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‘Quebra’ da safra de uva deve ser de 50 milhões de quilos

Colheita inicia em Flores da Cunha repleta de incertezas devido ao excesso de chuva, à geada e ao granizo

A família de Moacir e Ires Garibaldi tem orgulho da produção e da qualidade das uvas produzidas em sua propriedade na comunidade da Restinga, no interior de Flores da Cunha. Porém, 2015 não foi um ano bom para eles, que têm o apoio do filho Rodrigo e da nora Tatiane. “Nunca foi tão ruim, porque nem temos uvas para colher, tanto que nem vamos contratar ninguém para nos ajudar”, conta Tatiane, que com a sogra Ires está trabalhando na colheita da uva. Como a demanda é pouca, os homens estão trabalhando em outras propriedades para conseguir uma renda extra. Para se ter uma ideia, nos 5 hectares de videira, em 2015, a família Garibaldi colheu 65 mil quilos de uva da variedade Bordô. Para 2016, a esperança é que sejam colhidos em torno de 15 mil quilos. “Se chegarmos a 20 mil quilos estaremos no lucro. Temos um parreiral que no ano passado conseguimos 10 mil quilos, nesse ano atingimos apenas mil quilos”, relata Ires.

A perda estimada em mais de 70% da produção coloca não somente a família Garibaldi em alerta, mas centenas de outros produtores. O clima em 2015 não colaborou com as parreiras. O excesso de chuva que atingiu toda a região foi o principal vilão, que aliado a uma geada tardia e a um granizo inesperado prejudicou as fases de maturação da fruta.

A safra está no início, e como a família Garibaldi já relata, será uma colheita de incertezas. A Comissão Interestadual da Uva estima uma quebra em 50 milhões de quilos em Flores da Cunha, número que representa 56% da produtividade, levando-se em conta a safra de 2015, quando foram colhidos 88,3 milhões de quilos. Mas essa estimativa ainda é incerta, porque estamos no começo da safra e a maior produção advém da variedade Isabel, que deve ser colhida na metade do mês de fevereiro. “Pelos relatos dos agricultores e estimativas, dificilmente eles chegarão à metade da safra anterior. Ouvi produtores falando que irão produzir até 30% a menos, isso em áreas grandes. Está bem complicado esse ano devido as intempéries”, aponta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua (STR), Olir Schiavenin.

As dificuldades são registradas em todas as regiões do município. Poucas áreas ficaram livres da geada ocorrida em setembro e do granizo no mês seguinte. Os produtores que não foram atingidos pelas intempéries acabaram prejudicados por doenças como o míldio (popular mufa), devido à umidade demasiada e a falta de dias ensolarados, que dificultaram a fotossíntese das plantas. O resultado disso é uma safra menor e menos quantidade de uva para as vinícolas. “Vai acabar faltando uva nas cantinas, porque elas não irão conseguir receber o volume que teriam necessidade, até porque pelos dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), o suco de uva teve aumento de 30% no consumo, e os espumantes, de 15%. Com isso não haveria motivo para reduzir as vendas”, diz Schiavenin.

A boa notícia é que com a menor quantidade, os produtores podem receber mais pelo preço da uva. De acordo com o presidente do STR, neste ano, o preço mínimo (R$ 0,78/kg) servirá apenas como referência, não sendo um valor de mercado. “Os cantineiros estão oferecendo entre 30% a 40% a mais do preço mínimo. E isso é bom porque o agricultor vai conseguir compensar um pouco as perdas”, diz.

Perdas menores em Nova Pádua

A estimativa de prejuízos deve ser menor em Nova Pádua. De acordo com a chefe do escritório da Emater-RS/Ascar, Anísia Wagner Cassola, em algumas regiões produtoras de uva, os estragos causados pelo tempo foram mais amenos, entretanto, ocorreram bastante incidências de doenças. Com isso, a safra está bastante indefinida. “Alguns produtores têm parreirais cobertos, o que representa poucas perdas, outros relatam até 70% de quebra. O que podemos afirmar é que não será uma safra cheia e, de algum modo, todos terão alguma quebra”, explica.

Os agricultores do município já colhem algumas variedades para a venda in natura. Para as cantinas, a produção deve se intensificar nas próximas semanas. Na safra 2014-2015, Nova Pádua colheu 30,8 milhões de quilos de uva.

Foto: Larissa Verdi

As agricultoras Ires (E) e Tatiane Garibaldi já colhem a uva Bordô, mas prospectam uma colheita bem inferior a registrada no ano passado.


As condições da safra

O ano de 2015 teve registros meteorológicos extremos, com ondas de calor e temperaturas acima da média. Somado a isso, um intenso episódio do El Niño sobre as condições climáticas do Brasil, especialmente na Região Sul, e que deve perdurar por todo o verão de 2016. O volume de chuvas e as temperaturas acima das normais impactaram no ciclo fenológico das videiras e frutas de clima frio. Como consequência, houve falhas e um período de brotação de gemas maior do que o habitual, o que dificultou o manejo de poda e a aplicação de tratamentos químicos para uniformização da brotação. As condições climáticas para o período de colheita também não são favoráveis. Conforme o Boletim Climático do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para os meses de janeiro, fevereiro e março, no Rio Grande do Sul, haverá nebulosidade e precipitações acima do padrão em todas as regiões.


 - Larissa Verdi
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