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‘Caldognari ritrovati in Brasile’

Família Muterle, de Otávio Rocha, tem na cidade vêneta de Caldogno sua segunda casa e origem familiar

Caldognari ritrovati in Brasile, della famiglia di Valdomiro Muterle (Caldognari reencontrados no Brasil, da família de Valdomiro Muterle). Essa foi a frase que encerrou uma das homenagens recebidas pela família Muterle que, tendo desembarcado no Brasil em 1885, passou mais de 125 anos sem ter contato com suas origens e raízes com a cidade de Caldogno, província de Vicenza, região do Vêneto, no Norte da Itália. Hoje a família de Valdomiro Muterle, 63 anos, a esposa Helena Slaviero Muterle, 61 anos, e as filhas Carla, 29 anos, e Caren, 28 anos, que representam as gerações de descendentes dos Muterle no Brasil, são considerados verdadeiros caldognari, como são chamados os moradores de Caldogno. Têm do outro lado do Oceano Atlântico laços familiares, muitos amigos e uma infinidade de sentimentos que ligam à história do imigrante Giovanni Battista Muterle, que ainda criança deixou a Itália acompanhado dos pais, que se estabeleceram em Flores da Cunha em busca del paese de la cuccagna.

O contato com os Muterle de Caldogno iniciou em 2008, quando Carla viajou para a Itália para fazer um curso disponível por meio do Circolo Vicentini di Flores da Cunha, ofertado para descendentes vênetos pelo mundo. Embora o processo de dupla cidadania já estivesse encaminhado, Carla queria somente conhecer de onde vierem os bisavós e o tataravós. “Nos últimos dias do curso fui conhecer Caldogno e Rotzo, as cidades de onde vieram os Muterle e os Slaviero. Não fui com o intuito de encontrar alguém, mas me emocionei quando vi que de fato existiam muitos Muterle em Caldogno. Fotografei campainhas com os nomes, telefonei para meu pai que me incentivou a conversar com alguém. A primeira família que conversei ficou muito emocionada quando viu no meu passaporte o nome Muterle. Eu não imaginava que dali nasceria um laço tão forte”, recorda Carla.

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Semelhanças nos mínimos detalhes

Embora o parentesco exato das famílias não tenha sido confirmado, o carinho pelos Muterle do Brasil e os da Itália ficou cada vez maior. O contato, até então somente pela internet, ganhou impulso em 2010, quando um Muterle passou 10 dias na casa da família no distrito de Otávio Rocha. “Nos divertimos muito, a troca de experiências e de culturas foi tudo muito interessante. Mesmo sem saber nosso parentesco exato, eles nos consideram da família e nós também, afinal, é o mesmo sobrenome”, admite Helena. “Mas as feições, o jeito de falar, de gesticular, é incrível as semelhanças com a nossa família, até no jeito teimoso”, brinca, aos risos, Carla. Em 2011 foi a vez dos Muterle brasileiros retribuírem a visita – a primeira de muitas.

Em dezembro de 2013 Valdomiro embarcou novamente a família com destino a Caldogno, quando foi possível concluir a cidadania italiana, já que foram considerados verdadeiros moradores do município. Em meio aos almoços, jantares, muita alegria e cantoria, o sentimento de reencontro aflorou. “Fizemos parte da reunião da comunidade, das missas, nos sentimos como se tivéssemos nascido lá, foi muito emocionante”, conta Caren. “É a nossa cidade, assim nos sentimos hoje graças ao acolhimento que recebemos, as homenagens, os cantos em italiano, não existe explicação para essa sensação. Para eles, somos os Muterle de Caldogno que moram no Brasil”, se emociona Carla. “Só de estar na cidade de onde partiram nossos antepassados um filme passa pela cabeça. Que vontade eles não tiveram de voltar para lá. Mas partiram e nunca mais voltaram... Não tem como não se emocionar”, reconhece Helena.

Mérica Mérica Mérica, cosa saràla sta Mérica. A canção que relata a vinda dos imigrantes italianos ao Brasil foi entoada diversas vezes com emoção durante os encontros dos Muterle em Caldogno, guardados com carinho em vídeos pela família de Otávio Rocha. A saudade da companhia dos familiares italianos revela o que a região bem conhece: o convívio no entorno da mesa, com boa comida, vinho, música e muita alegria e diversão. Quem sabe o que diriam os imigrantes hoje, vendo a ponte entre Itália e Brasil ficar cada vez menor? Talvez que il paese de la cuccagna esiste.


Caren (E), a mãe Helena, e a irmã Carla exibem algumas das recordações da Itália. - Camila Baggio
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