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Cicatrizes relembradas no Sarau Tête-à-Tête

Destaque do evento será a participação do grupo musical que em 1985 venceu a 11º Vindima da Canção Popular

Que povo é esse / Que esquece suas raízes / E abandona assim tão fácil / Suas origens / Que povo é esse / Que não lembra seu passado / Como se a história fosse / Um livro mal contado. Uma boa parte dos florenses, ou a geração com mais de 30 anos, já deve ter ouvido a canção A que horas passa o trem?, escrita por Carlos Raimundo Paviani e Roque Alberto Zin em 1985. Entretanto, quem ainda não ouviu terá a oportunidade neste sábado, dia 29, durante o 22º Sarau Tête-à-Tête promovido pela Associação dos Produtores de Arte e Cultura (Apac) de Flores da Cunha.

O grupo Cicatrizes, formado por Paviani, Zin, Mirtes Facchin e Maria Branchini, fará uma apresentação especial da música que venceu da 11ª Vindima da Canção Popular, há 28 anos, além de outras canções. “A Apac nos convidou e, apesar das dificuldades de nos reunirmos, é uma oportunidade resgatar essa cultura, nos reencontrarmos e de gerações diferentes estarem juntas para um evento bem bacana”, afirma a compositora Mirtes, que por 10 anos esteve longe de Flores da Cunha e agora retorna ao município. Para o economista Roque Zin, o reencontro é um momento de relembrar o importante festival estadual que a cidade tinha. “É um reencontro com os amigos daquele tempo, alguns dos quais eu não via há algum tempo. E também uma grande surpresa ao saber do interesse dos mais jovens por aquilo que fizemos há 28 anos”, diz. O Sarau tem início a partir das 22h, no Casarão Pub. A entrada é gratuita e os organizadores sugerem a doação de um agasalho.

Além da apresentação do grupo Cicatrizes, o evento contará com outras atrações. O escritor Tiago André Vargas fará um bate-papo sobre o livro Mariposas no Útero; já a estudante Giulia Letícia Zanette estará expondo as obras que compõem a mostra Na Ponta do Grafite. Haverá ainda a apresentação da esquete teatral Surpresa! e pocket-shows com os músicos Nina Fioreze, Edu Müller e Jonatas Costa. Após as apresentações o palco ficará livre para quem quiser mostrar seu trabalho.

Política e poesia
O Cicatrizes nasceu no início dos anos 1980 e costumava participar com frequência dos festivais regionais de música, como o Vindima da Canção. A música A que horas passa o trem? foi composta por motivações políticas e sociais, especialmente para o festival. Conforme Mirtes, a ideia era criar uma canção que unisse poesia, história, crítica e política para atingir o objetivo de ganhar o 1º lugar e Melhor Pesquisa no 11º Vindima da Canção de 1985. “Queríamos algo que fosse fora da mesmice das canções de outros festivais e que tivesse uma pitada de poética e crítica ao mesmo tempo”, recorda. A diretora da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Maria Branchini, complementa que na época foi feita toda uma pesquisa, inclusive das vestimentas das mulheres, para a composição e apresentação da música. “É uma canção que explora a história de Flores da Cunha e o porquê da mudança do nome. Hoje é emocionante poder se reencontrar e resgatar essa cultura e também perceber o conhecimento harmônico e a criatividade que tínhamos naquela época para cantar”, destaca.

Além de ganhar o festival, a música integrou o LP que continua as 12 canções finalistas do evento. Em 2008 o grupo Cicatrizes (com exceção de Mirtes) teve um encontro por conta da gravação do documentário homônimo, produzido pelo Núcleo de Produção Audiovisual (NPAV) e que não teve finalização. “Quem sabe depois desse encontro não nos reunimos mais vezes para nos divertir ou motivar outros grupos?”, instiga Mirtes.


A letra

A que horas passa o trem?
Que povo é esse
Que esquece suas raízes
E abandona assim tão fácil
Suas origens
Que povo é esse
Que não lembra seu passado
Como se a história fosse
Um livro mal guardado
Ninguém mais fala do interventor
Que há muito tempo nos enganou
Nem falam da guerra, já bem distante
Que o nosso nome trocou
Que jeito estranho
De esconder nosso passado
Como se fosse algum trilho
Mal traçado
Um trem fantasma
Ainda ronda esta cidade
Sonhos antigos
Nos trazendo a verdade
Ilusão é o trem que nunca virá
A cidade devia o seu nome trocar
Espera pelo trem que não chegará
Roda trem, nossa saudade
Desperta em nós uma vontade
Nem tudo o que se quer se consegue
Cansados de tanto esperar
Estamos agora a cantar
Que o trem não virá


Serviço

22º Sarau Tête-à-Tête
Quando: sábado, dia 29, a partir das 22h.
Onde: Casarão Pub (Rua Júlio de Castilhos, 2.356, no Centro).
Quanto: entrada gratuita. É sugerida a doação de um agasalho.

Grupo Cicatrizes: Mirtes Facchin, Carlos Paviani, Maria Branchini e Roque Zin. - SÉFORA BULLA PAVIANI/DIVULGAÇÃO
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