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Buraqueira aumenta na VRS-814

Estrada vicinal que liga Nova Pádua a Flores da Cunha está praticamente intransitável. Produtores rurais reclamam de prejuízo em veículos e na safra de frutas

Você passa pela VRS-814? Tem familiares, trabalha ou vai para Nova Pádua com frequência? Então provavelmente já sabe o assunto desta página. As péssimas condições da estrada vicinal que liga Flores da Cunha e Nova Pádua são de conhecimento do público que sente na pele, ou melhor, nos veículos (e no bolso), a quantidade de buracos e o estado degradado da rodovia. O governador Tarso Genro (PT) anunciou reparos em estradas da Serra na semana passada, porém, a VRS-814 não está entre as contempladas pelo programa Contrato de Reabilitação e Manutenção de Rodovias (Crema). Na manhã de ontem, dia 18, o presidente da Câmara de Vereadores de Nova Pádua, Elói Marin (PMDB), esteve na Casa Civil, em Porto Alegre, pedindo pela inclusão da via no projeto.

Assim como a última matéria divulgada pelo O Florense em julho, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer-RS) informa que não tem previsão para obras efetivas de recapeamento na VRS. Com o intenso fluxo de veículos, tanto de moradores como das empresas instaladas ao longo da estrada, além das condições climáticas, os buracos ficam cada vez maiores e se multiplicaram. Nesta semana uma pequena operação tapa-buracos foi realizada principalmente no trecho que passa pela comunidade de São Martins – mas muitos outros permanecem ao longo dos mais de 12 quilômetros da rodovia.

Um levantamento d’O Florense apontou, mesmo após a operação tapa-buracos, mais de 80 buracos, o que resulta na média de sete ‘panelas’ por quilômetro. Além das péssimas condições do piso, a VRS não tem sinalização (vertical ou horizontal), acostamento e a vegetação toma conta das margens em determinados locais. Concluída em 1989, a VRS-814 já foi chamada de VRS-014 e VRS-314 e teve apenas um recapeamento total, feito em 2005, na gestão do então governador Germano Rigotto (PMDB).

Luta por melhorias
Acompanhado pelo secretário de Obras de Nova Pádua, Mauri Bedin, o presidente da Câmara de Vereadores, Elói Marin, esteve na Capital ontem para, além de solicitar à Casa Civil melhorias na estrada, percorrer gabinetes de deputados da região. O documento tem o pedido da deputada Maria Helena Sartori (PMDB), que solicita ao governo a destinação de R$ 1,5 milhão do Crema para o recapeamento da VRS-814. “Essa ida até Porto Alegre tem como principal objetivo tentar incluir nossa estrada nesse programa de recuperação. Ou pedimos pela municipalização da via. Temos condições de mantê-la”, sustenta Marin.

Esse é o 16º documento enviado pelo Legislativo paduense pedindo pelo recapeamento ou municipalização do trecho. Além de melhorias na via, são solicitadas roçadas, sinalização e acostamentos. De acordo com Marin, esse será o último documento enviado – uma manifestação pública será o próximo passo. “Vamos fazer tudo com muita cautela, mas a ideia é realmente fazer um protesto para trancar a VRS. Dessa forma não tem mais como permanecer. Depois de todos esses ofícios encaminhados não tivemos nenhum retorno por parte do Daer-RS”, ressalta Marin. “Nós queremos ter voz e vez, porque a comunidade também nos cobra”, complementa.

Com a proximidade do período da safra de uva, a preocupação aumenta com o fluxo de veículos, principalmente caminhões que escoam a produção. “O comércio do nosso produto é fora do município. Essa é uma preocupação muito grande por parte dos moradores. Muitas frutas são danificadas no percurso, o que resulta em prejuízo. O município perde e os produtores perdem”, pondera o presidente do Legislativo.

Prejuízos na ponta do lápis
Além de perigosa, a situação da VRS-814 causa prejuízos. Para o comerciante de frutas Ademir Bianchin, 38 anos, o percurso da VRS torna o custo da viagem mais alto, além de desvalorizar as frutas que ficam danificadas após passarem por trechos com buracos. “Todos os dias caminhões seguem com frutas para a região e o centro do país. As más condições prejudicam muito. Temos gastos com os caminhões, os fretes ficam mais caros, além da perda do produto. Já cheguei a registrar 30% de perda em uma carga em função dos buracos”, lamenta Ademir, que é sócio do irmão, Adair Bianchin, 42 anos. “Nesta semana arrumaram alguns buracos, mas a estrada ainda está ruim. Passam alguns dias e está tudo igual”, lamenta Adair.


Adair reclama dos constantes prejuízos com o caminhão e com as frutas.

A dupla produz principalmente pêssego, ameixa e uva. Ao ano, de 600 a 700 toneladas são plantadas em Nova Pádua e seguem para vários destinos do país. Arrumar um frete para levar essa produção é tarefa cada vez mais difícil. “Os freteiros pedem valores cada vez mais altos em função das condições da estrada. A via não tem acostamento, nem sinalização, além de todos os buracos. Para nós é complicado e influencia diretamente no nosso negócio”, complementam os produtores.

