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Cavagnoli e Sonda: um balanço dos quatro anos de mandato

Depois de quatro anos frente ao executivo florense, Renato Cavagnoli deixa o cargo no próximo dia 1° de janeiro. Esta semana, Cavagnoli recebeu O Florense em seu gabinete para uma conversa que resumiu alguns tópicos de seu mandato, entre eles a situação financeira da prefeitura, as obras entregues à comunidade e os problemas enfrentados no mandato.

Depois de quatro anos frente ao executivo florense, Renato Cavagnoli deixa o cargo no próximo dia 1° de janeiro. Esta semana, Cavagnoli recebeu O Florense em seu gabinete para uma conversa que resumiu alguns tópicos de seu mandato, entre eles a situação financeira da prefeitura, as obras entregues à comunidade e os problemas enfrentados no mandato. Ele afirma também que a partir de agora vai dedicar-se ao negócio da família, mas destaca ter recebido algumas propostas na área política. Confira: O Florense: Como o senhor recebeu a prefeitura e como vai entregá-la para o próximo mandato? Renato Cavagnoli: Financeiramente, em 2004, nós recebemos uma situação boa, razoável, com algum dinheiro em caixa, se bem que não é só o dinheiro que representa se a situação está boa ou não. Nós vamos deixá-la numa situação melhor, até porque a receita dos últimos quatro meses se comportou muito bem, principalmente junto ao governo federal. Não tenho números exatos ainda, mas nós vamos deixar em torno de R$ 3 milhões em caixa. Outro fator que ajudou a questão financeira foi, no início de 2005, o recebimento de cerca de R$ 8 milhões do Fundo de Previdência do Servidor. Passados quatro anos, ganharemos R$ 20 milhões. Então, isso dá uma tranqüilidade muito grande para o servidor, a garantia de uma aposentadoria integral. Outro ponto positivo que vamos deixar é a infra-estrutura do município. Melhoramos as vias de acesso, pavimentamos 28 quilômetros de ruas e estradas. Na área da saúde, além da criação do Programa de Saúde da Família (PSF), entregamos duas unidades sanitárias no loteamento Pérola. Também melhoramos o setor de maquinário da prefeitura, mas ainda não estamos com a situação ideal. Acredito que uma saída para isso seja a terceirização de serviços. Dobramos a capacidade de investimento da administração municipal, que era de 8% do orçamento quando assumimos. Além disso, vamos deixar uma prefeitura mais enxuta, com cerca de 600 funcionários, entre ativos e inativos. Vale ressaltar que a população cresceu muito no período, e precisamos terceirizar alguns serviços, como a coleta, o transporte e a destinação final do lixo, processos que antes eram feitos pelo município. Atualmente, atingimos uma média histórica com a folha de pagamento, com cerca de 35% do orçamento. O Florense: Quando assumiu, em janeiro de 2005, o senhor disse que a área mais problemática era a da saúde. Ela continuou sendo no seu mandato? Cavagnoli: Não com mais problemas, mas foi a mais complicada. E vai ser a mais complicada, até porque no Sistema Único de Saúde (SUS) se criaram alguns avanços (que considero não ser avanços). Parte da população acredita ser das administrações públicas a responsabilidade por prover tudo. Hoje o panorama é que dificilmente a questão das filas, da falta de medicamentos e de cirurgias eletivas, entre outras, serão resolvidas. Mas também avançamos no setor, como a ampliação do atendimento com novas unidades sanitárias e o convênio com o hospital. A população aumentou, e com isso ampliou-se a exigência. Eu diria que a secretaria precisa de mais cuidado, ou seja, deve ser monitorada constantemente. Mesmo com avanços, é o setor em que sempre ouvimos reclamações. O Florense: Entre os problemas que o senhor disse que iria resolver na área da saúde estava a carga horária dos médicos, já que muitos não a cumpriam, e a falta de remédios. O senhor conseguiu? Cavagnoli: Sim, consegui, mas limitamos o número de profissionais que se dispõem a fazer esse tipo de trabalho. Na verdade, existem alguns conflitos de legislações ou atribuições. Os Conselhos Regionais de Medicina pregam que os médicos devem atender por quantidade em determinado período. Acredito que o SUS deva atender por demanda, mas não é isso o que ocorre, aqui e em lugar algum do país. É um problema que deve ser administrado com uma remuneração conforme eles (os médicos) exigem, com a troca da legislação ou com a terceirização dos serviços. Sobre o hospital, acho que ele precisa mais do que nunca da nossa ajuda. Ou seja, o município precisa aumentar os repasses. Sobre a falta de medicamentos, os básicos nunca faltaram. Mas os que nem sempre temos são os que estão fora da lista básica. Na verdade, aqui em Flores, damos todos os medicamentos às pessoas que entendemos ser necessitadas. Para aqueles que o município não é obrigado a fornecer remédios, uma simples ida ao Ministério Público resolve o problema, pois, a partir daí, a administração será obrigada a dar o medicamento, sem questionamentos. O Florense: As duas pessoas que assumiram a secretaria no seu mandato não tinham ligação com a área médica. O senhor acha que isso prejudicou o setor? Cavagnoli: Eu diria que não é salutar e conveniente, na questão administrativa, que o secretário da Saúde seja um profissional médico. Isso porque ele tem uma visão muito diferente da que se exige em administração pública. Eu acho que é muito mais interessante que seja uma pessoa com bom senso, trânsito político e bem assessorada. Para confirmar minhas palavras, quem vai assumir a secretaria no próximo mandato é uma pessoa que não tem ligação nenhuma com a área médica. Em muitos locais é isso o que ocorre. O profissional da área da saúde deve atuar na área profissional, mas nada impede que ele seja um administrador. O