Além da idade
Balconistas de supermercado florense compartilham suas histórias de vida e mostram que ninguém é velho ou jovem demais para fazer o que acredita
Sandra Rizzotto, de 71 anos, Paulina Salete Busa, de 54, e Mari Isabel Santos, de 52, têm muito em comum. Além de terem escolhido Flores da Cunha para morar e trabalharem juntas, como balconistas na padaria do Supermercado Andreazza – Rua Tiradentes, na área central do município – elas são verdadeiros exemplos de dedicação e provas vivas de que a idade não precisa ser sinônimo de aposentadoria, mas sim de fazer o que se gosta e comemorar cada conquista.
Natural de Vacaria, Sandra mora na Terra do Galo há mais de 25 anos e conta que se sentiu motivada para trabalhar, mesmo aposentada, após ter vencido a batalha contra um câncer e ter enfrentado o período de pandemia e isolamento social. “No ano passado eu fui na prefeitura, era com outro objetivo, mas aí vi o folheto do Andreazza contratando pessoas para trabalhar de balconista. Ali eu me vi incentivada. Quem me deu bastante força foi a Sandra Camargo de Lima (coordenadora do Sine e diretora de Desenvolvimento Social)”, revela a balconista.
Naquela ocasião, a coordenadora insistiu para que Sandra se inscrevesse no projeto Flores + Renda, explicando que iria conseguir aprender muito; e foi o que ela fez: “Eu fiz todas as provas, foi uma semana, e aí no final de outubro, início de novembro, eu passei no Andreazza para fazer a entrevista. Foi um sufoco, mas eu procurei informações, me ajustei ao quadro, fiz os exames, e estou aqui desde novembro”, orgulha-se.
“Logo no começo eu fiz a integração, ela é realizada em Caxias do Sul e dura uma manhã inteira. Eles passam um vídeo, contam a história do Andreazza desde o início, o objetivo da empresa, dos funcionários, é bem legal”, explica a balconista, acrescentando que, no ano passado, recebeu o primeiro 13º salário da vida, uma vez que sempre trabalhou como autônoma à frente de uma lavanderia.
Sandra é casada, mãe de cinco filhos já adultos, e revela que a questão financeira conta, obviamente, mas seu amor pelo trabalho vai muito além disso: “Eu sou aposentada, então tudo soma. Mas o fato de eu estar ‘no meio do povo’ me incentiva. É algo que faço muito mais do que pela questão financeira”, emociona-se, acrescentando que quando surgiu a oportunidade ela abraçou-a. “Para mim tudo é uma vibração. Eu comemoro cada conquista e isso ensina a gente a viver, dá saúde para nós”, empolga-se.
Entusiasmo que é compartilhado pela colega Paulina Salete Busa, que revela que não vê a hora de ir para o emprego e não se importa em trabalhar aos sábados e domingos, muito pelo contrário: “Eu adoro! Se pudesse vir trabalhar todos os finais de semana, eu viria. No dia a dia, com os clientes, é muito bom, eu acabo conhecendo um, outro, e é muito legal”, anima-se, acrescentando que não vê o tempo passar em seu trabalho.
Paulina é natural do interior de Santa Catarina, do município de Iporã do Oeste, e veio para cá há quase três anos buscando emprego, já que em sua terra natal as oportunidades restringem-se ao trabalho na roça. “Vai fazer quatro meses que eu estou aqui trabalhando e, até agora, estou gostando bastante”, comemora, revelando que o segredo para se dar bem em qualquer emprego é se dedicar e amar o que faz: “Tem que ter força de vontade. Muitos disseram que, como eu tenho essa idade, eles não pegavam para trabalhar, mas já faz quatro meses que eu estou aqui”, enfatiza.
Em relação à idade para estar no mercado de trabalho, Mari Isabel Santos frisa: “Não é a idade que vai fazer a diferença, porque tem muitos jovens que não têm a disposição que a gente tem”.
Mari reside em Flores da Cunha há nove anos, é natural de Santiago, e também veio em busca de oportunidades de trabalho. Por aqui, ela chegou a trabalhar em uma fábrica de móveis e em outro mercado do município – também na padaria. “Faz sete meses que estou aqui no Andreazza. O relacionamento com as pessoas é bom, é tranquilo, o cliente pede as coisas, a gente atende, tudo no nível da educação, do respeito. No dia a dia a pessoa chega e atendemos ela bem, não podemos deixar o cliente sair mal atendido, tem que saber lidar com as pessoas”, destaca a balconista acerca dos desafios diários de quem trabalha com atendimento ao público, ao mesmo tempo em que reforça que é algo que gosta de fazer.
“Trabalhar aqui foi uma oportunidade que apareceu. Eu estava desempregada e soube, pelos comentários das pessoas, que estavam precisando de gente. Aí eu vim entregar um currículo, fiz a entrevista, me chamaram, fui na integração e comecei”, relata.
Integração que, na realidade, também acaba fazendo parte do dia a dia da equipe, que é formada, em sua maioria, por pessoas jovens: “Eu acho legal isso, porque eles estão sempre sorrindo, dando risada e nos ensinando também. A gente aprende com os jovens e eles conosco, então eu me sinto bem com essa convivência”, comemora, reforçando que trabalhar com jovens acaba mantendo viva a juventude de cada um e provando que a idade é apenas um número.
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