“Só podemos levar a ideia da leitura se formos leitores”
Em entrevista ao jornal O Florense, madrinha da Feira do Livro de Flores da Cunha Marô Barbieri fala sobre projetos, incentivos e hábitos de leitura
A madrinha da 35ª edição da Feira do Livro de Flores da Cunha, Marô Barbieri, tem duas grandes paixões: as crianças e a literatura. Para facilitar, no início dos anos 1990, juntou as paixões e se tornou escritora. “Descobri que adorava crianças e que era uma boa contadora de histórias. Comecei a produzir alguns contos e percebi que não era possível deixar essas histórias sem registro”, recorda a bento-gonçalvense que reside atualmente em Porto Alegre.
O primeiro livro, Minda Zoológica, foi publicado em 1989 e, de lá para cá, Marô não parou mais de escrever. Hoje são 24 obras dedicadas ao universo infantil. Entre elas estão Tinoca Minhoca (1991), O Feitiço da Receita (1997), A Princesa que não Sabia Chorar (2007), A Fada que Colecionava Manhãs (2010), Pequenos Segredos de Jardim (2010) e, o mais recente, O Segredo da Fonte, lançado neste ano.
Graduada em Letras, a professora Marô também se dedica à contação de histórias e já foi presidente da Associação Gaúcha de Escritores. É criadora dos projetos Leitor de Rua (grupos de leitores voluntários de Porto Alegre); Gente que lê (escritores de literatura infantil e juvenil de Viamão); e Livros na Mão (ação de leitura que distribui livros a estudantes de Viamão).
A escritora já recebeu os prêmios Livro do Ano – Categoria Literatura Infantil, da Associação Gaúcha de Escritores, e o troféu Palavra Viva, do Sindicato dos Trabalhadores da Justiça Federal. Nesta entrevista, Marô fala da importância de uma feira do livro, de seus projetos pessoais e do mercado literário brasileiro.
O Florense: O que significa para a senhora ser madrinha da 35ª Feira do Livro de Flores da Cunha?
Marô Barbieri: Uma feira do livro é uma festa da leitura, para aqueles que gostam da fantasia e imaginação. Quando falamos de uma feira do livro falamos de literatura, falamos da arte que se faz com palavras e que usa aquilo que todos nós temos e exploramos: a imaginação, a fantasia e esses outros tantos mundos que a gente cria e, por meio dos quais, elaboramos a realidade.
O Florense: Desde quando a senhora escreve? Por que começou a escrever?
Marô: Já tem um bom tempo, pois estou produzindo livros desde 1990. Comecei com o livro da Tinoca Minhoca que é uma personagem minha e que vou explorar na Feira do Livro de Flores da Cunha. Depois do primeiro livro publicado ficamos sempre querendo contar mais histórias e sempre na expectativa que a próxima seja melhor que a anterior. Sou professora de português e sempre tive um contato muito grande com as palavras, desde pequena gosto muito de ler, e o livro está presente na minha vida. Quando me tornei professora, ao fazer um trabalho de literatura com as séries iniciais, tive contato com as crianças e descobri como a gente poderia começar um trabalho com literatura desde pequeno. Ao fazer essa experiência descobri duas coisas muito importantes na minha vida: que eu adorava crianças e que eu era uma boa contadora de histórias. Comecei a produzir algumas delas para meus alunos e percebi que não era possível deixar essas histórias sem registros. Isso me fez iniciar um trabalho específico para as crianças.
O Florense: A senhora escreve somente para crianças?
Marô: Na verdade já escrevi outros textos para adultos, mas sempre em menor quantidade, por que o meu foco, por enquanto, é a literatura infantil. Uma história bem escrita vale tanto para a criança quanto para o adulto. Na verdade existem níveis de leitura: tu podes ler de uma forma bem literal e podes, também, a partir das informações que o texto te dá, refletir e filosofar um pouco. Em todos os textos existe essa possibilidade que o leitor recebe e que ele transforma de acordo com a sua vivência.
O Florense: Fale um pouco sobre os projetos que criou para incentivar o hábito da leitura.
Marô: Como professora que sou, vejo que o trabalho das minhas colegas é precioso para poder se desenvolver bem a leitura junto às crianças e aos jovens. A leitura de toda a forma seria uma tarefa da família. Mas eu percebo que isso não é muito possível, pois as pessoas não estão conseguindo fazer isso. Então, acho que a escola é o grande polo cultural que temos e é no trabalho da professora que a gente encontra esse suporte, precioso para transformar qualquer pessoa num leitor. Uma das coisas que gosto muito de fazer – e estou me dedicando bastante – são oficinas para multiplicadores de leitura. Acho importantíssimo captar cada vez mais o professor como um leitor. Só podemos levar a ideia da leitura e o gosto por ela se formos leitores. Não adianta tu quereres dizer aos outros: leia que é muito bom, se tu não leres. Outra coisa que acho importante é produzir cada vez mais textos interessantes. Na verdade, para o escritor o desafio é mostrar de um jeito diferente aquilo que todo mundo sabe. Essa é a nossa tarefa, contando para isso apenas com as palavras.
