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Chocolate o ano todo

Tradição Gourmet, que fabrica a marca DeCacau em Flores da Cunha, produz, por mês, em torno de 200 mil kg do produto

Mesmo do lado de fora da fábrica da DeCacau, em São Gotardo, é possível ter certeza de que ali se produz chocolate. O aroma adocicado exalado no ar não deixa dúvidas e meche com os sentidos dos “chocólatras de plantão”, ainda mais nessa época de Páscoa.
No entanto, adoçar a vida das pessoas é uma tarefa que envolve muito trabalho e organização: “Nós não construímos uma Páscoa sazonal, começamos a produzir em junho. Até porque é necessária uma mão de obra especializada já que o processo de embalar os ovos é feito à mão. Da mesma forma, é muito difícil treinar uma pessoa de última hora, por isso criamos um quadro de funcionários que produz o ano inteiro, então já nos programamos com estoque. A gente já contrata a partir de 1º de maio, não vamos esperar para fazer isso em janeiro do ano que vem, vamos formar equipe e já começar a produzir para 2023. Afinal, a Páscoa se constrói de um ano para outro, em 12 meses, não mais em três”, explica o sócio proprietário da DeCacau, Aureo Romanzini. 
O empresário, que é natural de Nova Prata, revela que escolheu instalar a matriz da marca em Flores da Cunha por ter um relacionamento muito forte com o pessoal do interior do município, gostar muito daqui e acreditar no potencial de desenvolvimento da região. A DeCacau também conta com uma fábrica em Gramado – focada na produção pascal, concentrando 80% dos ovos – enquanto a planta florense produz cerca de 20% da Páscoa e conta com o projeto food service, para o qual fabrica barras de chocolate, bombons e trufas, além de absorver toda a produção de matéria prima. “Hoje devemos ser a segunda empresa que mais produz chocolate no estado, em torno de 200 mil kg por mês. Isso porque, além da marca DeCacau – que é para o varejo – trabalhamos muito forte em cima de vendas para pizzarias, doceiras e sorveterias, mas, para esses estabelecimentos, vendemos em caixas de 10 kg e chocolate ralado”, destaca. 
De acordo com o sócio proprietário, o empreendimento tem 35 anos de história com chocolates, destes 30 foram dedicados à comercialização do produto e há seis, foi montada a indústria Tradição Gourmet, que fabrica a marca DeCacau e, neste ano, completa sua sexta Páscoa. Investimento que deu certo, uma vez que, hoje, a marca conta com sete filiais nos estados do Sul do Brasil e vem se destacando no cenário nacional por meio de uma parceria com a Havan, atendendo todas as lojas da empresa no país – tanto com a linha de Páscoa, quanto com a de varejo, durante o ano todo.
“Faz 25 anos que trabalhamos com a Havan, a gente tinha essa parceria muito forte quando éramos o comercial e, ao construirmos a indústria, pensamos nessa parceria que agora se concretizou em um projeto que devemos montar três lojas por mês, dentro de cada Havan – uma loja por Havan, mas, três por mês”, destaca Romanzini. Ele acrescenta que, com o aumento da produção, também irá investir na ampliação da estrutura, maquinário e mais mão de obra: “Vamos dobrar a área de fabricação de Gramado, investir pesado no maquinário aqui em Flores da Cunha, e por ser um produto muito artesanal, vai envolver mais mão de obra, então o nosso quadro deve crescer em torno de 50% para esse ano, e a ideia é que isso evolua”, comemora, frisando que, hoje, no país, atende 168 lojas.
Um dos grandes diferenciais da marca, conforme o sócio proprietário, é ter uma massa de cacau própria, com matéria prima vinda de outros estados, e produção em Flores da Cunha: “Somos uma das poucas empresas do Brasil que vai no produtor e compra direto dele, seleciona o cacau e fermenta, faz a própria massa. A maioria das indústrias compra das grandes empresas, nós não, vamos em fazendas selecionadas, de porte grande. Pegamos cacau do Sul da Bahia, em Ilhéus e Itabuna, inclusive nós estamos montando uma planta para beneficiar o nosso cacau, a partir de maio vamos ter a nossa própria planta por lá. Como nos dedicamos a esse projeto, temos que caminhar para isso, afinal, é algo que não tem no mercado para vender”, prospecta. 
Contudo, nos anos anteriores – como a maioria dos empreendimentos – a DeCacau também sofreu os impactos da pandemia de Covid-19 e teve de reduzir a fabricação para minimizar os prejuízos. “Em 2020 trouxemos 50% da produção de volta, mas, a gente deu um jeito de ‘dar a volta’ nisso. Em 2021, fabricamos 75% do que vínhamos produzindo. Já, nesse ano, saltamos para 120% em relação a 2019, e hoje, a venda está 120% acima em relação ao mesmo período”, empolga-se Romanzini, que completa que a fábrica conta com 80 funcionários, mas o grupo é formado por cerca de 150 colaboradores. 
O gestor sinaliza, ainda, o importante papel da Feira de Páscoa como uma alternativa de venda em meio ao cenário pandêmico. Segundo ele, se tratava de uma loja montada para os funcionários, mas que, acabou sendo aberta para o público em geral e tendo uma aceitação bastante positiva por parte da população local. Prova disso é que, neste ano, as vendas nesse formato continuam acontecendo: “Hoje o que vendemos aqui é mais porque as pessoas estão pegando direto e existe um valor agregado menor. Tem também aquela história do consumidor vir buscar na fábrica, então estamos vendendo aqui, além da feira, que segue aberta até este sábado, dia 16”, informa.  
“Hoje, a DeCacau tem um mostruário fantástico, ela não perde para nenhuma grande empresa. Então eu acredito que, atualmente, tenhamos um dos melhores brinquedos do mercado – porque a gente também importa – e estamos vendendo muito bem, fizemos 200 mil ovos de brinquedos este ano. O grande diferencial da DeCacau é o sabor próprio, eu acho que todo mundo produz qualidade, porque no mínimo todo mundo tem que produzir qualidade, mas o grande negócio é produzir um sabor diferenciado, por isso, a pessoa que prova DeCacau se apaixona”, conclui. 

