Geral

Chegada da primavera marca início da brotação

Especialistas apontam que neste período as videiras estão mais expostas à incidência de escoriose e antracnose. Agrônomos recomendam tratamento

Se olharmos ao redor perceberemos que a cidade já está florida. As plantas frutíferas, entre elas as videiras, iniciaram a brotação há pelo menos 15 dias. A situação é comum para a época. Porém, o que também se tem observado na maioria das propriedades rurais é que o crescimento dos brotos não está ocorrendo de forma uniforme em virtude do inverno atípico registrado na região. A estação foi marcada pela ampla variação de temperaturas, registrando noites muito frias e dias quentes. A situação atingiu, principalmente, as variedades precoces, como Chardonnay e Pinot Noir.

Para que isso não interfira na qualidade da fruta, a recomendação é para que os agricultores utilizem produtos para induzir a brotação. “Esse processo resultará em uma brotação uniforme e, consequentemente, numa floração mais completa e uma fruta de melhor qualidade”, explica o engenheiro agrônomo Vagner Spadari. O profissional ressalta que restam 17 dias para o final do inverno e que esta época, normalmente, é marcada por altos índices de umidade e baixas temperaturas. A partir de agora, a incidência de dias frios representa um grande risco às videiras. Para evitar perdas futuras, a indicação é que seja utilizado nas plantas um produto à base de aminoácidos, que fortalece a planta, fazendo que ela fique mais resistente a baixas temperaturas.



Doenças podem arruinar a vindima
No início da brotação é comum a incidência das doenças escoriose e antracnose e, um pouco mais tarde (com os brotos com mais ou menos 10 centímetros de comprimento), contra o míldio. O processo de infecção ocasionado pelas doenças resulta na perda de produção, inspirando cuidados. Spadari sugere que nesse momento os produtores (de uva americana, híbrida ou Vitis vinifera) utilizem diferentes técnicas de controle, como a resistência varietal e as práticas culturais. “Muitos estão esperando a chegada da chuva para começar as aplicações. Isso é errado, pois quando a planta inicia a brotação já está propensa à entrada de doenças e, se isso ocorrer, pode inviabilizar a produção da próxima vindima”, expõe.

Spadari ressalta que quando a doença ou as pragas já estão presentes no vinhedo ou no pomar não existe outra forma de tratamento senão a utilização de produtos químicos. Portanto, a recomendação é sempre para que os agricultores invistam na prevenção. “As aplicações devem ser preventivas, ou seja, antes que ocorra o sinal da doença. Quando ocorre a utilização de um produto curativo já estamos perdendo produção. As vantagens de investir na prevenção são a redução do uso de produtos químicos, a diminuição dos riscos de intoxicação e poluição ambiental e a melhoria na eficiência dos tratamentos fitossanitários”, expõe o agrônomo.

Previsão é que chuva deve retornar em setembro
A primavera que inicia no próximo dia 22 deverá ter um comportamento mais próximo da normalidade em todo Rio Grande do Sul. Conforme o meteorologista do Centro Estadual de Meteorologia (Cemet-RS), Flávio Varone, a tendência é de que as chuvas retornem ao Estado na segunda quinzena de setembro. “Nos próximos meses a precipitação terá maior regularidade e a frequência maior de frentes frias pode provocar volumes mais elevados até o fim do mês de setembro, sobretudo no Norte e no Noroeste gaúcho. Esse fato está diretamente associado ao fenômeno El Niño, que deve se confirmar nos próximos meses”, explica.

As temperaturas também deverão permanecer mais elevadas, o que descarta o risco de geadas tardias, tão temidas pela agricultura. A previsão mostra apenas o ingresso de massas de ar frio de fraca intensidade, com curta duração (um ou dois dias). “O aumento da umidade e da chuva gera mais nebulosidade e, consequentemente, mantém as temperaturas mais altas, sobretudo nas madrugadas, o que inibe a formação de geadas mais expressivas durante os próximos meses”, analisa Varone.

Para outubro e novembro a condição se mantém, com chuva e temperatura dentro da média na maior parte do Estado. “No mês de outubro deveremos ter chuvas mais abundantes e algumas regiões poderão ter altos volumes. Esse aumento da chuva implica diretamente na ocorrência de eventos mais severos (tempestades), com altos volumes acumulados em curto intervalo de tempo, com fortes rajadas de vento e queda de granizo”, alerta o meteorologista.

Cuidados também se estendem a outras cultivares
O período também inspira cuidados com relação às chamadas cultivares de caroço como, por exemplo, o pêssego e a ameixa. O engenheiro agrônomo Vagner Spadari explica que nesse período essas plantas correm o risco de serem contaminadas por patógenos como a antracnose ou infestadas por pragas como a mariposa oriental (Grapholita). “Caso as medidas adequadas de controle não sejam tomadas, sérias perdas poderão ocorrer e comprometer economicamente a produção. O controle não deve ser restrito à aplicação de fungicidas, mas sim complementado com adoção de outras medidas visando reduzir as fontes do problema e o bom manejo das plantas”, explica.

