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A fé e a humildade de quem zela pela Paróquia N. Sra. de Lourdes

Norberto Cardoso dos Santos, de 56 anos, atua há mais de 12 como zelador patrimonial. Muito mais que uma obrigação diária, para ele o trabalho é uma oportunidade de renovar sua devoção em Frei Salvador Pinzetta

Bastar entrar no pequeno e simples espaço localizado aos fundos da Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes e ao lado da gruta, para perceber que a construção abriga muito mais que uma série de ferramentas utilizadas para cortar a grama, recolher as folhas do entorno e realizar manutenções. Em cima da mesa, o livro com as orações de Frei Salvador Pinzetta evidencia que estamos em um local de fé; próximo a janela, a imagem de Nossa Senhora reforça a devoção, e; no canto lateral, entre discos de vinil, outros santos completam a companhia diária do zelador patrimonial da Paróquia, Norberto Cardoso dos Santos, de 56 anos. 
Filho de Guilherme Cardoso dos Santos e Lourdes Leorato Cardoso dos Santos, Norberto possui mais quatro irmãos, três homens e uma mulher. Natural de Vacaria, ele reside em Flores da Cunha há 36 anos, se considerando mais florense que vacariano. Por aqui, construiu família com Margaret Carissimi, de 50 anos, com a qual teve seu filho, Guilherme Carissimi Cardoso, hoje com 16 anos.  
Há mais de uma década atua como zelador, sempre desenvolvendo seu trabalho com muito carinho, dedicação e humildade. Nesses mais de 12 anos teve contato com diversos freis que passaram pela Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, como: Dom Ângelo Salvador, Frei Darci Vazatta, Frei Álvaro Morés, Frei Valdivino Salvador, Frei Raimundo Costella, Frei Santos Carlos Coloda (in memoriam), Frei André Audibert, Frei Edson Cecchin, Frei Adelar Jose Antonini, Frei Geraldo Paludo e, agora, Frei Jadir Segala. Sempre procurou manter o respeito e firmou uma amizade muito grande com os religiosos, dessa forma, todos acabaram, de certo modo, se tornando parte da família.  
O nascimento do filho fortaleceu ainda mais sua devoção em Frei Salvador Pinzetta, que teria concedido uma graça a Guilherme. Dali em diante a fé, herdada da mãe, se fez ainda mais presente no dia a dia. Conheça a história de Norberto e entenda porque a chegada de Corpus Christi e a proximidade da realização da 33ª edição da Romaria Vocacional ao Frei Salvador Pinzetta têm um significado único na vida dele e de sua família.

O Florense: Há quanto tempo trabalha como zelador da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes? Como surgiu a oportunidade de atuar neste local? 
Norberto Cardoso dos Santos: Para ser exato, faz 12 anos e cinco meses que estou trabalhando aqui. É um bom tempo, mas parece que foi ontem que comecei. Na época eu trabalhava como vendedor, depois me passaram para trainee, mas o salário continuou o mesmo, então aquilo foi me desmotivando e, mesmo com sete anos de empresa, decidi que queria sair. Depois disso surgiu uma oportunidade de trabalhar como açougueiro – eu já tinha atuado um tempo nessa função, no Super Cesa, por cerca de 14 anos –  e fui um mês para tentar. Nesse meio tempo eu vi, no Jornal O Florense, inclusive, que tinha essa vaga de zelador, mas não dizia para onde, apenas que ganhava um ótimo salário, e aquilo foi me interessando. O problema é que como zelador eu nunca tinha trabalhado e zelador patrimonial, na época, eu não sabia ao certo qual era a dimensão desse cargo, o que seria feito. Aí na outra semana saiu de novo no jornal a vaga anunciada, eu liguei no número do telefone e soube que era aqui para a Igreja, a Ledi disse que eu tinha que marcar um horário para conversar com o frei. Marquei para o dia seguinte, às 13h30min. O Frei Darci Vazatta já estava na secretaria, acho que tivemos 15 minutos de conversa, ele me passou um panorama do que seria, me perguntou quanto eu ganhava e cobriu a oferta.  No outro dia eu liguei para ele e disse que aceitava a proposta.
Claro que tinha dias, principalmente no início, que eu parava para pensar, ‘mas eu sou louco’, ‘onde já se viu trocar o comércio para vir aqui’, ‘o que eu estou fazendo’, porque chegava para trabalhar e estava tudo bagunçado ao redor da Igreja, bastante sujeira, e tinha muita gurizada que vinha fazer bagunça. Também, naquela época, bastante empresas me procuraram para trabalhar, porque eu tinha entregue vários currículos, mas eu fui passando por cima e hoje, quando olho, estou aqui há 12 anos e meio, alguma coisa foi me segurando e estou gostando cada vez mais do serviço. A gente vai se apegando, como se fosse uma extensão de casa, é uma família, é Igreja, é um lugar que tem que ter um zelo, um respeito. Então só se os freis me mandarem embora, senão eu fico (risos). 

