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‘Os Silva’ de Otávio Rocha

Família Molon faz parte da história, da cultura e da vida do distrito de Flores da Cunha. Dos mais de 3 mil moradores da localidade, cerca de metade carrega, se não o sobrenome, traços e laços com a família

Em um desses tradicionais almoços de colônia realizados no distrito de Otávio Rocha, uma jornalista visitou o local para fazer fotos e uma matéria do evento. Ao conhecer a cozinha, foi recepcionada pela cozinheira que tinha o sobrenome Molon. Na portaria, a situação se repetiu. O churrasqueiro era um Molon. E o organizador das atrações... Sim, outro Molon. Notou a semelhança? A família é a maior de Otávio Rocha e seus integrantes atuam em diferentes funções no distrito. Nem todos são parentes, nem todos usam o sobrenome, mas todos contam com os mesmos ancestrais vindos da Itália. E, lógico, carregam com orgulho o sobrenome Molon.

Otávio Rocha fica no interior de Flores da Cunha, conhecido e visitado por turistas que buscam a simplicidade da colônia e a boa comida típica italiana. Os restaurantes, mercados e estabelecimentos, todos contam com descendentes da família Molon. Em 1882 chegaram à Serra Gaúcha os primeiros imigrantes Molon. Alguns se instalaram nos Travessões Pinhal e Marcolino Moura, atual Otávio Rocha, outros seguiram para outras cidades, como Farroupilha e Porto Alegre – alguns ainda chegaram a Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

O secretário de Turismo, Indústria, Comércio e Serviços de Flores da Cunha, Floriano Molon, escreveu o livro Molon – História de uma Família. Na obra podem ser encontradas diversas informações sobre a família, como a origem do sobrenome, os ancestrais e os encontros, organizados desde 1991. Na primeira reunião foram encaminhadas correspondências a dezenas de pessoas com o sobrenome, recolhidas em listas telefônicas. Os encontros, segundo Floriano, servem para resgatar, valorizar, promover e integrar seus membros. Com o lema Catarse fim que semo vivi (Encontrar-se enquanto estamos vivos), o evento é promovido a cada três anos em Otávio Rocha. A última edição foi realizada em outubro de 2010, reuniu mais de 1,3 mil pessoas. Conforme Floriano, em Flores, dos mais de 27,1 mil habitantes, aproximadamente 4 mil não têm no nome o Molon, mas suas raízes familiares contêm laços com os Molon.

A origem dos Molon
A família Molon é originária da Grécia, como explica Giovanni Molon, italiano naturalizado que residia em Porto Alegre. “Na década de 1940, quando o professor grego padre Francesco Pasetto trazia uma bucólica história pastoril, chamou-me a atenção sobre a palavra Molon. Nunca mais esqueci a palavra grega Blosco, um verbo irregular que no pretérito passado se apresenta como Emolon, que, traduzido, quer dizer ‘vai-e-vem com as ovelhas, toma o sentido de pastor’. Correta, portanto, é a dedução que ainda antes da fundação de Roma, eles, os Molon, teriam percorrido as margens do Mar Adriático e, naquele vai-e-vem se estabeleceram na Itália, precisamente nas colinas de Arzignano, hoje província de Vicenza”, conta Pasetto em um trecho do livro Molon – História de uma Família. A família Molon tem, portanto, uma história de mais de dois mil anos.

Em Otávio Rocha se estabeleceram quatro famílias de imigrantes italianos com o sobrenome Molon. Antônio, filho de Giuseppe e Anna Bochese; os irmãos Pietro, casado com Francisca Ziliotto e Alessandro, casado com Tereza Gennaro; e seu sobrinho, Ângelo, casado com Cecília Ziliotto, junto das suas respectivas famílias (confira os descendentes nas árvores genealógicas).

Molon e melão?
Historicamente, existe uma outra versão para o sobrenome. Teoria onde o termo latino fixou-se no italiano em melone e com os falares regionais o vocabulário tomou a forma de melon. Porém, nunca foi comprovada a passagem de melon para Molon. De acordo com essa teoria, o sobrenome Molon reporta-se ao vocabulário grego mélon e ao latim melo ou melonis, ou melão. O significado do sobrenome é transparente, indicando “cidadão medieval que se dedicava ao plantio, à cultura prevalente de melões e melancias”. O sobrenome se relaciona não somente ao cultivador, mas também ao mercador e ao vendedor ambulante desses produtos. Embora não se tenha certeza da origem, uma coisa todos concordam: os integrantes da família Molon tem o rosto arredondado, lembrando o formato da fruta.
Uma outra origem do sobrenome seria uma pedra grande tipo ‘mola’.

