Brizola e colegas trabalhistas fundaram o Partido Democrático Trabalhista em 6 de junho de 1980. Ascensão política Filho dos agricultores José Brizola e Onívia Moura Brizola, Leonel de Moura Brizola nasceu em 22 de janeiro de 1922, no distrito de Cruzinha, então pertencente ao município de Passo Fundo – hoje Carazinho, na região norte do Estado. Com 17 anos, forma-se em Técnico Agrícola. Em 1944, fez vestibular para a faculdade de Engenharia e iniciou intensa atividade político-estudantil. Fundou o PTB gaúcho em 1945. Um ano depois, ainda universitário, foi eleito e reeleito deputado estadual pelo Rio Grande do Sul. Em 1954 assume o cargo de deputado federal, também pelo Rio Grande. Um ano depois, concorreu e ganhou a prefeitura de Porto Alegre. Aos 36 anos, em 1958, foi eleito governador do Rio Grande do Sul e deu início a um projeto que construiu mais de 6 mil escolas no Estado durante seu mandato, as chamadas Brizoletas. Foi também deputado federal (1962) e governador (1982 e 1990) do Rio de Janeiro. Candidatou-se ainda à presidência da República em duas oportunidades (1989 e 1994), sem conseguir êxito, o mesmo ocorrendo em 1998 (vice-presidente na chapa de Lula), 2000 (prefeito do Rio) e 2002 (senador). Casado com Neusa Goulart (filha de Jango, falecida em 1993), com que teve uma filha, Neusinha Brizola, e dois filhos, José Vicente e João Otávio, nos últimos 10 anos de vida teve como companheira Marília Martins Pinheiro. No dia 21 de junho de 2004 Brizola morreu, aos 82 anos, vítima de insuficiência respiratória seguida de infarto.

Flores da Cunha ajudou a eleger o então deputado

Em 1946 o jovem Leonel Brizola foi lançado candidato a deputado estadual pelo PTB, no Rio Grande do Sul. Em janeiro do ano seguinte foi eleito com outros 22 deputados da sigla, entre eles, João Goulart. Durante a campanha, percorreu inúmeros municípios, de ônibus, inclusive Flores da Cunha. O ex-prefeito do município, Heleno Oliboni, 62 anos, conta que Brizola lhe disse ter discursado na Praça da Bandeira e visitado algumas casas, conquistando simpatizantes. Em 1947, no final da apuração das urnas, faltavam ainda 127 votos para Brizola garantir sua vitória. Ao abrirem a urna de Flores foram contabilizados 129 votos, os quais garantiriam a ida do acadêmico de Engenharia à Assembleia. “O Brizola sempre nos contou esse episódio com muita emoção e agradecimento e guardava por Flores da Cunha um carinho muito especial”, recorda Oliboni, eleito em 1996 e reeleito em 2000. Brizola visitou o município em 1946, na campanha para deputado estadual; em 1981, na fundação do PDT, em solenidade no salão comunitário da Linha 80; e em 1998, no lançamento da então pedetista Emília Fernandes para o governo do Estado. “Antes deste anúncio, feito em meu gabinete, o Brizola e as demais lideranças jantaram na minha casa. Na ocasião ele me convidou a ser suplente de senador, mas não aceitei porque estava apenas no segundo ano do meu primeiro mandato como prefeito”, pondera Oliboni. Entre os presentes no jantar, além de Brizola, Emília e Oliboni, estavam o deputado estadual Kalil Sehbe (havia sido reeleito e hoje cumpre seu quarto mandato) e o então vice-prefeito Jorge de Godoy. “Depois da cerimônia de lançamento, pedi ao Brizola o motivo de ter feito o anúncio em Flores da Cunha, em vez de tê-lo feito em Porto Alegre ou na cidade natal de Emília, Santana do Livramento. A resposta dele me emocionou: ‘Isto é um agradecimento a tua fidelidade ao PDT, e um agradecimento a Flores da Cunha’”, relembra o ex-prefeito florense.
Da esquerda para a direita, Kalil, Brizola, Oliboni, Emília e Godoy. - Acervo Heleno Oliboni Divulgação
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