OF: No início, quais eram as principais funções desenvolvidas no local? E hoje?  
Dos Santos: Até pouco tempo precisava dar corda no relógio, porque era manual. Três vezes por semana tinha que subir até uma determinada altura do Campanário e dar corda, fazer a manutenção na máquina do relógio. Também tinha muitas árvores aqui e bastante trabalho, para manter limpo não era fácil, mas até algumas horas da tarde eu tinha certeza que eu conseguia, eu ‘dava a volta’, e o restante era tranquilo. 
Quando vim trabalhar, o frei não tinha me dito nada que também tinha que ajudar na Igreja, ficar no fim de semana, foi a senhora que cuida ali de dentro que me passou, mas como eu trabalhei com comércio a vida toda, não teve problemas. Ela começou a me ensinar a mexer no som, eu fui pegando o jeito, e já no primeiro fim de semana fiquei sozinho, disse que ela não precisava vir.  
Na Igreja, hoje, faço a parte de cuidar do som, a instalação dos microfones antes das missas, testo e controlo o som na mesa que tem lá dentro – principalmente agora que foi colocada uma mesa digital, então tem que ter mais cuidado – eu deixo tudo regulado antes de ir embora para o pessoal fazer as missas e não ter problemas. Eu também passo as caixinhas para recolher as ofertas e sou Ministro da Eucaristia ao lado da minha esposa. Quando precisa a gente está aí, não importa se é feriado, domingo, sábado, a gente vem e está disposto a fazer, a ajudar. Eu tenho uma flexibilidade de horários aqui que me permite sair, tenho folga um dia por semana, então não tem esse problema de horários, mas se precisar, uma missa de noite, por exemplo, tem que estar presente.      

OF: O que te motiva a cuidar da Igreja e seus arredores, sempre com muito carinho e dedicação?
Dos Santos: Eu estou com toda a minha família envolvida aqui na Igreja, tem o meu guri que toca acordeon e ele tem um grupo que toca junto também, não só aqui na Matriz como no Bairro Vindima (que ele vai uma vez por mês) e em outras comunidades, como no fim do mês de maio que teve a Primeira Eucaristia em Lagoa Bela e ele estava lá, foi ajudar, tocar, fazer animação. Então o meu trabalho acabou envolvendo toda a família. E para mim isso é ótimo, é maravilhoso; porque é uma bênção para nós estar na Igreja, trabalhando, podendo ajudar aqui e, de certa forma, ganhando salário, no meu caso, que além de estar ajudando – porque muitos trabalham como voluntários da Igreja – eu estou ganhando o meu salário, o meu ganha pão está aqui também.  

OF: Quais foram as principais mudanças que acompanhou ao longo dos anos? 
Dos Santos: Essa parte das árvores que acabaram secando, eram plantas bastante antigas e começou, na raiz de uma delas, uma doença que, segundo o que a gente se informou, foi passando de uma para outra, e como elas eram muito próximas, secaram várias. Essa parte acabou diminuindo bastante o trabalho de limpeza, principalmente na primavera, que a floreira derruba muitas folhas porque ela começa a colocar brotação nova e as velhas vão caindo, então tinha dias que eu fazia duas vezes limpeza. Teve também a mudança ali na Igreja, que foi feita uma reforma bastante grande, na parte de dentro, uma repintura, a parte elétrica foi toda feita nova. E o seminário, que não faz parte do meu trabalho, mas agora não tem mais seminaristas e na época tinha bastante, logo no início que comecei a trabalhar aqui tinha 12 ou 13.

