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Avenida 25 de Julho pelos olhos do florense Cláudio Muraro

Com 86 anos, empresário lembra da casa da professora que lhe alfabetizou, além do Hospital Santa Terezinha, de propriedade do Dr. Gonzáles, e o início da construção e expansão da Muraro Bebidas

86 anos e uma memória de dar inveja. Esse é Cláudio Muraro, filho de Ernesto Gaetano Muraro, que lembra com detalhes como era a Avenida 25 de Julho na sua infância e adolescência e conta sobre a trajetória da Muraro Bebidas, empresa familiar que, em 2023, completa sete décadas. “Eu sei de todas as casas daqui até lá no fundo, quem é que morava na Avenida 25 de Julho”, conta Muraro, que recorda com nostalgia o tempo em que Flores da Cunha tinha apenas três automóveis: “Eu estou com 86 anos, eu vi Flores da Cunha quando tinha apenas três automóveis: um era do Dr. Gonzáles, outro do Francisco Conte, que era motorista de táxi, e outro do meu pai – que era diretor da cooperativa São Pedro, na época. Isso quando eu tinha uns nove anos. Aos 12, comecei a estudar nas Irmãs de São José”, relembra – antes, na alfabetização, Cláudio estudava em uma escola na localidade de São Cristóvão e sua professora residia na Avenida 25 de Julho, Iolanda Corso. “Ela ia a pé, da sua casa até a escola, e lecionava para o 1º, 2º, 3º, 4º e 5º ano. Ela tinha uma voz maravilhosa. Eu compararia hoje com a voz dos anjos do céu. A gente cantava o hino, todo o dia um hino diferente, antes de entrar na escola, e ela cantava e tinha uma voz divina”, revive Muraro.
Já no início da vida adulta, com seus 18 anos, Cláudio Muraro viu o pai criar a Muraro Bebidas. “Nós começamos a construir na frente do armazém Longo, que era da Dileta Longo, e era a única construção que tinha ali, na época. E na nossa quadra também tinha a família do Orestes Pradella, que era dono do cinema”, lembra, ao falar da Avenida 25 de Julho. 
A Muraro Bebidas foi criada em 27 de novembro de 1953 – em 2023 completa 70 anos de atuação em Flores da Cunha. Na época, o empresário estava no quartel e ajudava aos sábados, domingos e dias de folga. “A construção dos prédios da empresa, na Avenida, ficou pronta em 1955, ano em que eu me formei em perito contador. Então assumi a contadoria da empresa. Fui contador durante 15 anos e depois comecei a viajar. Eu gostei de viajar para vender e conheci todos os municípios do Rio Grande do Sul – 147 municípios. Eu visitei todos eles e tenho orgulho de dizer que vendi em todos eles”, conta Muraro que, tem orgulho de sua trajetória como empresário. 
Muraro foi o único dos oito filhos de Ernesto que assumiu a empresa ao lado do pai. “Começamos juntos, eu e meu pai. Mas como ele viu que eu tinha condições de mandar e que mandava direito, todo mundo me obedecia, ele foi largando. Ele vinha para o escritório e não fazia nada, só falava com os empregados, pedia como estava. Mas ele, praticamente, largou na minha mão desde o início”, conta Cláudio orgulhoso, já que a empresa está na quarta geração da família. “Eu tenho muito orgulho de ver que todo o meu trabalho está tendo continuidade com a minha família. Eu tenho um filho que é mais inteligente do que eu, e temos que partir daí. O Renato é dinâmico, inteligente, perspicaz, é um bom administrador, e atrás dele, agora, meu neto, o Frederico, a quarta geração. Eu fico orgulhoso de ver que o negócio vai indo. Isso é muito gratificante. E agora sou eu que não faço mais nada”, destaca, aos risos, enfatizando que a Muraro Bebidas sempre teve sucesso. “Nunca tivemos crise, eu nunca soube o que é uma crise ou que faltasse dinheiro para pagar as contas. Nesses quase 70 anos, nunca. Não progrediu como uma grande empresa, mas dentro dos moldes dela, uma empresa razoável. Nós exportamos para diversos países do mundo, vendemos para o Brasil inteiro, em qualquer lugar do Rio Grande do Sul que tu vai, tem bebidas Muraro”, relata, com gratidão.
É claro que a primeira exportação não poderia deixar de ser contada pelo empresário. O ano era 1973, em Kinshasa, na África, no valor de 200 mil dólares. “Eu estava lá junto com um argentino. Fomos em uma exposição de bebidas”, conta Muraro, que lembra até o nome do presidente da época, Mobutu Sese Seko. “Nessa exposição fizemos contatos para venda. Em um primeiro momento vendemos 5 mil caixas. Carregamos as jamantas (caminhões) e colocamos uma faixa que cruzou a cidade, ‘De Flores da Cunha para a África’. Depois eu fui para diversas outras exposições e começamos a expandir internacionalmente”, relembra, enfatizando que tudo iniciou com a cachaça e, ao longo dos anos, o portfólio só cresceu.
E a Avenida 25 de Julho continua viva na história da família, pois foi no Hospital Santa Terezinha, na mesma rua, onde nasceram os filhos de Cláudio: Roberta, Raquel, Renato e Cláudia. Todos nasceram no hospital do Dr. Gonzáles, no qual, atualmente, sua primogênita reside. “O Hospital, na Avenida, foi construído pela administração de Pedro Rossi, e finalizado por Raimundo Paviani. Após, o Gonzáles acabou comprando, e isso foi uma polêmica na cidade – se a prefeitura devia ou não vender. Mas ele comprou, ficou e foi um grande médico”, finaliza, contando também que, como descendente italiano, foi agraciado na Itália com duas comendas, nas cidades de Arsiè e Longarone, na Província de Belluno, em 2013. 

Cláudio Muraro, aos 86 anos, relembra sua forte relação com a  Avenida 25 de Julho. - Gabriela Fiorio Prédio da Muraro Bebidas foi construído na Avenida 25 de Julho e ficou pronto no ano de 1955. - Divulgação
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