O Florense: A senhora está trabalhando em alguma obra atualmente?
Marô: Não especificamente. Na verdade estou trabalhando em várias obras. Sou uma pessoa que gosta muito de desafios, então estou sempre fazendo projetos e achando que tem algo que não foi feito, em especial na literatura infantil. Mas existem outros projetos relacionados com música, que é uma área que sempre me fascinou. Na área da criação, se tu tens uma mente aberta e uma cabeça realmente criativa, sempre vai encontrar o que fazer. Projetos não me faltam.
O Florense: Como a senhora vê o mercado literário no Brasil?
Marô: A situação não é muito alentadora. Eu te diria que o Rio Grande do Sul é ainda um polo cultural muito forte. Vejo que o Estado tem uma rede de feiras do livro. No RS existe um mercado muito bom e pujante para a literatura infantil e infanto-juvenil. A cada dia temos mais incentivo a leitura e mais prefeituras investindo em projetos de leitura. Fora do Estado vejo que existem alguns projetos, mas não consigo ver uma totalidade. Não existe um trabalho tão intenso.
O Florense: E o que deveria ser feito para incentivar a leitura dos brasileiros?
Marô: A primeira coisa que está faltando é um incentivo governamental de livros econômicos, mais baratos. Não quero dizer que tenhamos que diminuir a qualidade do livro; o livro é um objeto cultural e tem que ser um objeto bonito e chamar a atenção do leitor. Mas, por isso, o livro é ainda um objeto caro, do ponto de vista da possibilidade das pessoas em adquirir coisas. Se houvesse uma subvenção e interesse na publicação de bons livros para as pessoas que não podem adquiri-los, isso já permitiria ter acesso à leitura. O governo federal tem comprado muitos livros e distribuído bons títulos, mas isso ainda não é uma prática comum entre os governos estaduais. Por exemplo, em Viamão, estamos distribuindo um livro de literatura que foi feito especialmente para aquela população. Isso é a concretização do que estou falando: a prefeitura está investindo para que todos que não têm acesso possam ter um livro que é seu. Acho que é uma questão de valorização da cultura. A cultura quase sempre é a última a ser lembrada na distribuição dos recursos. Temos que pensar nisso e trabalhar para que isso aconteça. Se cada um fizer um pouquinho, juntando todas essas ações, conseguiremos uma mobilização grande em favor da leitura.
O Florense: Qual é o papel de uma feira do livro?
Marô: A feira do livro pode contribuir para a leitura. Por isso que vou com muito orgulho e alegria a Flores da Cunha para, durante esse período, estar presente, conversar com os leitores e incentivar os professores. Diferente dos outros meios de comunicação, o livro exige que tu mobilizes as tuas vivências para criar os ambientes no imaginário da população. A feira do livro tem isso: coloca em contato pessoas que estão trabalhando pelo livro. Isso é importantíssimo.
O primeiro livro, Minda Zoológica, foi publicado em 1989 e, de lá para cá, Marô não parou mais de escrever. Hoje são 24 obras dedicadas ao universo infantil. Entre elas estão Tinoca Minhoca (1991), O Feitiço da Receita (1997), A Princesa que não Sabia Chorar (2007), A Fada que Colecionava Manhãs (2010), Pequenos Segredos de Jardim (2010) e, o mais recente, O Segredo da Fonte, lançado neste ano.
Graduada em Letras, a professora Marô também se dedica à contação de histórias e já foi presidente da Associação Gaúcha de Escritores. É criadora dos projetos Leitor de Rua (grupos de leitores voluntários de Porto Alegre); Gente que lê (escritores de literatura infantil e juvenil de Viamão); e Livros na Mão (ação de leitura que distribui livros a estudantes de Viamão).
A escritora já recebeu os prêmios Livro do Ano – Categoria Literatura Infantil, da Associação Gaúcha de Escritores, e o troféu Palavra Viva, do Sindicato dos Trabalhadores da Justiça Federal. Nesta entrevista, Marô fala da importância de uma feira do livro, de seus projetos pessoais e do mercado literário brasileiro.
O Florense: O que significa para a senhora ser madrinha da 35ª Feira do Livro de Flores da Cunha?
Marô Barbieri: Uma feira do livro é uma festa da leitura, para aqueles que gostam da fantasia e imaginação. Quando falamos de uma feira do livro falamos de literatura, falamos da arte que se faz com palavras e que usa aquilo que todos nós temos e exploramos: a imaginação, a fantasia e esses outros tantos mundos que a gente cria e, por meio dos quais, elaboramos a realidade.
O Florense: Desde quando a senhora escreve? Por que começou a escrever?
