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“Todo mundo se preparou para o pior quadro”

Médico Tiago Moschen fala sobre a rotina do Hospital Fátima

O médico Tiago Moschen, coordenador do Pronto Socorro do Hospital Fátima, fala sobre a rotina da instituição durante a pandemia. Confira:

Como funciona a escala de atendimento na ala Covid-19?
Temos plantão 24 horas para atendimento de pacientes com síndromes gripais, com médico e enfermeiras. O número de técnicos varia conforme os pacientes hospitalizados no setor para reduzir os riscos de contaminação da área limpa. Estamos tendo um bom retorno, porque ainda não tivemos nenhum funcionário afastado por coronavírus. Alguns médicos de Flores se disponibilizaram a fazer plantão e outros médicos de Caxias para completar a escala. O máximo de pacientes que estiveram internados concomitantemente, entre confirmados e suspeitos, foi cinco. Não tivemos ainda nenhum tipo de sinal de superlotação. No início, todo mundo se preparou para o pior quadro. Ninguém tem certeza até que nível vai chegar a disseminação. Esse tipo de pandemia tem proporções geométricas. Com o passar das semanas, uma pessoa contamina duas, três, que contaminam mais  duas, três e vai crescendo.

Como a pandemia impactou nos atendimentos do Pronto Socorro?
Reduziu muito os atendimentos na emergência por doenças que antes eram muito corriqueiras. Por exemplo, infecções em crianças basicamente desapareceram. Como elas não estão indo para a escola, as infecções de garganta, de ouvido e diarreia que atendíamos, tranquilamente, 20 por semana, agora são duas ou três. Infecções respiratórias por bactérias também diminuíram. Em idosos, também diminuíram as infecções por pneumonia comum.

Qual a projeção para os próximos meses?
A OMS divulgou que o Brasil estaria entrando no seu platô, só que não se sabe se essa curva descendente vai começar na metade de julho, no final de julho... A epidemia está sendo migratória. Começou no Amazonas, depois foi para o Nordeste, depois Sudeste, agora está aqui no Sul. Não tem como ter certeza. Gostaríamos que até o final de agosto já esteja bem controlado. Tudo depende dos cuidados que a população vai ter até lá. Mesmo que se liberem mais atividades, as pessoas têm que continuar com a consciência de que a vacina só vai sair ano que vem. Até lá, se não tiver um empenho máximo em questão de distanciamento voluntário e de higiene não vai acabar nunca. As pessoas têm que continuar fazendo o que é essencial, evitar aglomerações desnecessárias, festa de aniversário pra 20, 30 pessoas. O fato de não estar mais proibido, não quer dizer que deva ser feito. Isso aconteceu no Rio de Janeiro. É indispensável tomar chope na sexta  à noite no bar? Pode tomar em casa?

Qual o sentimento em relação às pessoas que não seguem as recomendações?
É um desafio grande. Ninguém gostaria de estar numa situação dessas, nem a população, nem quem está trabalhando (na saúde). Algumas ocasiões chegam a beirar falta de respeito com os profissionais. Pensa que 15% dos óbitos por Covid são de profissionais da saúde que estão morrendo para tentar salvar as demais pessoas.  É um número muito grande. Morrem de 100 a 150 profissionais de saúde por dia no Brasil. Ninguém gostaria de estar trabalhando numa situação dessas. Quanto antes acabar seria bom para todo mundo, mas para isso a gente depende do empenho de todos. Bom senso. Esse ano, ninguém vai ter grandes  realizações empresariais, financeiras, culturais.

Um lockdown geral seria uma boa alternativa?
Lockdown geral só se usa em casos extremos de esgotamento total  do sistema. Claro, se fizer um lockdown vai diminuir o número de casos e de mortes, mas tem toda a contrapartida social e econômica, que se agrava muito. Lockdown funciona muito bem em países ricos, onde a população tem condições de permanecer em casa quatro, cinco, meses e o governo tem condições de arcar com os custos. Foram feitas pesquisas de quanto tempo as pessoas conseguiriam ficar em casa contando com a reservas financeiras que possuem. Mais da metade não conseguiria ficar mais do que 15 dias. Ou seja: passou 15 dias, as pessoas não teriam o que comer.
 

Tiago Moschen. - Diego Adami
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