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Atenção aos sinais deve ser fundamental para prevenir o jogo virtual ‘Baleia Azul’

Prática em grupos de redes sociais como Facebook e WhatsApp pode levar jovens a mutilações corporais e até ao suicídio

Detectar quando uma criança tem problemas para processar as informações e a formação que recebe não é somente uma tarefa dos professores e das escolas. Os pais também devem estar atentos e conscientes dos sinais mais frequentes que indicam a presença de um problema no desenvolvimento ou comportamento da criança. Nessas horas ninguém pode ‘fechar os olhos’, pelo contrário, é preciso abri-los para alertar e orientar as crianças e adolescentes, principalmente pelo crescente número de casos envolvendo o jogo virtual ‘Baleia Azul’, que pode levar jovens a mutilações corporais e até ao suicídio. O jogo é praticado em grupos fechados de redes sociais como Facebook e Whatsapp e instiga os participantes, na maioria adolescentes, a cumprirem 50 tarefas, sendo que a última delas seria o suicídio.

De acordo com o Ministério da Justiça, que determinou a investigação pela Polícia Federal (PF), foram identificados casos em Estados como Paraná, Minas Gerais, Pernambuco, Maranhão, São Paulo, Amazonas e Rio Grande do Sul. Pelo menos três mortes suspeitas de estarem relacionadas ao suposto jogo e à série de TV 13 Reasons Why (‘13 razões para’, em tradução livre) são investigadas, assim como outros casos suspeitos. Em solo gaúcho, pelo menos oito tentativas de suicídio foram registradas em Porto Alegre. Na Serra, Farroupilha teve um caso confirmado de ‘Baleia Azul’. Em Flores da Cunha, segundo levantamento feito pelo Jornal O Florense junto à rede de atendimento, principalmente o Conselho Tutelar, houve uma informação que foi verificada e não se confirmou.

Em virtude da ampla repercussão do jogo ‘Baleia Azul’, o Departamento de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Flores da Cunha elaborou dicas (veja quadro abaixo) com orientações para escolas, famílias e comunidade para a identificação de possíveis casos de violência autoprovocada ou autoinfligida. Cabe salientar que nem todo caso de automutilação, isolamento ou comportamento de risco caracteriza o envolvimento da criança ou adolescente com o jogo. No entanto, todos os sinais devem ser levados em conta e conduzidos adequadamente, por indicarem sofrimento psíquico.

A família é fundamental nesse processo, sendo necessário o aumento da atenção dos pais e responsáveis para o comportamento dos jovens. A melhor forma de prevenção é o cuidado e a atenção. É fundamental que os responsáveis envolvam-se nas atividades cotidianas dos jovens, conhecendo o que fazem, aonde vão, com quem convivem e o que acessam na internet. O diálogo deve ser favorecido no ambiente familiar, assim como o afeto e o vínculo para que o jovem se sinta seguro e fortalecido emocionalmente.

Não é fácil falar de morte, de suicídio. Não é fácil tratar de histórias de quem tira a própria vida, ainda mais um menor de idade. Porém, é a realidade de uma sociedade extremamente individualista, que coloca em risco o maior patrimônio que o ser humano tem: a vida.

 

UCS promove seminário

Discutir os eventos relacionados ao jogo ‘Baleia Azul’ e suas repercussões, que vão da mutilação pessoal ao suicídio e homicídio, passando pelos impactos familiares e educacionais é o objetivo do seminário Baleia Azul: da banalização da violência ao suicídio, que aconteceu na Universidade de Caxias do Sul (UCS) na quarta-feira, dia 10 de maio. O jogo estimula adolescentes, por meio de redes sociais, a realizarem tarefas que vão desde assistir filmes de terror à automutilação e até suicídio. A imagem de uma baleia azul é utilizada como código e é enviada a adolescentes selecionados em grupos fechados do Facebook ou WhatsApp. Na sequência, um curador, como é chamado o administrador das tarefas, passa ao jovem 50 missões em diferentes níveis de dificuldade. A última tarefa é o suicídio.

Quando o desafio virou assunto na internet e todos comentavam sobre ele, muitas pessoas levantaram a hipótese do jogo ser uma farsa. A psicóloga Maria Elisa Fontana Carpena, professora do curso de Psicologia da UCS, afirma que tratar o desafio como uma farsa é uma irresponsabilidade. O assunto é grave e deve ser debatido entre pais, jovens e educadores. A psicóloga enfatiza que mesmo que o jogo fosse uma fraude, o adolescente tende a ser influenciado por “modismos”. “Para que possamos auxiliá-lo nessa etapa tão complicada da vida, é necessário oportunizar reflexões e críticas sobre acontecimentos como esse. Escutar o que o jovem tem a dizer é muito importante”, diz. Maria Elisa afirma que, atualmente, doenças como depressão e ansiedade são frequentes entre os adolescentes, pois vive-se em uma era do “descartável”, com grande enfoque no individualismo. 

 

Fique atento

Segundo a Secretaria da Saúde de Flores da Cunha, solicita-se atenção redobrada dos pais, familiares e profissionais da saúde, em especial, quando forem identificados pelo menos três dos seguintes sinais:

– Isolamento social ou familiar.

– Perda de interesse em atividades que costumava fazer.

– Mudanças nos hábitos do sono e alimentação.

– Irritabilidade e/ou apatia.

– Piora no desempenho escolar ou recusa em ir à escola.

– Comportamentos autodestrutivos (cortes, queimaduras, perfurações pelo corpo, uso de álcool e outras drogas, exposição a situações de risco).

– Mudança repentina de comportamento.

– Pesquisas sobre envenenamento, medicamentos ou suicídio.

– Exposição à violência.

– Situações de bulliyng.

– Histórico de abuso sexual.

– Melhora repentina de quadros depressivos (aumento de risco de suicídio – encorajamento).

– Tentativas de suicídio recorrentes.

– História de suicídio ou tentativas de suicídio na família.

– Postagens nas redes sociais que se referem à morte, à finitude, que indiquem despedida, tristeza ou baixa autoestima.

– Interesse aumentado por filmes de terror e músicas psicodélicas.

– Comportamentos voltados à agressividade, à violência (não comuns anteriormente).

– Preocupação com morte, verbalização sobre o assunto, interesse por temas dessa ordem.

 

Onde buscar orientação

– Serviço de Psicologia: localizado no Centro de Saúde Irmã Benedita Zorzi, se caracteriza pelo acompanhamento psicológico de pessoas que apresentam sofrimento psíquico, incluindo conflitos familiares, luto, problemas comportamentais, entre outros. Telefone: 3292.6800.

– Centro de Atenção Psicossocial – Caps I Florescer: atendimento de pessoas que apresentam intenso sofrimento psíquico, com sintomas severos e persistentes, incluindo dependência química de álcool e outras drogas. Atende crianças e adultos na Rua Professora Maria Dal Conte, 2.807, no Centro. Telefones: 3292.5372 e 3292.5388.

– Samu, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência: deve ser acionado em casos de risco, compreendidos por ingestão medicamentosa, automutilação grave, lesões, quedas e tentativa de suicídio. Telefone: 192.

– Hospital Beneficente Nossa Senhora de Fátima: tem 4 leitos de saúde mental, os quais são regulados, conforme avaliação do médico clínico plantonista. Configuram casos para internação aqueles que apresentam risco de vida.

Fonte: Secretaria da Saúde de Flores da Cunha.

 

A melhor forma de prevenção é o cuidado com o que os menores fazem na internet. - Antonio Coloda/O Florense
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