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A tradição vitivinícola da família Gazzi

As gerações que encontram-se sempre com o mesmo objetivo: a produção de vinho no Travessão Alfredo Chaves, interior de Flores da Cunha

Quem nunca colheu uva não sabe o que é acordar cedo e ver o sol nascer debaixo dos parreirais, correr contra o relógio para finalizar mais um dia, mais um parreiral finalizado, mais uma safra vencida. Quem nunca colheu uva não sabe o que é ter as mãos manchadas, quem não conhece o cheiro do bagaço de uva sendo moído na vinícola e quem não sabe o que é sentir o corpo cansado e a alma lavada ao final do dia, para, então, começar tudo outra vez.

A uva é cultivada na Serra Gaúcha desde a chegada dos imigrantes italianos, que carregaram na bagagem enxertos de videiras que aqui foram plantadas. As terras encontradas precisaram ser trabalhadas com esforço árduo até as cultivares produzirem uva, para então dispor de vinho, uma das moedas de troca da época. Não é exagero dizer que os descendentes de imigrantes italianos carregam no sangue e no próprio DNA o amor pelo cultivo de uvas e pela fabricação de vinhos.

No Travessão Alfredo Chaves, interior de Flores da Cunha, uma estrada de chão leva a uma propriedade que, logo depois da curva, é possível avistar um grande tanque de inox e o nome que identifica trabalho e família: Vinhos Gazzi. Avelino Gazzi, aos 72 anos, com orgulho conta a história da família que está diretamente ligada ao vinho feito com uvas plantadas pelo imigrante que veio da Itália.

Hoje na propriedade familiar se encontram quatro gerações. Destas, avô, filho e netos trabalham com vinho, herança deixada pelo pai de Avelino, Giordano Gazzi. “Eu nasci na casa que tinha em cima do porão de pedra, que hoje é a base da vinícola. Assim foi desde sempre: o trabalho com os parreirais e com muitas dificuldades fazíamos o vinho”, conta. Atualmente a família cultiva 18 hectares de uvas e compram parte da produção de alguns vizinhos. A vinícola produz cerca de 1,5 milhão de litros de vinho ao ano, que seguem para Londrina (PR), onde é engarrafado pela indústria comandada pelos filhos Dirceu e Luiz Carlos, para então partir aos consumidores. Avelino sempre contou com o apoio da esposa Maria Marlene para criar os quatro filhos, Luiz Carlos, Dirceu, Inês e Marisa, e também para manter a propriedade e a vinícola. “Trabalhamos muito juntos, tanto nos parreirais quanto na construção da vinícola. A nossa alegria é ver que os filhos e netos continuem este trabalho”, destaca.

O filho Dirceu, que foi criado em meio às pipas de vinho, hoje vê os filhos Gabriel, 21 anos, e Júlio, 32 anos, seguirem o mesmo caminho. “A herança de saber fazer um trabalho bem feito eu recebi de meu pai e passo aos meus filhos. Garanto mais uma geração. Quem é criado nesse meio pega gosto pelo trabalho e espero que meus netos também continuem esse legado”, frisa Dirceu.

Apesar de os métodos de trabalho, tanto nos parreirais quanto na vinícola, se modernizarem com o passar dos anos, o cultivo da uva e a fabricação do vinho ainda são labores para apaixonados. “Fizemos tudo o que precisa, desde o recebimento da uva até o processo final para o engarrafamento, que é feito em Londrina. Pretendemos continuar”, destaca Gabriel, sabendo que sempre têm à disposição o conselheiro Avelino, que dispõe de experiência em cada processo. “Hoje eu só ‘coordeno’ o trabalho, mas ainda gosto de acompanhar e aprender a cada nova safra”, diz o patriarca.

A alegria da família fica completa com os bisnetos de Avelino e Maria Marlene, os gêmeos Mateus e Julia, de quatro anos, e Pedro, de três anos, que estão passando férias na propriedade da família. Uma forma de ensinar desde cedo que o trabalho que os sustenta é o mesmo que faz avô, filhos e netos se unirem em um mesmo ideal: o de fazer vinho a cada safra.

 

Avelino e Maria Marlene com o filho Dirceu, os netos Gabriel e Júlio e os bisnetos Mateus, Júlia e Pedro: gerações unidas pela uva. - Larissa Verdi/O Florense  - Larissa Verdi/O Florense
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