Geral

Sindicato: a união ou a reunião de pessoas que tem os mesmos interesses, a mesma profissão, as mesmas reivindicações e necessidades. Foi pensando nisso que o Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Flores da Cunha e Nova Pádua foi fundado, em 27 de abril de 1962, para organizar a classe que estava desassistida, sem direitos previdenciários e com dificuldades de comercializar seus produtos. 
Em 28 de novembro de 1962 foi obtido um dos maiores avanços da organização, que foi o reconhecimento através da carta sindical, do Sindicato dos Pequenos Produtores Autônomos, aprovando os estatutos sociais e reconhecendo-o como órgão representativo. Em 4 de dezembro de 1966 houve a união entre o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e o Sindicato dos Pequenos Proprietários Rurais, que a partir desta data passou a chamar-se de Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha, hoje Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Flores da Cunha e Nova Pádua.
Nestes 59 anos, 35 estão sob a presidência de Olir Schiavenin, que foi 10 vezes eleito pelos associados para estar à frente da entidade, mas que em 2022 pretende encerrar seu ciclo. “Não somos eternos. Eu cumpri a minha missão e temos que saber o momento de sair. Não vai ser fácil, depois de 35 anos fazendo aquilo que a gente gosta”, relata Schiavenin, que também quer dar oportunidade para as novas gerações. “Estou com a consciência de dever cumprido. Eu sempre digo, posso não dormir tranquilo por não ter conseguido, mas não por não ter tentado”. 
De acordo com Olir, o próximo candidato tem que ter visão. “Para administrar uma entidade como o sindicato tem que ter foco, adiantar-se aos problemas, procurar buscar soluções, trabalhar com uma boa equipe, uma equipe motivada, mas, principalmente, tem que ser uma pessoa motivada, uma pessoa que realmente quer fazer. Tem que ter liderança e credibilidade”, elenca.

Mais de quatro mil associados
“Se fechar o Sindicato 15 dias, as pessoas vão ver a importância do nosso trabalho”. A frase de Olir Schiavenin é a resposta para uma pergunta simples e, ao mesmo tempo, complexa: o STR é importante para Flores da Cunha e Nova Pádua?
“A missão do Sindicato é, a partir dos problemas sentidos e vividos pela categoria, procurar buscar uma solução. E não são poucos os problemas. O agricultor, como as demais categorias, tem um monte de problemas, desde o clima, as intempéries, toda a questão burocrática, a questão dos cadastros”, relata Olir que calcula uma média de 2 mil pessoas/mês passando pelo sindicato. “De abril a outubro foram mais de 8 mil pessoas só para fazer os cadastros de ITR e Vitícola, mais as declarações de Ceasa, os boletos, planos de saúde, assessorias. Eu não tenho dúvidas de dizer que aqui praticamente é a instituição que mais passa gente”, informa. 
Por isso, o Sindicato é referência, com mais de quatro mil associados. “O STR de Flores da Cunha e Nova Pádua é o maior da regional e o terceiro maior do estado. Isso é um motivo de satisfação e, ao mesmo tempo, de responsabilidade”, declara o atual presidente. 
Conforme o STR, o ano de 2021 vai encerrar com mais de 50 sócios novos. “80% destes são jovens. Isso é muito bom, porque vemos que os jovens estão nos procurando”, evidencia Olir, contente, mostrando com orgulho tudo que o Sindicato proporciona aos associados: “Temos benefícios, serviços e convênios, além de toda a luta sindical, embora a gente não consiga tudo aquilo que o produtor precisa e merece”, relata Olir, falando principalmente do preço mínimo da uva. “Muitos acham que é de competência do STR. Não, o sindicato tem uma missão, ele não tem todos os poderes que gostaria de ter. Poder de fixar o preço mínimo, por força de lei, é do governo. O que o sindicato pode fazer para municiar o governo com dados, argumentos, ir à Brasília, nos reunir com as entidades, os representantes, ele faz”.
Para Olir, “estar à frente de uma entidade como essa é gratificante, temos uma boa estrutura, é referência, tem credibilidade, tem uma boa equipe de funcionários, tem uma boa diretoria, tem um bom quadro de liderança e, acima de tudo, e o mais importante, um quadro social que acredita no sindicato”, declara.

As conquistas
Prestes a completar 60 anos, o Sindicato orgulha-se em ter conquistado muitas demandas para os agricultores. “Durante esse período todo, houve uma evolução bastante grande devido à organização. Há 60 anos a realidade era outra, tudo era diferente. Conquistamos muitas políticas públicas e a principal conquista, para mim, foi na Constituição de 1988, quando nós conseguimos reconhecer a profissão da mulher e conquistamos a aposentadoria de um salário mínimo, que antes era meio”, lembra Schiavenin, elencando também outros programas, como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimento), que são formas de colocar o alimento no mercado. 

Fatos marcantes de sua história
- Construção de sede própria em Flores da Cunha em 1982;
- Participação das mulheres na organização sindical a partir 1985;
- Conquista da aposentadoria de um salário mínimo aos 60 anos para os homens e 55 para as mulheres;
- Reconhecimento da profissão da mulher em 1988, como trabalhadora rural;
- Construção da sede própria em Nova Pádua em 2000;
- Crédito agrícola subsidiado através do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar);
- Grito da Terra Brasil, em Porto Alegre e Brasília, para a conquista e manutenção dos direitos, por melhores preços, crédito agrícola, pela flexibilização do código e lei florestal e sobre os mais diversos assuntos.

A década da agricultura familiar
Em dezembro de 2017, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Década da Agricultura Familiar (2019-2028) com a finalidade de focar os esforços da comunidade internacional com vistas a trabalhar, coletivamente, na formulação e implementação de políticas econômicas, ambientais e sociais voltadas à criação de um ambiente propício e ao fortalecimento da agricultura familiar. 
A agricultura familiar produz mais de 80% da comida mundial e ao mesmo tempo aumenta a sustentabilidade ambiental da agricultura, preserva e restaura a biodiversidade e os ecossistemas, fornece alimentos tradicionais e nutritivos e contribui para possibilitar dietas equilibradas e manter o patrimônio cultural nas áreas rurais.
“A agricultura familiar em Flores da Cunha está bem organizada, ela tem futuro, e o jovem está entendendo a importância de permanecer na zona rural”, destaca o presidente do Sindicato enfatizando a parceria do município com a Escola Família Agrícola. “A sucessão familiar, a permanência do jovem no meio rural, depende muito da educação que ele recebe. Infelizmente a nossa educação está muito voltada para o urbano, não para o rural, por isso a importância da escola Família Agrícola”, desabafa Schiavenin. “Se o jovem fizer a conta, ficar na propriedade e trabalhar com gestão, planejamento, diversificação, organização da propriedade, tem muito futuro”, informa, citando que há diversas políticas públicas para acessar crédito e investir na propriedade. “Tudo o que ele precisar, construir, irrigar, tem crédito para isso. Então hoje é muito mais fácil. Para que ir para a cidade? A qualidade de vida que se tem no meio rural é muito melhor”, finaliza Olir.