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Chegar aos 95 bem e saudável

Verdadeiras mulheres que lutaram e hoje contam a receita para uma velhice plena

Em 17 de maio de 1924 Flores da Cunha se emancipava da então Colônia Caxias. E para comemorar esta data especial, vamos conhecer duas moradoras de Flores da Cunha que nasceram no mesmo ano que o município. São 95 anos de garra, trabalho e dedicação à família. Conheça Laura Sandi Curra e Dosolina Longhi Francescatto, nascidas em municípios vizinhos, mas que escolheram Flores da Cunha para residir e construir sua história.

“Quero chegar aos 100”

Toda elegante, arrumada e perfumada, Dosolina Longhi Francescatto, 95 anos, não deixa aparentar a idade que tem. Gosta de sair, ir à missa, ver os amigos e, principalmente, reunir a família.

Nascida em 19 de janeiro de 1924 na cidade de Antônio Prado, há 71 anos é moradora de Flores da Cunha, quando ela e seu marido, Bonfiglio Francescatto, vieram para cá em busca de emprego e constituíram uma grande família, cercada de muito amor. Tiveram 10 filhos: Valdomiro, Irineu, Luizinha (in memória), Aldino, Oscar, Loreno, Jorge, Leonor, Bernardete (in memória) e Valério – o mais novo, Dosolina teve com 45 anos. “Tive oito homens e duas mulheres, mas minhas filhas estão lá no céu. Agora estou aqui com oito homens e oito noras”, conta sorrindo.

Ao longo de sua vida, Dosolina nunca frequentou uma escola. Tinha que ajudar no trabalho de casa e na roça. “Não podia perder um dia de trabalho e quando chovia precisava ficar em casa, não podia sair”, relembra. Hoje, muito feliz, tem orgulho de tudo que passou. “As pessoas reclamam de tudo, mas porque não viveram naquele tempo. Tudo mudou. Chegamos para morar em uma casa de madeira, sem luz. Nossa mudança coube em um cesto de vime e lembro que trouxemos quatro galinhas para não passar fome”. Ela relembra muitos detalhes, da cidade sendo construída aos poucos, do Centro ganhando novas moradias e das pessoas que aqui chegavam. Uma transformação que ela acompanhou de perto.

Em 1997, seu esposo faleceu, deixando muitas lembranças. Hoje, Dosolina tem 23 netos e nove bisnetos e “gostaria de ser tataravó”, afirma ela. Chegar aos 100 anos é sua meta. “Quero chegar aos 100 anos, ou 102,103”, fala, sempre acrescentando mais alguns anos depois dos 100.

“Eu não pego mais a enxada porque não me deixam”

A disposição é de jovem. Adora cuidar do jardim, ver as flores, tirar a capoeira da grama. Ficar parada não é opção para Laura Sandi Curra, 95 anos completados em março.

Nascida em São Marcos, no dia 9 de março de 1924, veio para Flores da Cunha com 10 anos de idade, juntamente com seus pais. Ao chegar ao município algo a surpreendeu: a luz. “Achei lindo quando cheguei na entrada da cidade, eu vi tudo iluminado. Nunca tinha visto aquilo na minha vida. E acendeu bem na hora que chegamos”, relembra. Na casa em que vivia a iluminação era a base de ‘ciareto’. Segundo Laura ainda demorou um tempo para que a luz elétrica chegasse as residências. “Na rua grande (o centro da cidade) era tudo habitado: tinha farmácia, hotel, umas lojas, costureira e um Centro de Saúde”, conta, detalhando cada lugar. Mas saindo do Centro, a cidade era cercada de mato. Aos poucos, Laura viu a cidade crescer e se desenvolver.

Em Flores, ela trabalhou para ajudar no sustento da casa. “Nunca estudei, nunca peguei um livro. Quando sai de São Marcos e cheguei aqui já me botaram trabalhar na granja. Sempre trabalhei na minha vida”, ressalta. Laura também trabalhava de empregada doméstica, até se casar, no ano de 1942.

Laura casou-se com Neli Antônio Curra, se dedicou a casa e aos sete filhos: Alfeu (in memória), Maria Luiza, Ivone, Helena, Beatriz, José e Valério. Hoje, tem 17 netos, 12 bisnetos e dois tataranetos.

Segundo ela, a receita para viver tanto é não se importar. “Não posso me queixar de nada, tudo serve. Quero viver até que Deus me deixar, mas eu ainda me sinto bem disposta. Eu não pego mais a enxada porque não me deixam. Meus filhos têm medo. Mas varro a casa, seco a louça, limpo o jardim, caminho bastante. Agora nessa época vou juntar pinhão”, conta. Com certeza, a preguiça e o desânimo ainda não bateram na porta de Laura. “As pernas ainda me ajudam e a cabeça também”, finaliza.  

 

Laura adora estar rodeada da natureza e da família.  - Gabriela Fiorio
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