O que diz o Daer-RS
Confira a nota encaminhada por e-mail pela assessoria de imprensa do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagens (Daer-RS) sobre possíveis obras na VRS-814:

“A 2ª Superintendência Regional do Daer, com sede em Bento Gonçalves, informa que não há previsão para obras a serem realizadas na VRS-814. Todavia, têm sido realizados serviços de tapa-buracos na região. Devido às chuvas, estes serviços foram temporariamente interrompidos, mas foram retomados nesta semana. Sobre a ordem de licitação de R$ 150 milhões para serem investidos em estradas da região, informamos que houve a necessidade de elencar as estradas prioritárias, que são aquelas cujo tráfego apresenta maior volume de veículos.”

R$ 150 milhões para as estradas da Serra
Em reunião com representantes das Câmaras de Indústria, Comércio e Serviços da Serra (CICs), no dia 13, o governador Tarso Genro (PT) falou sobre a situação das principais rodovias que cortam a região, como as RSCs 470 e 453 (Rota do Sol), e as RSs 446, 324 e 431. Tarso anunciou a assinatura de uma ordem de licitação no valor de R$ 150 milhões para o programa de restauração de 200 quilômetros de estradas da região.


Audiência de Mauri Bedin e Elói Marin ocorreu com o subchefe da Casa Civil,
Cezar Augusto Kohl Martins (E), e o assessor da presidência da Assembleia, Micael Carissimi (D).


Acompanhado pelo secretário de Infraestrutura e Logística (Seinfra) do Estado, Beto Albuquerque, e pelo presidente do Daer-RS, Francisco Thorman, o governador ouviu solicitações de empresários da Serra, como maior autonomia da unidade do Daer-RS em Bento Gonçalves para atender as reivindicações regionais.

Para o governador, os mecanismos do Estado nem sempre funcionam com a agilidade necessária para responder as questões da sociedade. “Não se trata de problemas de recursos ou projetos, mas sim da execução de contratos que estavam defasados e que precisam ser reorganizados e, para isso, é preciso tomar providências que normalmente são impulsionadas pela população”, justificou. Conforme Tarso, o programa apresentado não deve apenas tapar buracos, mas sim praticamente reconstruir estradas.

O secretário Beto Albuquerque ressaltou que o próprio Daer-RS está sendo reestruturado para que o processo de liberação das obras tenha mais agilidade. “O cidadão não pode esperar meses para ter uma estrada de qualidade e segurança. Nós herdamos um Estado sem contratos na Serra. As obras de conservação estavam ausentes desde 2009, e agora estamos correndo atrás do prejuízo”, disse. A expectativa é de que o edital do Crema seja concluído em 120 dias. As obras em rodovias devem iniciar em março.

Cinco vias estão incluídas no Crema: RSC-470 (Carlos Barbosa a Nova Prata); RSC-453 (Rota do Sol); ERS-446 (Carlos Babosa a São Vendelino); ERS-324 (Nova Bassano a Passo Fundo) e ERS-431 (Dois Lajeados).

União deve ser valorizada
O presidente do Centro Empresarial de Flores da Cunha, Vanderlei Dondé, participou do encontro com o governador no dia 13. De acordo com Dondé, Tarso Genro está sendo pressionado pela Associação das Entidades Representativas da Classe Empresarial da Serra (CICS Serra) sobre a situação das estradas da região. “A VRS-814 não está contemplada no Crema, mas estava entre os apontamentos do Daer-RS.

Cabe aos atuais prefeitos e lideranças de Flores da Cunha e Nova Pádua se unirem e pressionarem o governo estadual por meio da Seinfra e Daer-RS, para que a estrada tenha melhorias”, aponta. O Crema buscou incluir vias regionais. “É desanimador, pois o governador somente anunciou a medida que irá para licitação. Vai levar um tempo para iniciarem as obras de fato. Se Flores e Nova Pádua não se unirem e se representarem juntos em Porto Alegre, será mais difícil conseguir o pedido”, acredita o Dondé.

Estrada volta ser chamada de Dom Benedito Zorzi
A VRS-814 também teve diversas nomenclaturas. Inicialmente denominada Estrada Dom Benedito Zorzi, em 2010 um projeto encaminhado pelo então deputado estadual Alberto Oliveira (PMDB) foi aprovado no parlamento e sancionado em 2011 por Tarso Genro (PT), denominando a vicinal de Rodovia Ângelo Araldi (ex-prefeito florense).

Contrárias, lideranças paduenses abriram processo para que a via retornasse para a antiga nomenclatura – Estrada Dom Benedito Zorzi (religioso natural de Nova Pádua). Com a justificativa de insatisfação da comunidade com a alteração do nome, o processo seguiu para a Comissão Mista Permanente de Participação Popular da Assembleia Legislativa e foi aprovada em agosto. Dessa forma, a VRS-814 voltou a se chamar de Estrada Dom Benedito Zorzi (ex-bispo da Diocese de Caxias do Sul).

Presidente da Câmara paduense, Elói Marin levou a Porto Alegre 16º pedido para recapeamento da rodovia. - Camila Baggio
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