“Processo não é só papel, é gente”
Com projetos que focam no lado “humano” do judiciário, novo juiz da comarca de Flores da Cunha assume casa com mais de 12 mil processos em andamento
Desde o início de janeiro, a comarca de Flores da Cunha está sob o comando do novo juiz de direito Enzo Carlo Di Gesu, 35 anos. Natural de Rio Grande, no Litoral Sul do Estado, Di Gesu vem da cidade de Arvorezinha, onde atuava desde outubro de 2014. Na comerca florense, o magistrado tem como objetivo colocar em dia os mais de 12 mil processos que estão em andamento. “A comarca de Arvorezinha atende quatro municípios, em torno de 15 mil pessoas. Quando assumi havia 9 mil processos e consegui reduzir para 7 mil em quatro anos. Aqui assumo o poder judiciário com mais de 12 mil processos, uma carga bem pesada mas que, aos poucos, vou tentar resolver e colocar em dia. O razoável seria uma média de 4 mil processos por juiz”, adianta o magistrado.
Mesmo a poucas semanas no cargo, Di Gesu explica que o maior número de processos no município gira em torno da natureza cível, diferente da experiência que teve em Arvorezinha, onde os criminais tinham mais relevância.
“Existem muitos processos de família que estão aguardando audiência e que vamos regularizar. Nós já começamos a pautar e organizar conforme a demanda. Algumas vão ficar mais distantes em função da agenda, pois é necessário estar presente nas audiências o promotor de Justiça e o defensor público. Então fizemos um ajuste de horários, readequamos a logística e realizamos toda essa organização administrativa, que também compete a nós”, esclarece.
Di Gesu define sua linha de trabalho como um juiz que acredita em um judiciário mais aberto, em contato com a comunidade e mais “humano”. “Esse tem sido meu ponto forte em Arvorezinha. Lá eu realizei projetos de exposições de obras de arte, atividades alusivas ao Natal, enfim, ações que deixaram o Fórum bonito e valorizaram a comunidade”, complementa. “Eu sou uma pessoa mais prática, prefiro muitas vezes escrever menos e resolver mais e ter essa aproximação com o público. Acredito muito nas conciliações, nos projetos em que as pessoas consigam resolver seus problemas por elas mesmas, porque muitas vezes a decisão judicial põe fim ao processo e não ao próprio conflito entre as partes”, defende. O novo comandante do judiciário não trabalha apenas para baixar as pilhas, e sim buscando olhar para o ser humano por trás do processo. Prova disso é a foto que está na nova mesa de trabalho. “É o registro da primeira criança adotada nos quatro anos que estive na outra comarca. O casal veio me trazer a recordação e eu deixei no meu gabinete para justamente olhar diariamente e ver que processo não é só papel, é gente”, valoriza o magistrado.
Com esse objetivo, aos poucos Di Gesu pretende fazer algumas mudanças na rotina do Fórum, como, por exemplo, a criação de grupos de conversa.
“É necessário olhar mais para as vítimas de violência, realizar grupos de conversas, e também valorizar a questão de conciliação. A expectativa é trabalhar bastante para, não de imediato, mas a um longo prazo, ter um bom resultado para que possamos fazer a diferença na vida das pessoas”, finaliza.
Verbas para entidades
Enzo Carlo Di Gesu já está a par das demandas que o judiciário possui com o Conselho Comunitário Pró-Segurança Pública (Consepro), que nos últimos meses, com a saída do juiz titular, teve corte no repasse de verbas, resultantes de valores recolhidos das penas alternativas. O juiz ainda não se reuniu com representantes do Consepro, mas já solicitou a sua equipe informações detalhadas sobre as contas do Fórum florense. “Esse valor vindo do pagamento de penas alternativas vai acumulando durante o ano. Como eu fazia em Arvorezinha devo manter aqui. Uma vez por ano o Fórum lança um edital de chamada pública, conforme regulamentação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e todas as entidades podem se inscrever com um projeto”, explica. Depois disso, os projetos são avaliados conforme os parâmetros estabelecidos pela CNJ. “Em Arvorezinha utilizamos esses valores para muitas melhorias como reformas de delegacia e celas de presídios, além de encaminhamento de recursos para diversas ONGs”, complementa.
Atuando no município desde 7 de janeiro, Di Gesu já está se familiarizando com os colegas e a cidade. “Um município acolhedor e organizado, estou ainda em período de adaptação e de conhecimento das pessoas, dos processos e as especificações próprias da comarca. Fiquei surpreso com a quantidade de trabalho, mas com muito esforço, dedicação da equipe e organização, vamos dar conta”, garante.
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