Pesquisas
A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS) avalia que a maior circulação de pessoas, a flexibilização das medidas restritivas e iniciativas como a liberação do saque de R$ 1 mil do FGTS e a antecipação do pagamento do 13º salário aos aposentados e pensionistas do INSS são fatores que devem contribuir para o incremento das vendas na Páscoa. Esse cenário leva a entidade a projetar um ticket médio na aquisição de produtos em torno de R$ 145. Em todo o país a expectativa é que as vendas varejistas possam chegar à casa dos R$ 2,20 bilhões, enquanto no RS a injeção de recursos no comércio deve ser ao redor dos R$ 110 milhões.
A tradicional pesquisa de intenção de compras realizada pela CDL Caxias do Sul apontou que, seis em cada 10 pessoas deverão adquirir chocolates, cestas, brinquedos e roupas para presentear. Com isso, a expectativa da entidade é de que ocorra um aumento de 27,2% na procura de produtos para a Páscoa de 2022 em relação a 2021. O tíquete médio deve ser R$ 25 a mais do que no ano anterior, ficando em R$ 160,12, com estimativa de 3,2 produtos por consumidor.  Mais de 80% dos entrevistados disseram que já sabiam o que iriam comprar. A estrela principal segue sendo o chocolate, com 84,40% da preferência. Neste ano, 5,30% declararam que, além do doce, vão presentear também com outros itens, como calçados, roupas e utensílios, e 4,20% com brinquedos. Quase 40% dos participantes sinalizaram que levam em consideração os pedidos de quem receberá os mimos, especialmente as crianças.