Florense: O que, durante seu mandato, lhe causou satisfação, como, por exemplo, algo que não estava no seu plano de governo? Cavagnoli: Foram muitas as satisfações. Nós não imaginávamos encerrar o mandato tocando tantas obras de qualidade como nós fizemos. Claro que houve um comportamento bom da receita, o mesmo bom comportamento que ocorreu no país no período. Nós tivemos a facilidade de ter uma equipe bastante coesa, com esforços concentrados. Eu tive um secretário (Nilto Pilatti) que foi um verdadeiro tocador de obras, que marcava em cima os trabalhos. As obras que as pessoas mais vêem são aquelas pelas quais passam todos os dias, ou seja, o asfalto. Não digo que é a mais importante, mas é aquela que usamos como parâmetro. Atualmente, a pavimentação tem mais importância sanitária do que de conforto, pois agrega uma série de benfeitorias. Uma obra que não estava nos planos foi o Centro Municipal de Esporte e Lazer (Cemel), uma área que hoje atende a toda a população, principalmente com a chegada do verão. Junto ao complexo está sendo erguido o ginásio de esportes, a única obra que me arrependo não ter iniciado seis meses antes. Além disso, quando assumimos, Flores da Cunha não tinha sequer um projeto enviado ao governo federal. Nós levamos três anos para ter retorno do primeiro que encaminhamos. Nessa área, sabemos que um pouco de pressão política ajuda, como especificamente um deputado nosso, de Flores, lá em Brasília. A única exceção é o (Ruy) Pauletti. Deixamos encaminhados projetos nas áreas do saneamento, educação e turismo. O Florense: Qual foi o maior problema que o senhor enfrentou no seu mandato? Cavagnoli: O único problema administrativo que tive foi com o IPTU. E eu acredito que tomamos uma medida corretíssima. A prova disso é que, neste ano, mais de 70% da população fez o pagamento à vista. As pessoas entenderam quando começaram a comparar. O reflexo total do recadastramento deu um acréscimo próximo de 20% à receita. Sem falar que, quando começamos a olhar para os terrenos, existiam alguns contribuintes com mansões construídas em uma área a qual não estava cadastrada, e o vizinho do lado, com um patrimônio 10 vezes menor, pagando 10 vezes mais IPTU. Ou seja, verificamos uma grande quantidade de terrenos construídos que não estavam cadastrados junto à prefeitura. No início, falhamos na divulgação do que pretendíamos fazer. E sofremos muito na época. Não me arrependo disso, pois eu durmo muito mais tranqüilo com um barulho assim do que ouvir falar que se passaram mais quatro anos e o prefeito não tomou atitude. Tenho certeza absoluta de que fizemos justiça e tenho certeza que a próxima administração terá muitos problemas com relação a isso. Muito maior do que eu tive porque eles assumiram compromissos quanto a algumas regiões que tem que ser cobrado o imposto porque nós temos o serviço público. Se não cobrarem de determinadas comunidades, eu, morador do Centro da cidade, vou poder reivindicar ou não o pagamento. E a gente sabe que renúncia de receita é improbabilidade administrativa. O Florense: Se o senhor tivesse tempo para realizar mais alguma obra, qual seria? Cavagnoli: Eu faria a Casa da Cultura e um investimento maciço na questão educacional, principalmente na manutenção e na construção de novos prédios. Hoje nós temos algumas escolas, quase todas elas, fora de um padrão ótimo. Todas emendadas e remendadas. Eu faria uma escola centralizada, para atender até 2,5 mil alunos, com toda a infra-estrutura necessária. Acredito que, como município de área urbana pequena, precisamos otimizar a administração da educação. O resultado disso seria um ganho imediato em qualidade. O Florense: Algumas escolas de ensino superior, como a FAI, tiveram interesse em vir para Flores da Cunha. Houve algo de concreto nesse sentido? Cavagnoli: A FAI teve problemas financeiros, e estava com um pé e meio no município. Claro que nós tínhamos problemas de área a ser oferecida, principalmente no quesito adaptação. Mas acredito que a escola citada anteriormente, para até 2,5 mil estudantes, poderia sediar cursos superiores tranqüilamente. A cada ano que passa está mais próximo um curso superior na cidade. Ele não está instalado ainda porque não se criou um cenário favorável para isso. O Florense: Depois que sair da prefeitura, o senhor volta para a profissão de veterinário? Cavagnoli: Eu recebi alguns convites nas áreas política e empresarial, mas vou seguir minha profissão. Até pensei em contratar outro profissional para a minha clínica, pois a perspectiva de vitória era muito grande. Acho que perdemos por causa disso também. O Florense: Como o senhor gostaria de ser lembrado pelos florenses? Cavagnoli: Da mesma forma que estão lembrando agora, principalmente depois das eleições. Fui um prefeito que teve uma administração correta; um tocador de obras que não mudou de comportamento no minuto seguinte ao saber que perdeu as eleições, mesmo tendo o “pavio meio curto” de vez em quando. O único dissabor que tenho é sobre o que eu teria feito logo após saber o resultado das eleições. As histórias de que eu teria demolido meu gabinete e o comitê, e de que eu estaria com uma camisa-de-força, foram muito prejudiciais para minha família. Todos os dias eu tento encontrar uma maneira de mostrar às pessoas que não ocorreu nada disso. Senti bastante a derrota, mas de maneira alguma fiz o que falaram por aí. E é uma mágoa que eu também tenho nossa falha na questão política. Apesar de algumas advertências, durante a campanha, a coordenação achava que uma vitória seria fácil, mas não foi. A vida continua. Vou ter tempo para pensar depois do dia 1º de janeiro, quando passar o cargo e não vier mais à prefeitura.
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