'Dias de luta, dias de glória'
Neste Outubro Rosa, conheça a história de Marilene Sgarioni Calza e Anita Grison, duas florenses que enfrentaram o câncer de mama
“À medida que nós andamos com o tratamento, a gente já pensa lá no final, no dia que a doutora vai dizer: você recebeu alta. A partir de agora, não vai precisar de quimioterapia, só de exames rotineiros”, afirma Anita Grison, florense que luta contra um câncer de mama há três anos. A esperança por dias melhores e saudáveis é o que motiva milhares de mulheres que sofrem com a doença no país.
Somente no ano passado, estima-se que o Brasil tenha registrado quase 60 mil ocorrências desse tipo de câncer, o que mais acomete pessoas do sexo feminino no mundo. Desde os anos 90, a cor rosa se espalha ao redor do planeta nos meses de outubro para celebrar a luta dessas mulheres e promover a prevenção e o diagnóstico precoce da doença.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), é possível reduzir em 28% o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama a partir da adoção de alguns hábitos, como a prática de exercícios físicos regulares e a alimentação saudável. Além disso, o diagnóstico precoce possibilita que as chances de cura sejam muito maiores para a paciente, chegando a 95%.
A recomendação é a realização anual da mamografia a partir dos 40 anos em mulheres assintomáticas, como define a Lei 11.664/2008. A boa notícia é que, desde o início da campanha Outubro Rosa no Brasil, o Ministério da Saúde registrou um aumento de 37% no número de exames desse tipo realizados no país.
Em Flores da Cunha, a programação da Liga Feminina de Combate ao Câncer promove bate-papos sobre a mulher todas as segundas e terças-feiras do mês, no Centro de Saúde Irmã Benedita Zorzi. A tradicional ‘Caminhada pela Vida’ se dará de forma diferenciada. Neste sábado, dia 24, às 15h30min, a carreata da Liga terá saída em frente à Igreja Matriz, percorrendo a Rua Dr. Montaury até a Igreja do bairro Aparecida e retornando pela Rua Júlio de Castilhos até o Centro. Após, haverá uma missa de Ação de Graças na Igreja Matriz.
“A melhor oração é agradecer”
Há 12 anos, Marilene Amábile Sgarioni Calza, teve o seu diagnóstico: câncer de mama. Hoje, com 67 anos, Mari, como é conhecida carinhosamente, deixa seu legado ao povo florense. É a ‘vovó’ do crosfit e não perdeu de jeito nenhum sua fé e o amor pela vida, mesmo passando pelas dificuldades que o câncer proporciona.
A descoberta do câncer de Marilene foi por acaso. “Eu tinha prótese nos seios e fui até o médico no intuito de trocar, porque já estava encapsulada. E antes de fazer a cirurgia fiz todos os exames, inclusive mamografia, e não apontou nada. Estava tudo normal”, conta.
Ao passar pelo procedimento, Mari foi diagnosticada. “Quando ele abriu a mama e retirou o silicone, o câncer estourou. O médico prontamente mandou examinar e deu positivo para câncer. Fiquei surpresa porque no exame não apareceu nada. Só que o câncer estava em baixo do seio, no ferrinho do sutiã, e a mamografia não pegou”, explica.
Marilene precisou realizar a mastectomia da mama esquerda, além de passar por sessões de radioterapia e quimioterapia, e um longo tratamento, de cinco anos, com remédios.
Emocionada, Mari declara que no primeiro momento o chão se abre. “Eu pensei que ia morrer”. Mas, a conscientização foi um passo muito importante. “Eu coloquei na cabeça que eu não tinha nascido com aquilo e que eu ia melhorar. Depois do primeiro impacto eu não fiquei para baixo”.
E a autoestima e o psicológico de Mari, além do apoio da família, foram quem a salvou. “Eu comecei a trabalhar muito a minha cabeça, ter esperança e fé”, conta. Para Mari, o câncer veio para lhe dizer alguma coisa, para melhorar como pessoa. “Eu mudei muito a minha maneira de pensar. Coisas banais não têm importância. Eu sou uma pessoa muito melhor”, esclarece.
Mari, que atualmente faz todos os anos a bateria de exames, fala da importância da prevenção. “O câncer vem do emocional. Então as pessoas, além de se apalparem, tem que cuidar muito da cabeça, não engolir sapo, nem raiva. Eu sei o dia que me deu câncer. Foi um momento de raiva, de desespero”. Além do emocional, a saúde do corpo também é importante. Cuidar da alimentação e praticar exercícios também estão na lista de atividades que Marilene faz até hoje. “É preciso manter a serenidade, alegria de viver, e assim tu passas a dar valor a cada minuto da tua vida”, finaliza Mari, sem esquecer-se de agradecer. “A melhor oração é o agradecer”.
A importância do autoexame
Menos de um ano após retirar um tumor na coluna, Anita Grison recebeu a notícia de que o câncer havia voltado. Dessa vez, localizado na axila e na mama. Atualmente, no terceiro ano de tratamento, a cabelereira de 63 anos demonstra que manter o otimismo é tão importante quanto a medicação na luta para ultrapassar a doença.
Outro aspecto importante nessa trajetória foi a prevenção. Anita fazia visitas anuais ao ginecologista, como é recomendado. Em setembro de 2017, um exame preventivo apontou que estava tudo bem com ela. Apenas quatro meses depois, Anita detectou, ela própria, um nódulo na região da axila. Voltou ao médico e um novo exame não encontrou nada. Mas o tumor estava lá, maligno.
“É por isso que a prevenção é importante. Mas mais importante ainda é o autoexame. Se eu tivesse esperado até o outro ano, a doença estaria em um nível mais avançado e o tratamento seria ainda mais agressivo”, conta Anita. O diagnóstico precoce possibilitou que ela descobrisse o câncer no primeiro estágio – o quarto nível é o mais avançado deles.
Confirmada a doença, Anita retirou a mama e passou por esvaziamento axilar. Depois das cirurgias, vieram as sessões de radioterapia, a época mais complicada do tratamento. “Foi a parte mais agressiva. No começo, depois da cirurgia, quando eu estava bem debilitada”, diz Anita, que ainda fará quimioterapia pelos próximos dois anos.
Ela também afirma que, além dos danos físicos, a doença também afeta o emocional. O importante, segundo Anita, é cercar-se de pessoas positivas para jamais deixar cair a força de vontade: “Meus filhos foram muito importantes, os médicos também. É fundamental procurar ajuda, inclusive profissional. Ninguém precisa carregar esse peso sozinho. Não pode se abalar, tem que ter determinação”.
Outra motivação é a espera pelo momento em que, enfim, a doença estará vencida. “É o que nos motiva, dá disposição, vontade. A gente tem que focar no que é bom e sempre procurar tirar lições positivas daquilo que é ruim”, afirma Anita.
Lições essas que ela sabe de cor e faz questão de repetir. A experiência de Anita pode ter lhe tirado muitas coisas, mas deu a ela ensinamentos que carregará para sempre consigo: “Para mim, foi um crescimento, um amadurecimento. Hoje, eu tenho mais empatia, vejo as pessoas com outro olhar. Aprendi a ter mais gratidão, parar de pedir e agradecer”.
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