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As incertezas da vindima 2009

A hora da verdade está chegando. Foi em meados do ano que vinicultores e produtores de uva passaram a apontar o ‘pior momento da história do setor vitivinícola’. Dentro de um mês, mais ou menos, com o início da safra, a extensão da denúncia começará a ser confrontada com a realidade.

A hora da verdade está chegando. Foi em meados do ano que vinicultores e produtores de uva passaram a apontar o ‘pior momento da história do setor vitivinícola’. Dentro de um mês, mais ou menos, com o início da safra, a extensão da denúncia começará a ser confrontada com a realidade. Será o momento de se passar a efetivamente dimensionar o acerto da advertência, lançada por líderes da cadeia produtiva, de que poderia não haver na vindima colocação para toda a matéria-prima do vinho. Na previsão da indústria, deve-se fechar 2008 com estoques de aproximadamente 300 milhões de litros de vinho, mais ou menos o dobro da média registrada em ‘anos normais’ – ou o equivalente a uma safra. Na perspectiva dos representantes dos viticultores, a produção de uva na vindima que logo inicia deve diminuir em relação à registrada esse ano – 634 milhões de kg, a maior da história. Contudo, não arriscam uma estimativa quanto a tal queda, posto que os danos, com o excesso de chuvas e de umidade ocorrido no período de floração, foram bastante variáveis. É o caso do agricultor Antônio Golin, de Santa Líbera. Na área de 10 hectares de uva Bordô, o agricultor pretendia colher 300 mil quilos de uvas. Mas, devido a doenças nas videiras, ele deverá colher em torno de 100 mil quilos. Mas voltando ao que se tem: cerca de 300 milhões de litros de vinho estocados, a 31 de dezembro de 2008, e uma quebra de safra ainda não-dimensionada – mas não a ponto de afastar muito a produção de, pelo menos, 600 milhões de kg de uva. Na ‘outra ponta’, um mercado que, em 2008, de janeiro a outubro, consumiu 14,72% menos vinho do que no mesmo período do ano anterior – ou 165,1 milhões de litros, englobando de mesa e finos, ante 193,6 de 2007. Definitivamente, mais do que tudo, são inquietações o que a safra que logo começa promete a todos os envolvidos com o setor vitivinícola. Redução no recebimento já definida Por exemplo, uma das principais processadoras, em volume, de vinhos de mesa no Brasil, a União de Vinhos do Rio Grande, de Flores da Cunha, já decidiu: em 2009, receberá mais ou menos 40% menos uva do que a vinificada em 2008. Traduzindo, a previsão da empresa (que já chegou a receber 16 milhões de kg, noutros tempos) é industrializar, na safra vindoura, 7 milhões de kg – diante de 12 milhões em 2008. “Não tem como receber a mesma quantidade que a de outros anos, é uma questão de espaço físico”, lamenta o diretor da empresa, Arnaldo Passarin. De ampla atuação institucional – é vice-presidente da Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi) e do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), o qual já presidiu –, ele estima que sua vinícola chegue a 31 de dezembro com mais de 8 milhões de litros de vinho em estoque. “É o maior da história. O fechamento do ano sempre foi, no máximo, com 3 milhões de litros estocados”, afirma o empresário. Diante do quadro, a União de Vinhos tem recomendado a seus fornecedores – que são cerca de 500 – práticas como a poda verde, para diminuição da carga produtiva e, concomitantemente, aumento da qualidade da matéria-prima. Sobre a remuneração para os viticultores, Passarin diz que se trata de assunto a ser ainda definido. “Por enquanto, no meu caso, estou mais preocupado com a questão do espaço físico”, diz ele, que observa que de meados a dezembro até a primeira semana de janeiro, quando a quantidade se define mais efetivamente, fará levantamento junto aos fornecedores, avisando, quando necessário, que busquem colocação para os excedentes. “É desagradável, mas não tem como fazer milagre”, lastima, observando que, por conta da lei da oferta e da procura, o “vinho vem sendo comercializado a valores abaixo do ideal”. “Falta estímulo para fazer vinho”, opina, a respeito, o diretor-executivo da Agavi, Darci Dani. “Já em 2007 foi difícil absorver a produção; portanto, tenho o receio de que vamos ter sobra de uva nos parreirais esse ano”, completa. Uma safra menor O coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, de outra parte, fala em quebra de produção, mas não arrisca percentuais. Ele diz já ter “ouvido relatos de produtores, de Flores da Cunha, de queda de 50%” com a variedade de uva Bordô. Por conta disso, de acordo com Schiavenin, já tem havido procura por tal cultivar. Sobre a possibilidade de excedente de uva, diz: “Quero crer que, se houver algum prejuízo, ele será dividido por todos, e não fique só com uma parte – o viticultor, que já está gastando mais com insumos”. “Não estou nem pensando, nem imaginando que não haverá colocação para toda a uva, completa. Debate sobre a remuneração pela uva vai à Brasília Será na Capital Federal, segunda-feira que vem, dia 15, a próxima rodada de debates sobre a remuneração pela uva na safra que está por começar. Às 13h30min, na sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em Brasília, líderes dos viticultores e da indústria vinícola serão recebidos por representantes da União. As informações são do coordenador da Comissão Interestadual da Uva (Comiuva), Olir Schiavenin. O governo federal foi convidado a integrar acordo que está sendo alinhavado entre as partes, participando do processo através do estabelecimento de políticas para garantir o preço mínimo e, principalmente, da adoção de instrumentos para o controle de estoques, acrescenta o diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Carlos Paviani. Ele destaca a postura do setor como “um sinal de maturidade, fortalecimento e unidade”. Os viticultores requerem, com base em estudo do custo de produção apresentado à cadeia produtiva dia 28 de novembro, R$ 0,55 como mínimo pelo kg da uva americana ou híbrida com 15 graus glucométricos. A indústria vinícola, de outra parte, diante da retração das vendas em 2008 – de 14,72% de janeiro a outubro, em relação ao mesmo período de 2007 – e da perspectiva de alto volume de estoques até o final do ano – de 300 milhões de litros, o dobro do que em outros exercícios –, afirma incapacidade de absorver qualquer custo que aumente o preço do vinho. O agendamento da reunião em Brasília é decorrente de rodada de tratativas na sexta-feira da semana passada, dia 5, em Bento Gonçalves. Na ocasião, definiu-se que o Ibravin, como representante da cadeia produtiva, enviaria ofício ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, com cópia a diversas outras figuras de alto escalão do governo federal. O documento, mandado ainda na tarde de sexta passada, informa a intenção de viti e vinicultores de chegarem a um consenso sobre a remuneração pela uva, mas condicionado à participação da União no contexto. Desde 2007 o preço mínimo está fixado, pelo governo federal, em R$ 0,46 por kg de uva comum com 15 graus glucométricos.
O agricultor Antônio Golin deverá colher 200 mil quilos abaixo do pretendido - FOTO/NAHORA/ANTONIO COLODA
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