Nesta semana, a Emater de Flores da Cunha promoveu palestras nas comunidades do Travessão Carvalho e Mato Perso, locais onde a concentração das cultivares é maior, com o objetivo de orientar os produtores da importância de investir na prevenção da Grapholita. A engenheira agrônoma do escritório florense, Sandra Dalmina, destaca que os agricultores estão sendo orientados para que realizem o monitoramento por meio de armadilhas de feromônio sexual sintético. “O monitoramento é essencial, pois diminui bastante o custo de produção e a quantidade de inseticida na propriedade”, ressalta a especialista.

As principais doenças que podem surgir
no início da brotação das parreiras


Míldio (mufa ou mofo)

- Um fungo é a causa da doença que ocorre em regiões quentes e úmidas durante o ciclo vegetativo da videira. O fungo desenvolve-se com temperaturas entre 10ºC e 32ºC – ainda mais facilmente quando entre 18ºC e 22ºC. Todos os fatores que contribuem para aumentar o teor de água no solo, ar e planta favorecem o desenvolvimento do míldio: dificilmente ocorre infecção se a umidade do ar for inferior a 75%. De outra parte, o risco será maior quando o período de água livre (chuva, orvalho ou neblina) for maior do que três horas e sob condições de céu encoberto. O fungo incide sobre todos os órgãos verdes da
planta, desenvolvendo um talo que neles penetra para absorver a seiva. O tempo entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas é de, em média, quatro dias, dependendo da idade da folha, cultivar, temperatura e umidade.



- Controle: um aspecto fundamental para controlar o míldio é conhecer as condições climáticas ideais para seu desenvolvimento: temperatura entre 10ºC e 32ºC e presença de água. Para a ocorrência de infecção secundária, é suficiente apenas uma garoa ou uma névoa, por um período de duas ou três horas. As práticas culturais recomendadas para diminuir o ataque de míldio são drenar a umidade superficial do solo, aplicar tratamento de inverno e cortar as pontas dos brotos infestados. Entretanto, como nenhuma destas práticas é suficiente, recomenda-se a aplicação de fungicidas preventivos. A fase crítica é entre os estágios de floração a fechamento do cacho. Em regra, as cultivares americanas e híbridas são mais resistentes que as viníferas.

Escoriose
- Causada por um fungo, pode ser muito agressiva em regiões onde há alta umidade no período da brotação – e logo depois dele. Geralmente, sua incidência é na primavera, quando os brotos começam a crescer e sob condições de temperatura superior a 8ºC e umidade relativa do ar acima de 80%. Outras circunstâncias necessárias para sua ocorrência: chuva e existência de umidade livre sobre as brotações verdes, quando estas não estão protegidas. A escoriose atinge os tecidos verdes não protegidos, quando existir água livre por diversas horas. Frequentemente é confundida com a antracnose. Onde a doença é endêmica (aparece todos os anos), torna-se severa quando chove por diversos dias seguidos durante o início da brotação. Quando a temperatura estiver entre 5ºC e 7ºC e os brotos tiverem de 3cm a 5cm de comprimento, estarão muito suscetíveis ao ataque da moléstia.



- Controle: quando ocorre ataque severo durante o período vegetativo, recomenda-se realizar tratamento de inverno com calda sulfocálcica. No início da brotação, aconselha-se efetuar dois tratamentos com fungicidas protetores, o primeiro quando os brotos tiverem de 1cm a 3cm de comprimento (uma folhinha aberta) e o segundo, de 6cm a 12cm de comprimento (duas a três folhinhas abertas). Entretanto, em períodos muito frios em que o crescimento dos brotos é lento, é aconselhável realizar uma ou duas aplicações suplementares. Também é muito importante a retirada dos restos de poda do vinhedo quando ocorreu forte ataque do fungo.

Antracnose
- A antracnose, causada por um fungo, desenvolve-se em todos os órgãos verdes da planta e durante todo o ciclo vegetativo se ocorrerem as condições ideais. Nas regiões de primavera úmida, com chuvas abundantes e frequentes, associadas a ventos frios, a doença é mais agressiva. O fungo sobrevive de um ano para outro nas lesões dos ramos, assim como nos restos de cultura no solo, sob condições de alta umidade por períodos de 24 horas ou mais e com temperaturas acima de 2ºC. A temperatura ótima para o desenvolvimento da moléstia é entre 15ºC e 18ºC. Ela é especialmente agressiva em anos muito chuvosos na fase inicial do desenvolvimento vegetativo da videira.



- Controle: quando ocorrer ataque severo durante o ciclo vegetativo é aconselhável realizar tratamento de inverno com calda sulfocálcica. Durante o período vegetativo, é importante aplicar os fungicidas para o controle da doença, iniciando quando a brotação tiver de cinco a 10cm e seguindo até que as condições climáticas estejam favoráveis ao desenvolvimento da moléstia.

Quando se usa fungicida de contato e chove mais de 20mm, é aconselhável a reaplicação até 24 horas após a chuva. A fase crítica é o início da brotação, quando o controle é indispensável. A severidade da antracnose depende, principalmente, das condições locais de alta umidade e exposição a ventos frios. A retirada dos restos de poda é uma medida de grande eficiência no controle da doença. A aplicação contínua (por mais de três vezes) do mesmo produto sistêmico poderá induzir o aparecimento de resistência.


Incidência de doenças ocorre devido à alta umidade, ocasionando perda de produção. - NaHora/Antonio Coloda
Compartilhe esta notícia:

Outras Notícias:

0 Comentários

Deixe o Seu Comentário