Comércio prospecta aumento de 10% nas vendas

Se a expectativa da indústria para a primeira Páscoa com certa estabilidade pandêmica é positiva, o mesmo se repete no comércio local, que projeta um incremento nas vendas em relação aos últimos dois anos. 
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Flores da Cunha, Jásser Panizzon, defende que, apesar do reajuste de 15% no preço médio dos chocolates, a data deve ser favorável: “Esperamos um aumento em torno de 10%, se comparado com o ano anterior. Importante pontuar que em 2021 as vendas foram melhores que em 2020, em função de as pessoas permanecerem maior tempo em suas casas”. 
Ele esclarece, ainda, que muitas pessoas acabam investindo em outros presentes nessa época, como brinquedos e roupas, por exemplo, segmentos que também são beneficiados, e a projeção é que se mantenham as mesmas vendas de 2021, considerado um bom ano: “A CDL trabalha na divulgação da Páscoa e incentiva que a população realize suas compras em nossa cidade. Este ano também apoiou o evento Páscoa em Flores, no último sábado, dia 9, na Praça da Bandeira”, ressaltou. 
Os números esperados pela CDL se refletem nas perspectivas dos comércios do município.  De acordo com a diretora financeira do Supermercado Vermelhão, Milene Zamboni Andrighetti, o estabelecimento também projeta um aumento de 10% nas vendas, apesar do cenário de inflação e do preço do chocolate também ter aumentado: “Estamos bem otimistas que vai dar tudo certo e que vai ser uma Páscoa bem legal, até porque o pessoal já vem comprando ovos desde o fim de março, muitos estão se antecipando”, revela.
“Estamos vendendo bastante cestas e ovos, inclusive estou me surpreendendo com isso. As pessoas já procuraram cedo para guardar e dar de presente em função de as próprias empresas diminuírem a quantidade e a variedade dos ovos de chocolate”, destaca Milene. A gerente também explica que as indústrias ainda estão investindo em ovos com brinquedos para as crianças – com fone, copos ou com características de personagens como Batman e Mulher Maravilha – mas em um número bem reduzido e que os tradicionais, como Ouro Branco, Sonho de Valsa e Kinder Ovo, são os mais procurados.
Em relação aos reajustes, a diretora financeira informa que todos os anos algum aumento é embutido no preço dos chocolates, principalmente nos ovos de Páscoa, e que nesse ano o valor foi um pouco acima por conta do cenário econômico e, por isso, tem de ser repassado ao consumidor final, mas, mesmo assim, a data deve aquecer as vendas no supermercado. 
“O que eu vejo, do tempo que estou aqui, é que o pessoal sempre acaba presenteando alguém com os ovos de Páscoa. O sobrinho, a criança, a namorada, o namorado, então nessa data a tradição é o chocolate, por isso as pessoas acabam comprando, dando um jeitinho, independentemente do tamanho”, enfatiza Milene. 
Realmente, é quase impossível resistir às tentações do chocolate e, especialmente, ao olhar das crianças escolhendo seus favoritos. Por isso, a Páscoa das crianças acaba, na maioria das vezes, sendo uma data um tanto quanto amarga para o bolso dos pais. 
“Estou ainda pesquisando, mas nem olhei se tem alguma diferença ou não em relação ao ano passado, acredito que esteja um pouquinho a mais devido aos custos da inflação. Eu acredito que sim, que eu vá comprar, porque eu tenho duas sobrinhas, uma filha pequena, e as crianças sempre gostam de chocolates, gostam de brinquedos, então a gente tenta ver os ovos que tenham brinquedos. Eu estou deixando para comprar um pouquinho mais no final, para decidir o que elas querem”, explica a professora de inglês, Roberta Vanelli, de 40 anos.
Situação que se repete com Jéssika Bottcher, de 31 anos, que estava no mercado na companhia de seus três filhos: “Para quem tem uma família grande eles saem um pouco ‘pesadinhos’ no orçamento, mas até que estão em conta.  Para ver as crianças felizes vale a pena. Vou comprar, com certeza, pelo menos três ovos estão garantidos”, destaca, vendo os olhos dos pequenos brilharem embaixo do parreiral de ovos, na ansiedade de saber se o Coelhinho da Páscoa realmente vai trazer o que desejam para adoçar e colocar ainda mais magia na data.

 

Aureo Romanzini orgulha-se da fabricação da própria massa de cacau. - Karine Bergozza
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