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Alto preço da carne deixa o churrasco de fim de ano salgado

Em Flores, mercados cogitam um aumento de até 60% em alguns cortes e açougues já sentem a redução no consumo

Dezembro é o mês de festas e gastos. Tem a ceia de Natal e de Ano Novo, os presentes para amigos e familiares, as férias e os gastos com impostos, como o IPVA. É um mês em que os gastos se acumulam e um deles têm deixado os consumidores de cabelo em pé: a alta do preço da carne está fazendo com que o tradicional churrasco de fim de ano se torne bem salgado. Os mercados e açougues de Flores da Cunha já sentem os impactos, tanto no alto preço, como na redução de consumidores. O proprietário do Mercado Tonello, Tomé Tonello, 57 anos, conta que está no ramo há 23 anos e pela primeira vez viu o preço da carne ascender tão rapidamente. “No final do ano é comum o valor aumentar devido às festas, mas em torno de 10% a 15%, e em janeiro já volta o valor normal. Agora, o aumento foi muito maior, chegando em alguns cortes até 60%”, diz o proprietário. Segundo ele, cerca de 10 tipos de cortes de carnes aumentaram o valor, mas os mais significativos foram a picanha (60%), o filé mignon (50%), e a alcatra (45%).

As compras do Mercado Tonello são feitas três vezes por semana (terças, quintas e sextas), mas a quantidade já foi reduzida.  “Não tem como comprarmos a mesma quantia de antes porque nossas vendas diminuíram em 50%”, revela. Entretanto, as vendas não caíram apenas na carne. “Não deixamos de vender só a carne, deixamos de vender o carvão, o sal grosso, o refrigerante, a cerveja, a batata para a maionese. Estamos bastante preocupados”, enfatiza Tonello.

Mas, o que mais preocupa o empresário é como repassar todo esse valor para os consumidores. “Repassamos em torno de 30%. É um aumento simbólico que já assustou nossos clientes. Imagina se repassarmos os 60%. Paramos de vender”, revela. Devido ao alto preço da carne, as promoções tiveram que ser canceladas.

O açougueiro do mercado, Anselio Cavazzola, 51 anos, há 34 trabalha com o item e conta que os clientes estão procurando outros tipos de carne para substituir o gado. “Neste período estamos vendendo bastante frango, carne de porco, salsichão, coraçãozinho, e quem quer o gado procura a carne de segunda”, afirma ele, que aposta que os preços irão reduzir aos poucos. “Já está baixando. Nas compras desta semana, algumas carnes já diminuíram o valor em 3%”, diz.

Outros supermercados do município também estão sentido a redução no consumo.

O gerente comercial do Super Vermelhão, Maximiliano Zamboni Júnior, conta que diminuíram em 2% as vendas do açougue, o que reflete no faturamento do mercado. “As pessoas começaram a consumir mais frango e carne de porco, e devido a grande demanda desses produtos, eles acabaram aumentando de preço também e faltando nos mercados”, revela.

O mercado também não conseguiu repassar todo o aumento ao consumidor, caso que também ocorreu com o Super Itália. Conforme o proprietário, Adroir De Bona, dos oito aumentos sequentes que a carne teve, o estabelecimento repassou apenas três. “Aqui não podemos dizer que teve redução de consumo, porque as festas de final de ano estão chegando e as pessoas procuram as carnes. Mas, o consumidor está em busca de preços, optando por uma carne mais barata”, garante De Bona. O proprietário ainda informa que se ocorresse em outra época do ano a queda nas vendas seria mais brusca.

Margem negativa e ofertas

O Supermercado Andreazza, com duas unidades em Flores, amarga a mesma situação, mas tem optado por continuar com as ofertas semanais no açougue, mesmo que isso gere margens negativas.  “Temos por hábito trabalhar com oferta e não podemos decepcionar os nossos clientes. Então, nos sacrificamos por eles”, garante o gerente do mercado, Milton Sartor. O estabelecimento orientou ainda para que os funcionários evitem desperdícios de carne. “Com esse aumento, percebemos ainda que o consumidor está se informando na hora de comprar e não é apenas no impulso como alguns meses atrás. Então, a carne a vácuo é uma ótima opção de qualidade e de preço”, afirma o gerente.

As filas dos açougues diminuíram, mas quando sobra aquele dinheirinho, é o primeiro lugar que as pessoas estão indo. “É muito difícil ficar sem carne, então damos um jeito. Mas está bastante cara. Sentimos muito no bolso”, conta um consumidor do mercado, que preferiu não se identificar.

Conforme o gerente, muitos dos clientes não entendem o porquê do aumento. “Muitos acham que é porque é final de ano. Mas a situação está bem complicada e por enquanto não prospectamos melhoras. No ano de 2020 a carne continuará cara e as pessoas precisarão desembolsar mais na hora de pagar”, declara.

Porque a carne aumentou?

A alta do dólar, a guerra comercial entre China e Estados Unidos e a peste suína estão entre os motivos para a subida do preço da carne. A conhecida lei da oferta e da procura está dando resultados. Para compensar dificuldades internas, a China aumentou o apetite por proteína animal, aumentando a compra do produto brasileiro. Com a maior demanda dos asiáticos e a perspectiva de as exportações seguirem em alta – e o dólar também –, a tendência é de que a oferta local diminua.

Entre janeiro e outubro deste ano, segundo o Ministério da Economia, as exportações de carne de gado do Brasil totalizaram US$ 5,7 bilhões, 7,6% a mais frente ao mesmo período de 2018. Com crescimento de 36,6% no ano, a China foi o principal destino, respondendo por US$ 1,6 bilhão.

O açougueio Anselio Cavazzola.  - Gabriela Fiorio
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