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Indefinição quanto ao preço mínimo da uva

O momento é de indefinição nas relações entre indústria vinícola e viticultores, às vésperas de mais uma vindima. Em reunião realizada na tarde de segunda-feira, 15, em Brasília, na sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), não avançaram as tratativas sobre o preço mínimo da uva para a safra que logo mais inicia na Serra Gaúcha.

O momento é de indefinição nas relações entre indústria vinícola e viticultores, às vésperas de mais uma vindima. Em reunião realizada na tarde de segunda-feira, 15, em Brasília, na sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), não avançaram as tratativas sobre o preço mínimo da uva para a safra que logo mais inicia na Serra Gaúcha. De parte dos produtores de uva, o tom do discurso a propósito é de franco descontentamento. “A indústria sinaliza que não se poderia chegar nem a R$ 0,46”, relata o coordenador da Comissão Interestadual da Uva (Comiuva), Olir Schiavenin, segundo quem tal importância (o mínimo para o kg da uva americana ou híbrida com 15 graus glucométricos em vigência desde a safra 2006/2007) é inviável. “Já para a safra 2007/2008 não aceitávamos o valor; imagina, então, mantê-lo um ano depois, com todos os aumentos no custo de produção que o viticultor teve que incorporar”, diz o líder dos produtores de uva. “Nós estamos abertos ao diálogo, mas não vamos fazer acordo com R$ 0,46 como mínimo; não aceitamos”, reforça. Sobre o futuro das negociações – considerando que, desde o final de novembro, houve três encontros entre viti e vinicultores –, ele afirma apreensão. “Agora não sei o que vai acontecer”, declara Schiavenin, lembrando que se não houver acordo entre as partes, o governo federal (que, conforme ele, deixou clara tal possibilidade no encontro de segunda-feira) é que vai arbitrar o preço. Incapacidade de absorção Os produtores de vinho reiteram o argumento de incapacidade de absorção de aumento nos custos. “A indústria está diante de um quadro de mercado preocupante: além de diminuição do volume de comercialização, há queda no valor de venda do vinho”, aponta o presidente da Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi), Benito Panizzon. De acordo com ele, a conjuntura redundará em estoques, a 31 de dezembro, de cem milhões de litros superiores aos registrados no ano passado. O também já lançado apelo de que o governo federal comprometa-se com a cadeia produtiva, viabilizando um acerto entre as partes, é por ele reforçado. “A União, através da Conab, tem condições de criar estoques de vinho reguladores e auxiliar na colocação de excedentes, através de prêmios para escoamento ou destilação”, afirma Panizzon. Nesse sentido, ele observa que os editais lançados pela Companhia de Abastecimento em 2008 não beneficiaram empresas vinícolas ‘particulares’ (ou seja, não-associativistas). De fato, somente cooperativas é que conseguiram se habilitar para os processos que, no segundo semestre, permitiram o escoamento de aproximadamente 23,2 milhões de litros. Isso só foi mudado ontem, dia 18: pela primeira vez, um estabelecimento não-associativista – a Vinícola Perini, de Farroupilha – conseguiu arrematar lotes (equivalentes a dois milhões de litros de vinhos de mesa) de Prêmio de Escoamento do Produto (PEP) colocados a leilão pela Conab. “A indústria está aberta a continuar com as negociações, mas precisa de uma contrapartida do governo, com o que se pode chegar a valores bem próximos aos praticados na vindima 2007/2008”, segue Panizzon. Indagado sobre o quê essa ‘proximidade em valores’ significaria, o presidente da Agavi, contudo, permanece na defensiva: “Pode ser acima, igual ou um pouco menos”. O que pensa a Fecovinho O segmento associativista, representado pela Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho), assume a manutenção do preço mínimo de R$ 0,46 – condicionado ao recebimento de toda a uva produzida, resguardados os casos em que, comprovadamente, as vinícolas não puderem fazê-lo –, como sua postura. A informação é do diretor-executivo da entidade, Helio Marchioro. Visando à “construção de um consenso”, o cooperativismo coloca outras questões. Duas delas dizem respeito a comprometimentos a serem assumidos pelo próprio setor: em relação às mudanças necessárias para a implementação de programa de modernização da vitivinicultura que o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) está propondo e quanto à adoção de selo fiscal sobre os vinhos – nacionais e importados. Para o governo, a reivindicação é a manutenção do programa de leilões para escoamento/destilação e da oferta de Empréstimo do Governo Federal (EGF), para pagamento da safra, em 2009. “Certamente lamentamos a não-realização de um acordo sobre o preço mínimo até agora”, acrescenta Marchioro, sobre o impasse nas negociações entre viticultores e indústria do vinho. De todo o modo, os representantes da vitivinicultura que estiveram em Brasília no começo da semana obtiveram, da Conab, sinal de que os editais de leilão para escoamento/destilação previstos para 2009 teriam suas normas reformuladas, permitindo a participação de vinícolas particulares no processo, desde que haja um entendimento geral na vindima que se aproxima. Isso significaria as partes (indústria vinícola e viticultores) chegarem a um consenso envolvendo aspectos diversos – não apenas sobre o preço mínimo para a uva, mas em relação à colocação da safra, etc... Pelo menos considerando as posições assumidas publicamente, o acordo ainda parece ser possível.
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