OF: E de que forma as mudanças recentes no Campanário interferiram nas atividades do seu dia a dia? 
Dos Santos: Com o novo Campanário mudou bastante coisa, porque eu tinha muito problema com os sinos, o modelo antigo de funcionamento dava muita mão de obra e com esse novo sistema que o sino vai embalando devagarinho, como se fosse puxado por uma corda, a tendência é que tenha manutenção quase zero. Antes os sinos arrancavam com motores de 4HP puxando aquelas correntes, não tinha o que aguentasse, tirava fora de eixo, tinha os cursores que desligava e ligava, acabava arrancando, virando até para cima – eu cheguei a pegar sino virado para cima, travado, e era difícil a semana que eu não tinha que subir lá para fazer algum reparo de sino. Era complicado, porque tinha vezes que arrancava toda a parte elétrica de acionamento, às vezes eu conseguia remover, mas outras tinha que trazer eletricistas e tinha que ser eletricista industrial para ‘colocar a mão’. Eu tive muito problema no início, porque eu não sabia a quem recorrer, e o Frei Darci não tinha muito contato com essa parte, então eles me passaram o telefone de duas pessoas que faziam essa manutenção, mas elas não quiseram. Até que eu consegui um rapaz recém-formado em eletrônica industrial e ele acabou trazendo um novo sistema, um novo conhecimento, e foi simplificando o trabalho, tinha peças que depois eu conseguia eu mesmo trocar. Ele me explicou como funcionava, não tinha erro, e os outros mais antigos iam na caixa de luz para ver qual era o fio, era bastante complicado, porque lá em cima era cheio de fios soltos para tudo que era lado, a gente não sabia nem para que certos fios serviam. Agora está uma coisa bem simplificada, os fios estão colocados dentro das caixinhas, não tem mais nada solto, a parte do sino, segundo a empresa que instalou, o que pode acontecer é queimar uma placa que tem o comando, então troca essa placa e já está resolvido o problema. Hoje o motor maior tem meio HP, para ter uma ideia.

OF: Como é sua história de fé envolvendo Frei Salvador Pinzetta? De onde vem a devoção pelo religioso?
Dos Santos: Um outro motivo para estar aqui nesta função de zelador da Paróquia e que me segurou bastante no início, é por ter aqui na Igreja os restos mortais do Frei Salvador Pinzetta, que eu acredito que a gente recebeu uma graça, que Ele intercedeu por nós quando nasceu o nosso filho. O Guilherme nasceu com problemas bem difíceis de achar e nós pedimos a intercessão do Frei Salvador. Ele tinha que tirar sangue e dava dó, porque ele gritava, tinha recém-completado três meses quando ficou na UTI, era terrível. Antes de ele nascer, nos exames, não mostrava nada, mas depois ele ficava agitado (como qualquer outro recém-nascido) e, de repente, perdia as forças, não mexia mais nada, a respiração ficava ofegante e não conseguíamos descobrir o que ele tinha. Fizemos três exames: um ainda quando ele estava na UTI e dois depois que ele saiu. Foram feitos, em três meses, três exames, e todos eles tinham a mesma alteração, o mesmo resultado. Até que a pediatra, que era de Caxias do Sul, conseguiu uma geneticista em Porto Alegre e marcou um horário para nós levarmos o Guilherme lá para ela ver ele e os exames. Ela ficou apavorada, a gente viu a reação dela quando comentou que ele iria ter uma deficiência, não soube especificar onde, como, mas que ia ter uma deficiência, podia ser no aprendizado, na coordenação motora, mas algum problema no desenvolvimento ele iria apresentar, até chegar aos 10 anos, e isso iria ficar bem visível. 
Nesse meio tempo a gente já tinha pedido a intercessão do Frei Salvador, já tinha rezado bastante junto com a minha mãe, ela era muito devota do religioso, e aí nos apegamos com Ele, pedimos, pedimos muito, e quando a médica de Porto Alegre disse que iríamos fazer um novo exame, nos encaminhou para o Hospital Moinhos de Vento para recolher material, eles ficaram com o nosso número de telefone de casa e do trabalho e quando o hospital recebeu o resultado ficou de encaminhar para a médica assim que ficasse pronto. Assim que ela recebeu, não se segurou, ligou no trabalho da minha esposa dizendo que não era mais para se preocupar porque os exames tinham saído perfeitos. Mas, ainda hoje é difícil falar nesse assunto, a gente passou muita dor nesses quatro meses. 

OF: Acredita que teve uma graça alcançada pela intercessão de Frei Salvador Pinzetta?
Dos Santos: Imagina, três exames feitos antes, todos eles com o mesmo resultado, alteradíssimo, e o de Porto Alegre, que a gente fez depois de se apegar bastante com o Frei Salvador, que ele intercedesse por nós, saiu perfeito, normal, como de qualquer outra pessoa. A médica deixou marcado para voltar lá seis meses depois, e quando ele chegou já parava em pé. A hora que ela abriu a porta do consultório tinha uma mesinha e ele estava em pé, ela correu para abraçá-lo e disse que só de olhar dava para ver que ele não tinha nada, estava prefeito. Graças a Deus! E até hoje ele não teve problema nenhum, tem facilidade em aprender as coisas que ele se interessa, é músico e aprendeu quase que metade do que sabe sozinho, não tem nenhuma deficiência. A gente não tem dúvidas de que o Frei Salvador é santo. Para nós não precisa Roma confirmar nada, Ele é santo com todos os méritos, até pelo exemplo de vida que Ele deixou. Como eu trabalho aqui, a gente ouve todos os dias pessoas de outros estados que vem agradecer, trazer alguma coisa para deixar como lembrança, uma fotografia, uma roupinha de criança. Então isso só aumenta a fé e a vontade de continuar aqui também.

