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“Escrever é fazer amor com as palavras”

"Escrever é ter coisas para dizer", já disse o antropólogo Darcy Ribeiro.

"Escrever é ter coisas para dizer", já disse o antropólogo Darcy Ribeiro. E o patrono da 32ª Feira do Livro de Flores da Cunha, Ivo Gasparin, tem essa máxima na mente. O ato de escrever partiu da sua paixão pelas letras e também por expressões típicas da Região. Foi assim que nasceu o seu romance Segredo de Pedra, vencedor do Concurso Memória Histórica e Cultural de Flores da Cunha, do ano passado. Professor de Língua Portuguesa e estudioso da sociologia e psicologia dos imigrantes italianos e seus descendentes, Ivo escreve semanalmente a coluna Ciàcole nos jornais O Florense e Expresso do Oeste (SC), onde retrata crônicas do cotidiano em dialeto vêneto. É autor de inúmeras composições musicais, tanto em dialeto vêneto (La Mora, Su co le Récie, Le comare, entre outras) quanto em português regional (La Scala Rolante, Cevete do Bepino, Se o sinelo non rebala, entre outras). Nesta entrevista, o patrono da Feira fala do papel que desempenhará durante o evento e o porquê escrever um romance entrelaçado com realidade e ficção. O Florense: O que significa para o senhor ser patrono da Feira do Livro de Flores da Cunha? Ivo Gasparin: É como se alguém viesse avisar você que ganhou na mega-sena e você nem lembrava que estava com o bilhete no bolso. Foi uma surpresa muito grande sim, porque a gente imagina muita coisa na vida, mas esta de um dia ser Patrono do maior evento cultural de Flores da Cunha, nunca havia me passado pela cabeça. É mais uma coisa maravilhosa que me acontece nesta terra que já me deu tanto. O Florense: O senhor escreveu o livro Segredo de Pedra. Por que escrever um romance mesclado com fatos verídicos? Gasparin: Porque sempre senti vontade de contar, especialmente para os mais jovens, fatos que vivi, que presenciei, que marcaram minha vida, que marcaram a cultura da minha gente, fatos que não podem cair no esquecimento: o primeiro rádio, o primeiro automóvel, a trilhadeira, o filó, a praga dos gafanhotos, a reza do terço em família, etc... Tudo isto está no meu Segredo, e contar por meio de um romance fica mais atraente. E acho que me dei bem, porque foi, especialmente, por causa do meu romance que me deram este grande prêmio de ser Patrono da 32ª Feira do Livro. O Florense: Qual o papel de uma Feira do Livro? Gasparin: Só um: despertar o interesse pela leitura. Como? Fazendo o que a Secretaria de Educação e o Departamento Cultural está fazendo. É preciso que o povo desperte e atenda a este chamado. O Florense: Como o senhor vê o mercado literário da cidade? Um concurso como o Memória Histórica e Cultural ajuda a incentivar as pessoas a escrever? Gasparin: Se há uma coisa da qual me orgulho desta terra é da Lei nº 1.929/97, que estabeleceu o concurso “Memória Histórica e Cultural”. Acredito que o nosso Município é o único que criou uma Lei para incentivar as pessoas a escrever. Imagine só: foi por causa dela que pude contar o meu Segredo, não é uma maravilha? Quanto ao mercado literário? Um dia eu sonhei com uma construção arredondada, no meio da Praça, com som ambiente, bem arejado, bem ventilado, com jovens sentados lendo: era a biblioteca da cidade, aberta à noite, aos sábados e domingos. Mas foi um sonho apenas... O Florense: O que lhe despertou a vontade de escrever? Gasparin: Quando a gente se põe a escrever, não é porque quer escrever, mas é porque precisa escrever, sente necessidade, como o alcoólatra sente necessidade de beber, como o fumante sente necessidade de fumar. Tinha coisas dentro de mim que precisavam sair. Foi Ernest Renan quem disse: “Só devemos escrever acerca daquilo de que gostamos” – Sempre gostei de trabalhar com as palavras, com as figuras de linguagem – criar figuras de estilo – isto me dá prazer, porque escrever é fazer amor com as palavras. Mas tinha mais uma coisa: como sempre fui apaixonado por expressões típicas da nossa região como: “non fiz hora” - “peguei um susto” – “vai ver quando ele vem grande” – “eles comeram fora tudo”... etc. achei então, que num romance teria muito espaço para me espraiar com tudo isto. Aí, nasceu o Segredo de Pedra. O Florense: Tens algum escritor que te instigou no início? Gasparin: Para ser sincero, não é do escritor que eu gosto, gosto do belo, da literatura leve, independentemente de quem a faz. O Florense: Que obras o senhor considera indispensáveis para a leitura dos estudantes? Gasparin: Todas aquelas que proporcionam o “prazer de ler”. Para você criar o hábito do ler, para despertar o prazer da leitura, você só deve ler aquilo que agrada. O próprio Mário Quintana disse: “Há dois tipos de livros: aqueles que os leitores esgotam, e outros que esgotam os leitores.” O Florense: Quem é Ivo Gasparin? Gasparin: Ivo Gasparin, sou eu... ou é o Tóni Sbrontolon, não sei...
Ivo Gasparin - Divulgação
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