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As antigas memórias da nova Praça da Bandeira

Hoje Flores da Cunha irá conhecer a revitalizada Praça da Bandeira, local de lazer, encontro e, mais do que isso, cenário de incontáveis recordações no coração do município

A florense Carla Maria Sugari tem na lembrança, e em inúmeros álbuns recheados de fotos, a infância divertida ao lado dos irmãos e vizinhos. Na frente de casa ela aprendeu a andar de bicicleta, subir em árvores, dar voltas no balanço, soltar pipas e até a largar barquinhos de papel pelos rios imaginários formados pela chuva no meio-fio da rua. O pátio de dona Carla? A Praça da Bandeira. Neste sábado, dia 13 de fevereiro, a comunidade florense poderá conhecer os espaços revitalizados e, com a dona Carla, recordar belas memórias do local de lazer que recebeu um investimento superior aos R$ 2,6 milhões e há oito meses está cercado por tapumes. A programação alusiva à inauguração da revitalização da Praça da Bandeira inicia às 16h deste sábado, com apresentações locais, a presença de autoridades e show com a banda Porto. Até as 22h a comunidade poderá aproveitar as atividades no espaço que, embora com ambientes novos, ainda carrega consigo muitas histórias e memórias.

A família da florense Carla Sugari, 56 anos, vivia em uma casa na Rua John Kennedy – onde hoje fica a loja Quero-Quero, e onde mantinha o Mercado Mascarello, fundado pelo avô Ulisses. Das opções de brincadeiras na infância, a Praça da Bandeira estava sempre em primeiro lugar. “Tudo o que fazíamos era na praça. Era a grande diversão minha, de meus irmãos e das crianças que moravam pelas redondezas. Quantas boas lembranças tenho deste lugar”, recorda Carla.

A Praça era também o cenário preferido da mãe de Carla. Solange Mascarello Michelon colecionava fotos da família. Contemplava as flores coloridas dos jardins, os dias de neve, as árvores, e tudo era carinhosamente enquadrado nos retratos e preservado na história da família – e da praça. “Ela sempre foi apaixonada por bater fotos e fez isso muito comigo e meus irmãos Silvia, Adriana e Rogério, e nosso pai Vicente. Assim como eu tenho muitas fotos minhas na praça, fiz questão de manter essa tradição com meus filhos. Temos álbuns com fotos em todos os cantos da praça. O cenário era sempre esse”, acrescenta Carla, exibindo as fotos dos filhos Nicole, Mateus e Larissa.

Fotos: Camila Baggio/Jornal O Florense

O lugar escolhido pela florense Carla Maria Sugari para exibir algumas das muitas fotos batidas pela família na Praça da Bandeira é o mesmo onde brincou na infância.


Sábado para conhecer e recordar

Nesta semana, a convite do Jornal O Florense, Carla foi até a Praça da Bandeira e, em um banco bem pertinho ao local onde mais brincava quando era criança, se sentou para mais uma foto. “Este gramado ainda está como era, com um pequeno morro e bem de frente para nossa antiga casa. A Praça está linda”, adianta dona Carla, mesmo com os retoques finais em andamento na tarde de segunda-feira. Para ela, mesmo com um ambiente diferente, o local leva consigo a história do município.

É essa sensação de recordar que os florenses estão convidados a experimentar neste sábado, dia 13, com a programação de inauguração da Praça. “Tenho quase 24 anos de vida pública e sempre existiu esse sonho por parte da comunidade florense. É um sonho que concretizamos para que a Praça, que sempre foi, continue sendo o palco dos principais acontecimentos do município. Um local de perceptivas, harmonia e convívio para a comunidade. Isso foi possível com muito planejamento, principalmente financeiro, e um cronograma de obras que não prejudicou o desenvolvimento do município”, destaca o prefeito de Flores da Cunha, Lídio Scortegagna.

Depois de inaugurada, a Praça da Bandeira terá um zelador que fará a manutenção diariamente, e um guarda municipal durante as noites, além do monitoramento das câmeras de segurança.

A partir das 16h de sábado, a comunidade poderá prestigiar apresentações culturais locais e, às 17h30min, tem início a solenidade que prevê, entre outras autoridades, a presença do governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori. Uma praça de alimentação com opções gastronômicas diversificadas, recreação infantil com pinturas de rosto lúdicas, exposição de fotos históricas da praça, entre outras atividades, integram a programação que se estende até às 22h.

