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Amor incondicional

O amor de mãe pode ser traduzido em uma palavra: doação.

O amor de mãe pode ser traduzido em uma palavra: doação. Falar desse sentimento é entender que ele é a mais completa forma de amor. Um amor que se doa, coloca em primeiro plano o bem-estar e a segurança de um outro ser. No próximo domingo, dia 10, comemora-se o Dia das Mães. Em virtude disso, O Florense conta duas histórias que têm como protagonistas esses seres chamados mães. São duas histórias que, a princípio, não têm nada em comum, mas que estão interligadas pelo sentimento de doação. Na primeira delas, um ato de amor incondicional. O gesto de uma mãe, que ao ver o filho com um grave problema de saúde, não hesita em oferecer-lhe um órgão. Foi o que fez a mãe Eligéde Pan, em junho do ano passado, ao doar um de seus rins para seu filho, Maicon Pan. A segunda história também é um ato de doação, mas uma doação diferente. É um apadrinhamento afetivo. A florense e mãe Odete Furchini "adotou" uma criança haitiana e ajuda na sua educação. Mesmo a milhares de quilômetros de distância ela acompanha o desempenho de seu afilhado. Conheça as histórias dessas progenitoras que justificam o ditado "não basta ser mãe, tem que participar".

“Ela me deu a vida duas vezes”

Terça-feira, 10 de junho de 2008. Se para muita gente essa é apenas mais uma data no calendário, para o assessor técnico da Câmara de Vereadores de Nova Pádua, Maicon Pan, 26 anos, marca o início de sua nova vida. Foi neste dia que ele recebeu um rim de sua mãe, Eligéde Bisinella Pan, 53 anos, e venceu a batalha contra uma doença que afetou o funcionamento de seus rins.

A luta começou quando Maicon tinha 18 anos e foi constatado que estava com anemia. Fez diversos exames e passou alguns dias no Hospital sem saber, ao certo, o que tinha. Um deles detectou que seus rins estavam atrofiados e ele havia perdido a função renal. Começou então o que Maicon chama de "calvário". No dia seguinte ao diagnóstico iniciou as sessões de hemodiálise. Durante sete anos, ele se submeteu três vezes por semana durante quatro horas ao tratamento. Mas foi somente quando estava no segundo ano de hemodiálise que percebeu que sua vida dependia de uma máquina. "Quando comecei a fazer a hemodiálise ela acabou entrando no meu dia a dia. Não tinha caído a ficha. Foi então que comecei a pensar que para viver eu dependia daquilo. Foi a parte mais difícil", conta Maicon. Nessa época, uma de suas distrações era o trabalho na Câmara de Vereadores. "Eu estava triste e pensava que ia morrer, o trabalho me ajudou nesse sentido", diz. A mãe Eligéde lembra desse período com muita tristeza. "Ele não podia tomar água, só um pouco. Então, se fizéssemos alguma pipoca ou algo mais salgado ele não podia comer. Era uma tristeza e eu chorava muito", recorda a mãe.

Transplante Desde que foi detectada a doença, Maicon sabia que precisaria de um transplante. Durante sete anos, aguardou na fila pela doação de um rim de um doador-cadáver. "A hemodiálise ajuda muito durante um período, mas depois ela começa a prejudicar. Então, eu precisava de um transplante", diz. Foi aí que surgiu o ato incondicional de amor da família, formada pelo pai José Pan, 56 anos, e os irmãos, Joel, 28, e Letícia, 16. Numa conversa com os familiares foi levantada a ideia da doação do rim. Enquanto Maicon fazia o tratamento, sua família iniciava os exames para detectar a compatibilidade e possibilitar o transplante que salvaria a vida dele. Os exames apontaram que tanto os pais quanto os irmãos eram cem por cento compatíveis para a doação. Mas, nessa hora o amor de mãe falou mais alto. "Um dia o Maicon me abraçou e dentro de mim eu tive a certeza de que eu seria a doadora. Eu tinha muita vontade de doar para ver ele bem", conta Eligéde, que no início, mesmo tendo a convicção de ser a doadora, achava que não poderia doar devido a um câncer de mama que havia tido. Com o aval do médico para que a mãe doasse o rim, começava uma nova bateria de exames e os preparativos para o transplante. "Eu estava ansiosa e angustiada. Chorava muito porque as pessoas me falavam muitas coisas, mas ao mesmo tempo estava alegre porque queria doar e resolver o problema do meu filho", recorda. O momento de maior emoção aconteceu no dia da cirurgia. Mesmo preocupados que algo desse errado, os dois tinham muita fé. "Foi uma alegria. Aquele era um gesto de amor. Ela não estava me dando um rim apenas, mas a oportunidade de começar uma nova vida", afirma Maicon. A cirurgia durou cerca de cinco horas e alguns dias depois, Maicon teve alta. O pós-operatório não poderia ter sido melhor e nenhuma complicação ocorreu. "A oração foi muito forte. O povo de Nova Pádua rezou muito para que desse certo", conta a mãe. Homenagem O assessor reconheceu a importância do ato da mãe, em doar um dos rins para o filho sem hesitar, em público. Durante a missa à Saúde, em novembro, Maicon fez uma homenagem publicamente para a mãe e as todos que o ajudaram. "Sentia na obrigação de agradecer às pessoas que rezaram e apoiaram. Mas, em especial, à pessoa que teve o ato de amor em me oportunizar uma nova vida", afirma. Enquanto, Maicon proferia as palavras Eligéde não parava de chorar. "Foi uma alegria. Me sinto muito contente em ver hoje ele poder tomar um copo de água com gosto. Não passa um dia sem que ele me dê um abraço", emociona-se a mãe. Com o sucesso da cirurgia, Maicon retornou ao trabalho e aos estudos. Pediu reopção do curso de Relações Públicas para Jornalismo. "Vivo normalmente. Não tenho efeito colateral nenhum do transplante e apenas tomo os remédios para a rejeição", comemora. Há quase um ano da data de transplante, Maicon tem certeza de algo: "A minha mãe me deu a vida duas vezes. Dez de junho de 2008 foi o dia em que eu nasci de novo", afirma.