Os novos Molon
A filha de Maristela Bortoloso Molon e Oscar José Molon, de apenas oito meses, é a mais nova integrante da grande família Molon de Otávio Rocha. A pequena Ana Luisa  Bortoloso Molon (foto acima) já é reconhecida pela família pelo formato do rosto. Os mais antigos contam que todos da família Molon têm o rosto arredondado, como um melão. Ana Luisa não foge à regra.

A menina nasceu no dia 22 de dezembro de 2010. A mãe é professora e, o pai, agricultor. Ela tem uma irmã mais velha, Maria Clara, que completará quatro anos em outubro. Segundo a mãe, além do “rosto redondinho”, os Molon têm como característica a dedicação ao trabalho. “São empreendedores e trabalhadores”, conta.


Orgulho da origem
Rômulo Molon Neto é um dos mais antigos agricultores de Otávio Rocha que carrega o sobrenome milenar. Aos 86 anos, ele mostra na parede da sala as fotos dos avós e dos pais, Joaquim Molon e Tereza Laghetto Molon. Casado com Odila Terezinha Smiderle Molon, que faleceu há três anos, Rômulo teve 10 filhos – todos seguiram os passos do pai e se tornaram agricultores.

Na juventude, Rômulo conta que plantou muito trigo, além de uva e milho. Todo o trabalho na terra ele aprendeu com o pai. Histórias de como os imigrantes italianos chegaram, primeiramente em Otávio Rocha, foram contadas muitas vezes ao jovem, que cresceu com orgulho do sobrenome. “Apenas algumas famílias chegaram aqui vindas da Itália. Agora, a maioria que mora aqui é Molon”, orgulha-se.

Casamento entre dois Molon
José Antonio Molon e Helena Molon sempre moraram em Otávio Rocha. As famílias dos dois não tinham ligação, mas sempre foram muito amigos. “Nossos pais iam para os bailes juntos e nós os acompanhávamos”, conta Helena. No colégio, os dois aproximaram os laços e, anos depois, se casaram. Hoje vivem em Otávio Rocha com os filhos Micael e Ezequel.

Helena lembra que, por ter o mesmo sobrenome, o casal passou por diversas situações. “Todas as pessoas pedem se somos parentes. No início, até para compras dava problema, mas somos de famílias diferentes, sem parentesco”, destaca Helena. A situação de casais com o mesmo sobrenome pode ser inusitada, mas é comum em Otávio Rocha – ocorre com pelo menos outros dez casais.

Ainda segundo Helena, as duas famílias têm características diferentes, mesmo sendo Molon. “A minha tem sangue quente. A do José é mais calma. Mas uma coisa as duas tem em comum: a participação na comunidade. O pai do José fundou a Festa do Colono e sempre esteve envolvido com eventos sociais”, lembra Helena.

José destaca que a sua ‘ala’ é envolvida com a política do município. “Meu avô foi vereador, meu pai foi vereador e eu também fui vereador”, conta ele, que hoje é proprietário de uma vinícola no distrito.

Histórias de um Molon
A comunidade do Travessão Carvalho, em Otávio Rocha, também conta com a presença dos Molon. É lá que mora o agricultor Luiz Carlos Molon, a esposa Terezinha Slaviero Molon e a filha Roberta. A família é conhecida pela participação em gincanas, festas e na construção de carros alegóricos que representam a comunidade no distrito e também em Flores da Cunha. O casal, mesmo não tendo o mesmo sobrenome, tem graus de parentesco. Terezinha conta que antes de casaram precisaram pedir a autorização do bispo. Os laços da família Molon estão nas duas famílias. Além da filha Roberta, o casal tem outras duas filhas, Diana e Ana Paula.

Terezinha conta que quando a comunidade está em festa, “se pedir para levantar o dedo quem é Molon ou tem laços com a família, não sobra ninguém com o braço abaixado”. Luiz lembra que os encontros dos Molon são muito importantes para se conhecer de perto antigas histórias. “Conhecemos pessoas novas de lugares diferentes. O que mais valorizo na vida são esses encontros”, acrescenta.

Sobre as características dos Molon, o casal chega a um consenso: são durões, mas gostam de trabalhar. “A família tem uma grande participação na comunidade: são interessados no trabalho e não medem esforços para ajudar. São pessoas simples e dedicadas, tenho muito orgulho de ser Molon”, ressalta Luiz.








Fonte: Livro ‘Molon - História de uma família’.
A mãe Maristela e as filhas Maria Clara e a pequena Ana Luisa, a mais recente integrante da família. - Camila Baggio
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