A despedida do radialista
Voz conhecida em Flores e região, Jásser Panizzon, deixa o rádio para se dedicar a projetos pessoais
É só ouvir a voz no rádio que todos já falam: “É o Panizzon”. O comunicador Jásser Panizzon descobriu a vocação pelo rádio ainda adolescente. Aos 13 anos, percebeu que gostava de se comunicar. Foi aí que sua trajetória de 20 anos como comunicador na Serra Gaúcha começou. Primeiramente, a trajetória começou na Rádio Flores FM, depois passou pela Pop Show. A notoriedade chegou com a passagem na Rádio Viva. Mas, foi no Grupo Solaris que sentiu na pele o que é fazer rádio e gerir uma emissora. Foram 20 anos dedicados a passar informação, a fazer entretenimento, a rir – do jeito que só ele sabe fazer –, a fazer amizades e a conquistar o público. Quem nunca imaginou o Jásser Panizzon pela voz e quando o viu pela primeira vez disse. “Tu és o Jásser da rádio?”.
Na semana passada, Panizzon, aos 32 anos, anunciou sua despedida dos microfones. Formado em Administração de Empresas e Marketing com MBA em Gestão Estratégica de Pessoas o comunicador encerra, talvez de forma temporária, sua trajetória. Com duas especializações em andamento – Inteligência Espiritual, pela Universidade de Caxias do Sul, e Neurociência e Comportamento, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – conheça um pouco mais sobre quem é Jásser Panizzon e quais são seus planos.
O Florense: Como surgiu o desejo de trabalhar no rádio?
Jásser Panizzon: Eu sempre brincava de rádio em casa, de ser comunicador. E quando a minha mãe abriu a loja (comércio de roupa infantil no Centro) nós passávamos o dia inteiro escutando rádio. E acabei me tornando um ouvinte participativo. Eu ligava, interagia com os comunicadores, ganhava brindes. E na escola (Jásser estudou no colégio São Carlos, em Caxias do Sul) eu também tive alguns professores que me incentivaram muito, em especial a professora Simone Viapiana, professora de Espanhol, e a gente colocou uma rádio no ar. Ali também meu amor por essa profissão cresceu mais.
OF: Como foi a tua trajetória como comunicador?
Panizzon: Quando eu tinha 13 anos, abriu a Rádio Flores FM, e eu fui me oferecer para trabalhar. Então, naquela época, me colocaram como operador. Aí fui crescendo: de operador passei a ter um programa, comecei a coordenar a rádio e nisso me chamaram para trabalhar na Viva. Lá fazia o programa ‘Viva Noite’ e fiquei por seis anos. Junto com a Viva também comecei a trabalhar na Pop Show aqui em Flores. Em 2011, surgiu a oportunidade de trabalhar no Grupo Solaris e abrir uma rádio no município. Foi um ano trabalhando no processo de abertura da rádio e, em outubro de 2012, a rádio estava no ar. Nestes sete anos, estive apresentando o programa ‘Tudo de Bom’ e também gerindo a emissora.
OF: Nesta história de quase 20 anos, quais foram os aprendizados?
Panizzon: Ser comunicador é uma delícia, por mais que hoje em dia seja bastante difícil. As coisas mudaram bastante. Uma vez se comunicava tranquilamente, hoje qualquer coisa que você fala já tem vinte contrariando, dois dizendo que não concordam. É bem difícil, mas ao mesmo tempo é uma delícia. O problema é ser gestor. Isto é bastante complicado. Em uma empresa de comunicação as pessoas estão acostumadas a quererem o que elas querem, a ver o que elas querem, e umas te impõem, outras te ameaçam. E quando você tem uma linha de trabalho que quer seguir, alguns não compreendem. Então, o principal aprendizado é ser paciente e resiliente. Conquistei nesta trajetória muitos amigos, tive muito nariz torcido, muita gente incomodada, que interpretam as coisas de forma errada. Mas, teve muito mais coisas boas do que ruins. Quando eu estou comunicando eu tento fazer a diferença positiva na vida das pessoas e quando você nota que isso realmente está acontecendo é muito bom. E os ouvintes têm um sentimento de cuidado comigo, que foi construído junto, ao longo de todos os anos, então isso é impagável. Todas as cartas que eu recebi estão guardadas com muito carinho. Eu tenho orgulho de dizer que construí uma história, um vínculo com muitos ouvintes, o que não se vê mais hoje, que o locutor é apenas anunciador de música.
OF: Este período que se encerra agora foi por causa da gestão da empresa?
Panizzon: Também.
OF: Se você estivesse apenas na locução, teria tomado a mesma atitude de sair do rádio?
Panizzon: Não sei te responder. Acho que eu vivi isso tudo e cheguei em um ponto da minha vida que preciso mudar. Às vezes, minha mãe escuta outras rádios e questiona “Mas esse cara tá ainda na rádio?”. Eu não quero ser esse cara (silêncio). Mas, pensando bem, acho que isso aconteceu mais por conta da gestão. Como falei antes, comunicar é uma delícia.
OF: Em 2018, você passou por um câncer de intestino. Como enfrentar isso mudou você?
Panizzon: Passar por esta fase da minha vida foi extremamente tranquilo. Eu não tenho problema nenhum em relação ao câncer. Aconteceu, tenho que continuar a viver. Mas, teve um momento marcante que comecei a refletir sobre a vida. Foi quando eu estava no hospital, depois da cirurgia, que fui novamente me consultar com o oncologista e ele me pediu como que era a minha rotina. Eu apenas abri a minha agenda no celular e entreguei a ele. Então, o médico me disse que eu tinha que cuidar dos meus dois cérebros – que no caso um deles era o intestino – e eu comecei a me dar conta de algo que as pessoas falam errado. Dizem que quando você ama muito o que faz, você não trabalha um dia na vida. Mentira. Quando você ama muito o que faz, você se importa muito e trabalha que nem um louco. E eu achava que isso era bom. Mas, quando eu tirei umas férias, depois de muito tempo, foi um momento de eu parar e pensar bastante em mim – e pensar em si não é egoísmo, é necessidade. E nesse momento de reflexão eu percebi que eu precisava descansar um pouco e foi – e está sendo – libertador.
OF: Quais são os planos para o futuro?
Panizzon: Eu sou professor, radialista por acaso. Então quero voltar para a sala de aula, além de me dedicar com o compromisso que assumi com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Flores da Cunha e terminar minhas pós-graduações. Mas, o principal, é voltar à vida. Estou escrevendo um livro que será lançado em maio junto com o professor argentino Miguel Garrido, que trabalha no estudo do fenômeno da não violência na América Latina. Então, é isso. Na verdade quero produzir muitas coisas, escrever.
OF: Existe a possibilidade de entrar para o meio político?
Panizzon: Eu acho que o que tem de mais bonito na vida é servir. Política é uma forma disso. Conversas estão acontecendo, não escondo. Minhas condições sempre foram a transparência, a seriedade e o bem comum (não o individual). Nesta linha, quem sabe algo possa frutificar.
OF: E se você sentir falta do rádio, há a possibilidade de um retorno?
Panizzon: De repente sim. Quem sabe?! Sou muito de ver o que o futuro reserva. Vamos deixar acontecer.
OF: Qual a mensagem que você deixa para as pessoas que sempre te escutavam?
Panizzon: Me sigam nas redes sociais e acompanhem o projeto ‘Sementes de Vida’. Vou intensificar e fazer um trabalho que eu deveria ter feito antes.
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