“Já considero como meu filho”

Não existe nada mais nobre do que ajudar ao próximo. Esse é um dos pensamentos que sempre norteou a vida da aposentada Odete Furchini, 57 anos. Moradora de Flores e mãe de Patrícia, 26 anos, ela sempre gostou e esteve envolvida com trabalhos voluntários. Foi assim que, no ano passado, ficou sabendo do trabalho de apadrinhamento realizado pelo frei capuchinho Lori Antonio Vergani, no Haiti. O frei, que está desde 2007 no país, realiza, além dos trabalhos pastorais, projetos sociais. Um deles consiste na busca de recursos financeiros para apadrinhar crianças haitianas e ajudar na sua educação. Logo que conheceu o projeto do frei, Odete resolveu apadrinhar uma criança. p>Anualmente, ela contribui com a quantia de R$ 80, que é destinada para a educação de seu afilhado Widelaire Morose, de oito anos, que cursa a 3ª série. "Já considero como filho. Me sinto como se fosse responsável por ele e com muita vontade de conhece-lo", conta ela, que tem a foto do afilhado exposta na sala. O gesto de Odete incentivou ainda a filha Patrícia a também adotar uma criança haitiana. "Ela também apadrinhou uma criança. Com isso nós estamos contribuindo para que elascontinuem estudando e melhorando o seu futuro", explica Odete. Em Flores, a aposentada realizou uma pequena campanha para que outras pessoas também se interessem em adotar uma criança (veja o projeto no quadro). "Conseguimos umas nove pessoas para apadrinhamento já. E estamos buscando mais gente", pontua Odete. Quem quiser apadrinhar uma criança pode entrar em contato com a aposentada, que disponibiliza toda a ajuda para o apadrinhamento. "Não é muito dinheiro e é uma forma de manter alguém na escola. Eu pretendo continuar ajudando nos próximos anos", diz.

Campanha de apadrinhamento A campanha de apadrinhamento desenvolvida pelo Frei Lori, na localidade de Beraud, no sul do Haiti, já tem cerca de 250 crianças apadrinhadas. No Brasil, o frei conseguiu adoções das cidades de Flores, Caxias do Sul, Marau, entre outros municípios. Conforme o frei, a paróquia sob sua responsabilidade tem uma escola com 80 crianças e outra com 110 estudantes. "Temos apadrinhamento em outras escolas em torno de 60 crianças, onde o valor em cada escola é diferente. Os professores de nossas duas escolas da paróquia são pagos com o apadrinhamento e assim recebem cada um o equivalente a 20 dólares mensais", explica. A intenção é aumentar esse valor dos professores, por meio do apadrinhamento, para 25 dólares. Quem quiser apadrinhar uma criança pode entrar em contato com Odete Furchini ou com o frei Lori (n.irol@yahoo.es) e depositar o valor de R$ 80 anuais, que são destinados a educação dos haitianos. Conforme Odete, não é necessário continuar com o apadrinhamento no próximo ano. "Não é um compromisso. A pessoa pode continuar ou não", aponta. A conta para depósito de apadrinhamento é: 041 – Banrisul Agência – 0874 – Capuchinhos Conta nº: 39.193465.0-5 Origem do Dia das Mães O Dia das Mães teve a sua origem no princípio do século XX, quando uma jovem americana, Ana Jarvis, perdeu sua mãe e entrou em completa depressão. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas tiveram a ideia de perpetuar a memória da mãe de Annie com uma festa. Annie quis que a homenagem fosse estendida a todas as mães, vivas ou mortas. Em pouco tempo, a comemoração e, consequentemente o Dia das Mães, se alastrou por todo Estados Unidos e, em 1914, sua data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson, no dia 9 de maio. No Brasil, o dia é celebrado no segundo domingo de maio, conforme decreto assinado em 1.032, pelo presidente Getúlio Vargas.
Odete Furchini “adotou” uma criança haitiana./Eligéde Pan doou um de seus rins para seu filho Maicon - Danúbia Otobelli
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