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“Ficamos por onde passamos, ou, por onde passam nossos olhos”?

O verso de Ana Maris Araldi Sottili reforça sua afirmação de que sempre vai continuar escrevendo, pois, é uma necessidade, assim como a leitura

Em homenagem a duas datas lembradas no fim deste mês – o Dia Nacional do Livro, em 29 de outubro, e o Dia Nacional da Poesia, no dia 31 – O Florense conta a trajetória de uma das primeiras escritoras a lançar um livro de poesias individual em Flores da Cunha e servir de inspiração para as gerações seguintes. 
A poetisa Ana Maris Araldi Sottili, 63 anos, hoje aposentada, trabalhou por muitos anos na agência da Caixa Econômica Federal, em Flores da Cunha. Formada em Letras, já atuou por sete anos como professora nas escolas São Rafael, Frei Caneca e São José, em Flores da Cunha, e no Cristóvão de Mendoza, em Caxias do Sul.  
Sua ligação com o universo da literatura iniciou aos 11 anos, quando estudava no São Rafael e teve como professora de língua portuguesa a escritora Neires Maria Soldatelli Paviani. De acordo com Ana, nas aulas sempre se escrevia muito e havia incentivo para produzir poesias. “No fim do ano a Neires foi tão maravilhosa que pegou as minhas poesias, juntou com as de mais três colegas e montou um livrinho. Ela e o seu marido, o escritor Jayme Paviani, fizeram xerox, botaram o título e entregaram para nós, foi uma surpresa”, descreve Ana recordando com carinho do título: “Sonhos de Cristal”.
A partir daí seus poemas foram, pouco a pouco, ganhando espaço e se transformando em publicações. O primeiro livro “Coisas do Coração”, foi lançado em 1985 e logo depois, em 1986, veio o segundo “Poemas para a hora da Festa”. As duas obras reúnem poemas de caráter intimista e não havia uma editora por trás, Ana cuidou de toda a organização. Já o terceiro, “Resíduo”, um livro de poemas que propõe o resgate da colonização italiana, ganhou as prateleiras em 1993, editado pela livraria do Maneco. Para surpresa da escritora, alguns desses textos foram publicados pela revista do Instituto Estadual do Livro, a Continente Sul Sur, em 1998. 
“Fui convidada para ir nas escolas, dei entrevistas nas rádios. O trabalho ganhou um espaço que eu não imaginava, me surpreendeu porque não era a minha intenção. Também fui patronesse da feira do livro daqui de Flores da Cunha”. 
Um fato marcante, que ela lembra com afeto, foi o convite que recebeu do poeta Eduardo Dall’ Alba (in memoriam), para participar da segunda edição da antologia poética “Matrícula”, cuja primeira, em 1967, reuniu escritores que propunham um novo modo de ver e escrever o que se via: Oscar Bertholdo (in memoriam), Ari Nicodemos Trentin (in memoriam), José Clemente Pozenato, Jayme Paviani e Delmino Gritti, nomes que, sem dúvida, se tornaram inspirações para as futuras gerações. “É uma honra ter participado de uma edição com aqueles cinco primeiros que, até hoje, são memoráveis. Achei muito legal o fato de eu ser a única mulher, porque as mulheres estão sempre um pé atrás, elas não têm um reconhecimento. Então, para mim foi muito gratificante isso”, pontua a escritora, ao mesmo tempo em que, defende sua paixão pela poesia. “Na poesia temos que usar pouquíssimas palavras, mas elas têm que ser precisas. Então cada palavra que eu escrevi foi pensada e calculada”, afirma e complementa mencionando que já escreveu crônicas, prosas e tem um livro de ficção pronto para ser lançado, uma novela com o título “O Lobo, o Cão e a Camponesa”. 
Ana Maris certamente foi uma das percursoras na literatura florense, bem como na poesia. “Eu acho que só fui me dar conta disso muitos anos depois que eu comecei, porque até então não tinha ninguém, nenhuma mulher, e eu nunca tive a pretensão de ser isso ou aquilo. Aí surgiu a Maristela Fachin Dal Alba, a Maria de Lurdes Rech Pianegonda, e muitas outras”, ressalta. Ao mesmo tempo ela evidencia outros nomes que considera fundamentais para escrever a história da cultura florense: Flávio Luis Ferrarini (in memoriam) e Admir Zanella, filhos da mesma geração que teve início com Angelo Giusti, passou por Jayme Paviani e José Clemente Pozenato. Os próximos capítulos ainda estão sendo escritos, mas, pelo que depender de Ana, eles não terão um ponto final. 

Ana Maris enxerga um futuro promissor para a leitura.  - Karine Bergozza
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