Marô: Já tem um bom tempo, pois estou produzindo livros desde 1990. Comecei com o livro da Tinoca Minhoca que é uma personagem minha e que vou explorar na Feira do Livro de Flores da Cunha. Depois do primeiro livro publicado ficamos sempre querendo contar mais histórias e sempre na expectativa que a próxima seja melhor que a anterior. Sou professora de português e sempre tive um contato muito grande com as palavras, desde pequena gosto muito de ler, e o livro está presente na minha vida. Quando me tornei professora, ao fazer um trabalho de literatura com as séries iniciais, tive contato com as crianças e descobri como a gente poderia começar um trabalho com literatura desde pequeno. Ao fazer essa experiência descobri duas coisas muito importantes na minha vida: que eu adorava crianças e que eu era uma boa contadora de histórias. Comecei a produzir algumas delas para meus alunos e percebi que não era possível deixar essas histórias sem registros. Isso me fez iniciar um trabalho específico para as crianças.
O Florense: A senhora escreve somente para crianças?
Marô: Na verdade já escrevi outros textos para adultos, mas sempre em menor quantidade, por que o meu foco, por enquanto, é a literatura infantil. Uma história bem escrita vale tanto para a criança quanto para o adulto. Na verdade existem níveis de leitura: tu podes ler de uma forma bem literal e podes, também, a partir das informações que o texto te dá, refletir e filosofar um pouco. Em todos os textos existe essa possibilidade que o leitor recebe e que ele transforma de acordo com a sua vivência.
O Florense: Fale um pouco sobre os projetos que criou para incentivar o hábito da leitura.
Marô: Como professora que sou, vejo que o trabalho das minhas colegas é precioso para poder se desenvolver bem a leitura junto às crianças e aos jovens. A leitura de toda a forma seria uma tarefa da família. Mas eu percebo que isso não é muito possível, pois as pessoas não estão conseguindo fazer isso. Então, acho que a escola é o grande polo cultural que temos e é no trabalho da professora que a gente encontra esse suporte, precioso para transformar qualquer pessoa num leitor. Uma das coisas que gosto muito de fazer – e estou me dedicando bastante – são oficinas para multiplicadores de leitura. Acho importantíssimo captar cada vez mais o professor como um leitor. Só podemos levar a ideia da leitura e o gosto por ela se formos leitores. Não adianta tu quereres dizer aos outros: leia que é muito bom, se tu não leres. Outra coisa que acho importante é produzir cada vez mais textos interessantes. Na verdade, para o escritor o desafio é mostrar de um jeito diferente aquilo que todo mundo sabe. Essa é a nossa tarefa, contando para isso apenas com as palavras.
O Florense: A senhora está trabalhando em alguma obra atualmente?
Marô: Não especificamente. Na verdade estou trabalhando em várias obras. Sou uma pessoa que gosta muito de desafios, então estou sempre fazendo projetos e achando que tem algo que não foi feito, em especial na literatura infantil. Mas existem outros projetos relacionados com música, que é uma área que sempre me fascinou. Na área da criação, se tu tens uma mente aberta e uma cabeça realmente criativa, sempre vai encontrar o que fazer. Projetos não me faltam.
O Florense: Como a senhora vê o mercado literário no Brasil?
Marô: A situação não é muito alentadora. Eu te diria que o Rio Grande do Sul é ainda um polo cultural muito forte. Vejo que o Estado tem uma rede de feiras do livro. No RS existe um mercado muito bom e pujante para a literatura infantil e infanto-juvenil. A cada dia temos mais incentivo a leitura e mais prefeituras investindo em projetos de leitura. Fora do Estado vejo que existem alguns projetos, mas não consigo ver uma totalidade. Não existe um trabalho tão intenso.
O Florense: E o que deveria ser feito para incentivar a leitura dos brasileiros?
Marô: A primeira coisa que está faltando é um incentivo governamental de livros econômicos, mais baratos. Não quero dizer que tenhamos que diminuir a qualidade do livro; o livro é um objeto cultural e tem que ser um objeto bonito e chamar a atenção do leitor. Mas, por isso, o livro é ainda um objeto caro, do ponto de vista da possibilidade das pessoas em adquirir coisas. Se houvesse uma subvenção e interesse na publicação de bons livros para as pessoas que não podem adquiri-los, isso já permitiria ter acesso à leitura. O governo federal tem comprado muitos livros e distribuído bons títulos, mas isso ainda não é uma prática comum entre os governos estaduais. Por exemplo, em Viamão, estamos distribuindo um livro de literatura que foi feito especialmente para aquela população. Isso é a concretização do que estou falando: a prefeitura está investindo para que todos que não têm acesso possam ter um livro que é seu. Acho que é uma questão de valorização da cultura. A cultura quase sempre é a última a ser lembrada na distribuição dos recursos. Temos que pensar nisso e trabalhar para que isso aconteça. Se cada um fizer um pouquinho, juntando todas essas ações, conseguiremos uma mobilização grande em favor da leitura.
O Florense: Qual é o papel de uma feira do livro?
Marô: A feira do livro pode contribuir para a leitura. Por isso que vou com muito orgulho e alegria a Flores da Cunha para, durante esse período, estar presente, conversar com os leitores e incentivar os professores. Diferente dos outros meios de comunicação, o livro exige que tu mobilizes as tuas vivências para criar os ambientes no imaginário da população. A feira do livro tem isso: coloca em contato pessoas que estão trabalhando pelo livro. Isso é importantíssimo.
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