OF: Como procura transmitir sua fé em Frei Salvador ao seu filho e familiares? 
Dos Santos: O Guilherme conhece a história dele e não entra na Igreja sem ir lá no Frei Salvador fazer um Sinal da Cruz e uma oraçãozinha, então ele sabe também da importância. Ele fez parte da primeira turma de coroinhas que teve aqui na Igreja e nunca se negou a ajudar. Então eu acho que ele tem essa conscientização, porque a gente não obriga a fazer as coisas, comentamos, mostramos o caminho, mas deixamos na vontade dele e ele não tem se negado. As caminhadas para o Eremitério, por exemplo, eu acho que o Guilherme não perdeu nenhuma depois que começou a caminhar, a entender. 
E meu irmão, que já tinha muita devoção pelo Frei Salvador – especialmente depois que soube da nossa história –, sofreu um acidente muito grave, ficou vários dias na UTI com embolia pulmonar gravíssima, estava entre a vida e a morte, ele teve sorte em se salvar do acidente. Naquele momento tanto a família da esposa dele como nós, nos apegamos ao Frei Salvador mais ainda e graças a Deus ele está ali sem sequela nenhuma. Ele se acidentou de carro indo para Nova Pádua há uns dois, três anos, lembro que o médico disse que ia fazer cirurgia, mas ele já estava com os sinais vitais bem fracos, antes tiveram que fazer duas bolsas de sangue para ver se ele se mantinha, e graças a Deus deu tudo certo. Ele ficou uns quinze dias na UTI e saiu, de todas as fraturas que ele teve está ali firme e forte trabalhando.

OF: O que esta época de Corpus Christi e Romaria representa para você?
Dos Santos: Do meu trabalho é a parte principal, é o complemento de tudo. Corpus Christi é bem importante para nós, para o município e para a Igreja. E essa caminhada até o Frei Salvador, essa devoção que a gente vê nas pessoas que vem de outros municípios participar e que tem aquela mesma fé que temos aqui, então isso eu acho que é ponto alto de tudo que a gente tem vivido. Eu gosto de ficar aqui, às vezes, ouvindo essas pessoas que vem de fora – e vem seguido durante o ano, não é só nessa época – elas chegam a chamar a gente para contar um pouquinho do porquê estão aqui, então ouvimos histórias muito parecidas com a nossa. A gente não tem como comprovar que foi um milagre, porque quando parte para as mãos do médico um tem uma opinião e outro tem outra, mas para nós, com certeza, é um milagre. Se não foi uma graça alcançada, que seria o mais importante comprovar, mas um milagre foi, com certeza, uma intercessão de Frei Salvador por nós junto de Deus.

OF: O que Frei Salvador simboliza na sua vida? 
Dos Santos: É um exemplo de vida, muito forte essa parte da religiosidade Dele, da oração e esse respeito que Ele tinha pela Eucaristia, pelo próprio Jesus ali demonstrado. Então isso, para mim, é o que eu tento seguir, eu tenho esse respeito, eu procuro seguir, dentro do meu limite, do meu possível, essa vocação que Ele tinha, esse respeito pela Eucaristia e Ele gostava muito de visitar e levar a Eucaristia para os doentes nos hospitais – essa parte eu não consigo porque eu sofro junto com eles, mas o restante tento fazer o melhor. Estou há 12 anos aqui na Paróquia, então a gente acaba se acostumando, entrando em um ritmo que, às vezes, pela rotina, não sei se estou fazendo o certo ou não, mas a gente tenta. E Frei Salvador sempre me acompanha, aqui no meu trabalho e em casa tenho essas orações, desde quando o Frei Raimundo entregou para nós um santinho, o primeiro que a gente recebeu, porque na época não tinha tanta coisa. Nós contamos para ele da nossa história, porque ele também acredita seriamente no Frei Salvador e divulga muito essa devoção, o que acabou fortalecendo ainda mais a nossa fé.

Há mais de 12 anos Norberto Cardoso dos Santos se dedica a cuidar da Igreja Matriz, gruta e seu entorno. - Karine Bergozza Dentre as funções desenvolvidas por Norberto está cuidar do som da Igreja, do Campanário e realizar manutenções.  - Karine Bergozza O zelador acredita que seu trabalho é uma das formas de aproximá-lo de Frei Salvador Pinzetta, de quem é devoto.  - Karine Bergozza
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