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96 anos Flores: o curioso caso do Fogo Simbólico

Numa manhã bastante fria, a pequena multidão, com roupa de festa, aguardava ansiosa a chegada da chama que daria início a Semana da Pátria

Diz um ditado: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”. Mas vou tentar ser o mais fiel possível ao relato do grande e esperado momento da chegada do Fogo Simbólico pela primeira vez em Flores da Cunha.

Ouvi diversas vezes meu pai (Jaime Calza), um dos participantes, contar o fato, onde o protagonista era, nada menos, que o Sr. Lino Garibaldi. Não tenho ideia de data, mas o mês devia ser entre final de agosto a início de setembro.

Era uma manhã bastante fria. A pequena multidão, com roupa de festa, aguardava ansiosa e curiosa na praça, hoje Praça da Bandeira, em frente a Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes, a chegada do Fogo Simbólico, que daria início  aos  festejos da Semana da Pátria.

Era algo novo para a população, somente algumas autoridades sabiam o que era e como iria acontecer.

A chegada do Fogo estava prevista para as 10 horas. A população se aglomerou a partir das 9 horas, muito ansiosa. Mas, o fogo não chegou no horário marcado. Mesmo assim, o povo se manteve firme na espera. Por volta do meio-dia, as pessoas começaram a ficar impacientes, cansadas e até com fome. Foi quando um dos presentes, o Lino Garibaldi, muito conhecido pelos seus trambiques e malandragens, fez um gesto com a cabeça e disse “demo” (vamos). Prontamente o grupo de amigos o seguiu e se dirigiram para o norte da cidade, de onde, segundo as autoridades, o fogo viria.

O Lino Garibaldi, só para orientar os leitores, era um cidadão cuja principal característica era malandragem.  Ele tinha a seu favor uma boa lábia e um poder muito grande de persuadir as pessoas, tanto que, entre outros feitos, vendeu para os colonos sulfato com um preço mais em conta que na Cooperativa. Mas, para a decepção dos colonos, o sulfato eram pedrinhas pintadas de azul. Segundo meu pai, Lino foi preso diversas vezes, mas sem efeito, pois conseguia, mesmo na prisão, fazer suas negociadas ilegais.

Mas, voltando ao Fogo Simbólico, Lino, no caminho, expôs para os amigos o plano. Chegando ao local, perto do mato do Lalo, tiraram a roupa, ficando só de ”camiseta de física” (pra quem não conheceu a  física, seria um tipo de regata usada pelo Fred Mercury nos seus shows) e de “mudande”, que hoje conhecemos como cuecas samba canção, feitas de tecido grosseiro. Pegaram um galho de pinheiro e atearam fogo, se colocaram em fila e deram a largada sob as ordens de Lino.

Os responsáveis pelo foguetório estavam concentrados algumas quadras de distância e, quando viram a fumaça e um grupo de rapazes usando calção, acharam que finalmente o fogo havia chegado. E o foguetório começou para o desespero das autoridades organizadoras do evento.

Correram algumas quadras entusiasmados com o foguetório, mas logo perceberam que estavam sendo perseguidos pelos brigadianos e deram meia volta, conseguindo chegar no mato do Lalo e se esconder. Tiveram que permanecer no local até escurecer, sem roupa e sem comida, além de sair de circulação por alguns dias até o caso abafar. Segundo meu pai Jaime, que ria muito quando contava, teria valido à pena. O Fogo Simbólico só chegou à cidade depois das 13 horas.

Lorete Calza Paludo

Professora aposentada e presidente da Associação dos Amigos do Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi

 - Divulgação
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