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A arte de alfabetizar

Mais de 50 anos dentro de uma sala de aula vivendo uma experiência incrível: ensinar a ler e a escrever

Laurita Virgínia Pozzi Cavagnolli, 76 anos, umas das tantas alfabetizadoras de Flores da Cunha. Dom que veio na nascença e se aflorou na infância, quando a melhor brincadeira era dar aula para os vizinhos. “Eu sempre quis ser professora”, orgulha-se em dizer em bom tom. “Eu amava ensinar. Fazia os caderninhos para os meus vizinhos e ensinava eles, com 12, 13 anos. Brincávamos de aula e eu sempre era a profe”.
Já aposentada, agora são as lembranças que ficam na memória e também nas pastas e cadernos que Laurita guarda com todo o amor. Com muito orgulho de sua trajetória, iniciada em 1967, Laurita lecionou em diversas escolas do interior, mas foi na Frei Caneca onde passou mais da metade de seus anos ensinando. “A gente se dedicava muito. Tinha que estar junto da criança sempre, mas eu nunca pensei em ser outra coisa”, reflete.
Quando Laurita concluiu o Ginásio, na escola São Rafael, prestou vestibular para ingressar no curso de professora – magistério – na escola São José, em Caxias do Sul, onde também fez seu estágio. 
Mais tarde, em 1970, Laurita passou em um concurso público e foi nomeada para o Frei Caneca – nesse meio tempo ela também atuou nas cidades de Barros Cassal, Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Encantado – mas voltou para o Frei Caneca após alguns anos. 
A professora, que já havia lecionado para 3º e 4º anos, encontrou sua paixão na alfabetização. “Era gratificante, a experiência mais maravilhosa que eu tive foi lecionar para a 1ª série. Eu pegava algumas crianças que nunca tinha ido para a escolinha e quando chegava no fim do ano elas sabiam ler e escrever. É muito bom ver a criança aprendendo, aos poucos, as letras e os números”, destaca. 
Hoje, Laurita é agraciada por muitos de seus ex-alunos. “Eu fico muito feliz com esse reconhecimento. Eles dizem: ‘Tu foi quem me ensinou o traçado da letra’; ‘Foi ela quem me ensinou a ler’. Eles lembram de mim”, complementa, ao mesmo tempo em que revela ter guardado muitos trabalhinhos e cartas dos pequenos.
Em meio à tantas transformações no cenário da educação e avanços tecnológicos, o papel dos educadores também passa por mudanças diárias. A professora acredita que, atualmente, é muito mais difícil ministrar aulas, afinal, a forma de aprendizagem daquela época em que se pesquisava muito em livros e utilizava-se papel, não é mais a mesma. “Tudo se aprende na internet e parece que não precisa mais de professor. As crianças têm tudo na mão, tudo fácil e não sabem aproveitar”, pontua. 
Se por um lado está mais difícil ensinar, por outro, tornou-se mais fácil aprender. Com a tecnologia os pequenos têm a sensação de estar brincando e muitas coisas acabam atraindo a atenção, o que estimula o processo de aprendizado na infância. 
“Eu sinto saudade de lecionar, de ensinar”, defende, contudo, sabe que a educação do futuro vai ser cada vez mais difícil e vê o desinteresse dos jovens em aprender. Anos atrás, o professor era visto como uma autoridade, com respeito. Hoje, porém, acaba recaindo sobre eles a culpa de o filho não ser educado. 

8 de setembro – Dia Mundial da Alfabetização
O Dia Mundial da Alfabetização, que tem como objetivo ressaltar a importância do processo para o desenvolvimento social e econômico mundial, foi criado em 8 de setembro de 1967 pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 
A alfabetização é a base do aprendizado e um direito fundamentado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). No entanto, o acesso ao ensino básico de qualidade ainda é uma realidade distante para muitas pessoas, por isso, uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) do Brasil é erradicar o analfabetismo da população brasileira até 2024.

 - Gabriela Fiorio
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