Geral

Uma pesquisa datada de 2015 e realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrou que as atividades agrícolas, especialmente a utilização de máquinas, estão entre as três mais perigosas para os trabalhadores. A cada três acidentes ocorridos no meio rural, um ocasionou a incapacidade permanente do trabalhador. A operação com tratores são as que oferecem os maiores riscos de acidentes. Nos primeiros cinco meses do ano, o município registrou cinco acidentes envolvendo o equipamento, dois deles resultaram na morte dos trabalhadores.

De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater, Raul Dalfolo, a região da Serra possui muitas áreas inclinadas o que colabora com o número de acidentes, como o tombamento do equipamento. “O trator possui limitações de uso, inclusive parâmetros relacionados à inclinação de terrenos para que o agricultor possa trabalhar com segurança, além de adequação de velocidade de deslocamento, especialmente em descidas”, explica o engenheiro.

Uma das recomendações para a estabilidade da máquina, é que o trator não é recomendado para todos os tipos de terrenos. “Não podemos abusar da inclinação. É importante ressaltar que a consciência do operador, na forma de conduzir o trator, vai repercutir no número de acidentes”, informa.

Segundo Dalfolo, grande parte dos acidentes são causados por falhas humanas. “Os principais acidentes que vemos ocorrem porque as pessoas não respeitam as limitações das máquinas e também não realizam a manutenção básica, o que vem a causar, posteriormente, falhas mecânicas”, cita o engenheiro.

Além das normas de seguranças e de estabilidade do trator que são ditadas pelas fabricantes, atualmente estão em vigor 57 textos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) com o foco específico no equipamento. Há ainda entidades que ministram treinamentos quanto à forma correta e segura de manuseio dos tratores, ajuste da bitola, lastreamento, manutenção básica e até a forma correta de embarcar e desembarcar com segurança.

“Após o acidente, fiquei vários dias sem dormir”
Nos primeiros meses de 2020 foram registrados cinco acidentes com tratores em Flores – dois resultaram em morte. O mais recente ocorreu na sexta-feira, dia 1º, quando o agricultor Itacir Araldi, 63 anos, morreu após o equipamento cair sobre ele. No mês de abril, foram registrados dois acidentes e no dia 7 de março, o estudante Guilherme Rodrigues Calgaro, de 12 anos, faleceu após o trator em que estava tombar. O fato ocorreu no Travessão Carvalho, em Otávio Rocha.

O caminhoneiro e agricultor, Ricardo Alexandre Maurina, 43 anos, foi um desses casos. Em 9 de janeiro, ele estava trabalhando em sua propriedade, no Travessão Cavour, quando se acidentou. “Eu estava trabalhando em um terreno perigoso, e como o trator estava com falta de manutenção acabou ocorrendo o acidente”, conta. Durante o trabalho, uma das rodas traseiras quebrou, fazendo com que ele tombasse. Como a máquina estava com uma roçadeira atrás, Maurina precisou se jogar para frente e agarrar-se ao cano de descarga, o que resultou em queimaduras de terceiro grau em seus braços. Além disso, ele quebrou duas vértebras e seis costelas. “O relevo da nossa região faz com que os acidentes ocorram com mais frequência, pois ele não é apropriado para trator, por isso, sempre precisamos ter medo. E também é necessário sempre fazer as manutenções”, destaca. Recuperado, Maurina conta que o trauma foi grande. “Após o acidente, fiquei vários dias sem dormir. Quando fechava os olhos via sempre o trator vindo em cima de mim. Tive que ir para o médico e tomar remédio. Mas graças a Deus estou vivo”, diz. 

Outro acidente ocorreu no dia 25 de abril, quando o agricultor Francisco Gotardo Pasticelli, 62 anos, tombou o veículo em sua propriedade em Nova Roma.  Devido ao acidente, Pasticelli teve quatro costelas quebradas, a clavícula de um dos braços, vértebras da coluna, além da perfuração dos pulmões. Ele está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em Caxias do Sul. Conforme seu irmão, Arlindo Pasticelli, ele passou por cirurgia e o estado dele é grave, mas com sinais de melhoras. “É uma situação delicada e os médicos estão fazendo exames para ver se não teve lesões no cérebro. Ele estava indo buscar lenha quando o trator acabou se desequilibrando e ele ficou embaixo do para-choque”, diz.

No mês de abril, no dia 29, o aposentado Hermes Ghissoni, 59 anos, também se acidentou na Capela Nossa Senhora de Fátima. Conforme o filho, Gilnei Victorio Ghissoni, 29 anos, o aposentado estava carregando pedras para nivelar uma área em sua propriedade, quando o equipamento tombou. “Ele conseguiu sair de baixo do trator e teve apenas algumas escoriações. Graças a Deus nenhuma fratura”, conta o filho.

Cuidados
- O operador deve estar familiarizado com todos os comandos e controles da máquina antes de operá-la;
- Antes de trabalhar com implementos, faça uma leitura do manual de instrução, fornecido pelo fabricante, pois certos instrumentos requerem técnicas especiais de operação;
- Adequar a velocidade de deslocamento com o tipo de terreno;
- Não abusar da inclinação do terreno achando que o trator pode ir a todos os locais;
- Se o trator estiver equipado com Arco de Segurança ou estrutura de proteção contra capotamento (EPCC), use o cinto de segurança; 
- Nunca use o cinto de segurança se o trator não possui arco de segurança ou EPC;
- No caso do trator cabinado de fábrica, a cabine foi projetada para suportar o peso do trator e evitar o capotamento. Mesmo assim, o operador deve usar o cinto de segurança.
- Acesse a plataforma de operação pelo lado esquerdo do trator e não segure no volante;
- Desça sempre de costas colocando as mãos nos apoios e os pés nos degraus;
- Ao transportar outras pessoas no trator além do operador, utilize carretas ou plataformas para o transporte;
- Não sobrecarregue o trator ou opere com implementos fora das condições de segurança, ou sem manutenção adequada.
- Adequar a bitola (largura do trator) de acordo com o tipo de terreno a ser trabalhado. Quanto maior a inclinação, maior deve ser a largura do trator.

Fonte: Dia de Campo