O Jornal O Florense estará presente com uma exposição de capas de edições antigas, ação relacionada aos 30 anos de fundação do periódico.

Foto: Fabiano Provin/Jornal O Florense


Programação

16h – Apresentação do Coro dos Canarinhos de Flores da Cunha.
16h30min – Apresentação do grupo SOU – Cantadores de Histórias.
17h – Apresentação do Coro Municipal.
17h30min – Solenidade de inauguração, com apresentação da Banda Florentina e do Coral Nova Trento.
19h – Show da banda Porto
20h30min – Show da Banda Andrellas.


Pedras talhadas pelas mesmas mãos

A moderna Praça da Bandeira, embora com elementos novos e contemporâneos, ainda mantém características da tradição e história de Flores da Cunha e de sua gente. Na sua primeira ida até o novo espaço de lazer não perca nenhum detalhe. Olhe para cima, para os lados, mas não se esqueça do chão. As pedras de basalto que arquitetam a calçada e que circundam a praça foram caprichosamente acomodadas por uma pessoa que conhece muito bem cada cantinho do local. O pedreiro Hermogine Girotto, aos 70 anos, voltou a um dos primeiros lugares em que aprendeu a profissão que segue até hoje. Ele foi o construtor da primeira calçada instalada na Praça da Bandeira, em 1958, quando tinha apenas 13 anos de idade. Em 2016, ele voltou com o filho Edenilso Girotto, 47 anos, para revitalizar um trabalho que, para ele, é motivo de muito orgulho.

Na época, Hermogine e o irmão mais velho, Valter Francisco, talharam o basalto na propriedade da família, em Vacaria, e instalaram as pedras na primeira calçada da praça na época chamada de 15 de Novembro. O trabalho realizado em 1958 demorou quase três meses de trabalho. Foi encomendado quase 20 anos após o logradouro existir – fotos tiradas entre os anos de 1930 a 1940 revelam a construção do local, com a edificação dos canteiros e a colocação dos meios-fios. “Vínhamos de Vacaria e durante a semana ficávamos instalados no antigo Hotel Brasil. Lembro que a praça era de chão batido e existia uma fábrica de garrafões ao lado. No final de semana, quando o Rio das Antas não estava invadindo a estrada, voltávamos para ver a família”, recorda o trabalhador.


O pedreiro Hermogine Girotto fez a primeira calçada da Praça da Bandeira, em 1958. Mais de 50 anos depois, acompanhado pelo filho Edenilso, ele retomou o trabalho.

No ano passado, 57 anos depois, com o início da revitalização da Praça da Bandeira, seu Hermogine retornou ao mesmo local para, mais uma vez, dedicar seu talento ao local considerado o coração de Flores da Cunha. Desta vez ao lado do filho. “Voltar a trabalhar aqui é uma honra sem tamanho. É a minha história e posso dizer que meu maior presente foi a oportunidade de ajudar a reformar esse local que me traz tantas boas e únicas lembranças. E fazer isso ajudando meu filho que seguiu a minha profissão é um orgulho”, destaca Hermogine.

Natural de Vacaria, há 20 anos a família Girotto fez de Flores da Cunha seu lar. Com a mudança de cidade, o filho Edenilso passou a seguir a profissão do pai. “Começamos trabalhando juntos e assim fizemos até hoje. Receber essa tarefa da Unic Engenharia foi uma grande surpresa e hoje a Praça da Bandeira faz parte da memória da nossa família, tem um pouco de mim e tudo do meu pai. Esse é meu maior orgulho”, emociona-se Edenilso, que garante que vai exibir o trabalho aos filhos e, futuramente, quem sabe aos netos. “Não sei se terei a oportunidade de reformar essas pedras como meu pai teve, mas sem dúvida a Praça da Bandeira se tornou uma lembrança única para nós”.

Desde junho do ano passado, quando iniciaram as obras de revitalização, Hermogine e Edenilso trabalharam na colocação de cerca de 1,6 mil metros quadrados de pedras de basalto, vindas da cidade de Paraí. O trabalho foi entregue no final de janeiro, acompanhado pelos sentimentos de honra, entusiasmo e respeito. “Até hoje trabalhamos com o mesmo intuito de quando começamos. Até mesmo o modo de acomodar as pedras é o mesmo. Esta é uma praça histórica e me sinto muito feliz”, garante Hermogine.




 - Larissa Verdi
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