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As histórias de um ‘florense’ na Força Nacional

Catarinense Mauro Bernardi, que é soldado há sete anos no município, integrou por mais de um ano as missões do grupo especializado em segurança pública

Ele não é de Flores da Cunha, mas escolheu a cidade para trabalhar e fixar residência. O soldado Mauro Bernardi, 42 anos, atua na Brigada Militar (BM) e há pouco tempo voltou de uma experiência única: por mais de um ano integrou a Força Nacional de Segurança Pública. Entre outras missões, o policial atuou em operações especiais como a desenvolvida em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, durante os deslizamentos ocorridos no dia 11 de janeiro de 2011. De volta a Flores da Cunha – onde mora com a esposa e o filho –, ele garante que a experiência profissional foi muito válida.

Há sete anos Bernardi deixou a terra natal, Caibi, no extremo sul de Santa Catarina, para morar na Serra Gaúcha. O pedido de transferência foi muito batalhado pelo filho de imigrantes italianos, que queria se sentir mais “em casa”. No Estado vizinho, atuava na Polícia Militar (PM). Bernardi acumula 19 anos de trabalho e, nos verões, parte para o litoral gaúcho para atuar como salva-vidas. Em 2012 ele não foi para a praia por um motivo especial: ficar perto da família, da qual passou tanto tempo longe.

A experiência na Força Nacional teve um gosto especial para o soldado, pois marcou seu aniversário de 41 anos. “É uma idade de certa forma elevada, perto da gurizada que disputa vagas conosco... Foi muito interessante. O convívio com culturas e locais diferentes é único”, assegura. Outra característica que ele destacou foi a diferença na forma de trabalho do gaúcho e dos demais Estados brasileiros. “Nós nos destacamos automaticamente, foi notável. Os policiais do Sul são mais rápidos”, conta, orgulhoso.

A oportunidade
Em novembro de 2010, Bernardi deixou Flores da Cunha para integrar a Força Nacional de Segurança Pública. A oportunidade veio por meio de uma indicação do então comandante do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO/Serra), coronel Telmo Machado de Sousa, que recomendou o soldado para uma das 17 vagas destinadas ao Rio Grande do Sul. Em seguida, foram realizados testes físicos para a seleção que reuniu 129 brigadianos. “É como um vestibular para Medicina: todos querem, mas vagas são poucas”, compara.

A experiência proporcionou ao policial a convivência com colegas de 17 Estados que possuem o pacto federativo entre governadores e o Ministério da Justiça. Após a seleção de cada Estado, os aprovados embarcam para Brasília, onde iniciam treinamentos intensos. Bernardi deixou Flores e foi para Luziânia, em Goiás. “Foram 21 dias de curso onde as áreas intelectual e física são muitos exigidas. Em algumas noites dormimos apenas quatro horas”, conta.

As missões
Após a conclusão do curso, pela qualificação como motorista, Bernardi permaneceu na escola por mais 40 dias. Em janeiro de 2011 seu grupo viajou para Teresópolis, no Rio, onde recém havia ocorrido a série de desmoronamentos devido ao excesso de chuva. A Força Nacional auxiliou os Bombeiros nos resgates e fez o policiamento para evitar possíveis saques e também proporcionar segurança aos moradores locais. Essa primeira missão durou quatro meses. “O desastre lá foi imensamente grande. Nós moramos literalmente em praça pública. A rotina era muito intensa e não tinha horário certo de trabalho”, lembra Bernardi.

Após, os policiais retornaram para Luziânia, onde montaram equipes que agiram no entorno de Brasília, onde a criminalidade era muito alta. Depois de três semanas, a equipe foi novamente requisitada de forma emergencial, dessa vez no Acre, onde a polícia local estava em greve. Uma nova missão do grupo foi em Marabá, no Pará, onde um casal de ambientalistas fora assassinado. O destino foi um dos mais lembrados por Bernardi. “O Pará é muito interessante. Conheci cidades como Canaã dos Carajás, Nova Ipixuna e a rodovia Transamazônica”, salienta.

O apoio da família
O contraponto da ótima vivência profissional do soldado Mauro Bernardi foi a distância e a saudade da família, que ficou em Flores da Cunha. Para os que almejam uma experiência similar, o PM avisa: a estrutura familiar é a base, pois a distância é um dos pontos mais difíceis de serem administrados. “Minha esposa foi uma guerreira que cuidou do meu filho quando eu não estava aqui. Então, a pessoa tem que ter um suporte da família, senão não vai, ou vai e desiste”, recomenda. São muitos os casos de reprovação e desistências. Na turma de Bernardi, dos 162 que iniciaram na Força Nacional, 148 seguiram até o final. “Em um ano e dois dias vi minha família apenas duas vezes. Lá, eles deixam bem claro que a prioridade é a Força Nacional”, comenta.

O esforço físico e psicológico ‘andam’ juntos, uma receita difícil para muitos profissionais. “Você não dorme numa cama, raramente tem conforto, as viagens são longas e o calor é intenso. Mas aprendi muitas coisas, entre elas, a importância de ser paciente, principalmente nas longas missões. A amizade também foi muito importante. Aprendi línguas diferentes. E o que recompensa é o término da missão com sucesso”, completa o militar.

A participação de Bernardi foi encerrada, porém, continua integrando a Força Nacional de Segurança – ele deve estar sempre alerta para possíveis chamados. “Abro meus e-mails todos os dias, pois a convocação é rápida e já chega com a passagem aérea. Podem nos convocar a qualquer momento. Por isso é importante entrar e sair pela porta da frente, sem erros. Justiça e disciplina são os principais focos. Você tem que estar sempre focado na missão”, destaca o catarinense (agora florense) Bernardi.

A Força Nacional
A Força Nacional de Segurança Pública foi criada em 2004 com o objetivo de ser um programa de cooperação de segurança no país, coordenado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), ligada ao Ministério da Justiça. A Força Nacional é acionada quando um governador requisita auxílio federal para conter atos que atentam contra a lei e a ordem e que podem sair do controle das forças de segurança locais.



Entre outros locais, soldado Mauro Bernardi trabalhou no Rio de Janeiro, em Brasília e no Pará.   - Camila Baggio
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