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“Antes de tudo é preciso saber perdoar”

Em visita a Flores da Cunha, madres italianas da Ordem das Irmãs Clarissas deixam uma mensagem de fraternidade

Presente em Flores da Cunha desde 1981, a Ordem das Irmãs Clarissas Capuchinhas conserva uma vida silenciosa, porém atuante para aquelas que buscam a religiosidade e espiritualidade. Fica no município o primeiro mosteiro do Brasil, instalado na época por cinco irmãs italianas. Nesta semana, aos 33 anos de fundação e com a presença de 10 religiosas dos mais diversos Estados como São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais, o Mosteiro Nossa Senhora do Brasil – Irmãs Clarissas Capuchinhas, relembrou suas origens recebendo a visita da madre presidente da Ordem, Stefania Monti, que vive em Roma, e da madre Chiara Francesca Lacchini, que atua na região do Marche, na província de Ancone, na área central da Itália. A visita serve como uma ‘consulta’ que visa o bem-estar das religiosas e do Evangelho dentro e fora do Mosteiro.

O sorriso é característica das irmãs capuchinhas que vivem em Flores. Aassim é com a irmã Clara Francisca, que recebe os visitantes – e não seria diferente com as madres vindas da Itália. Pela primeira vez no Brasil, Stefania, 66 anos, conheceu o único país que tem dois mosteiros das Irmãs Clarissas (em solo italiano são 27 monastérios, como são chamados lá). Aqui se encantou com a fidelidade das raízes italianas, vistas da per tutto (por todos os lugares). “A primeira coisa que me chamou atenção foram todos esses nomes italianos, os monumentos como o Leão de São Marcos, o modo de falar das pessoas. Para mim existe certa maravilha neste amor e orgulho de mostrar a origem italiana”, comemora a madre.

A religiosa Chiara, 49 anos, está no Brasil pela terceira vez. Aqui conheceram o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha, a Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul, e pontos turísticos de Flores, como o Parque da Vindima, além de provar um bom churrasco feito pela irmã Clara. Atualmente existem 31 mosteiros da Ordem das Imãs Clarissas no mundo: além dos 27 na Itália e dois no Brasil, dois ficam no continente africano (na Eritréia e em Moçambique).

Uma vida seguindo o Evangelho

Pela forte ligação com a Ordem na Europa, as Irmãs Clarissas Capuchinhas de Flores da Cunha recebem a cada seis anos a visita de irmãs italianas. “O objetivo é ver como elas estão, se estão felizes, inseridas na Igreja e também na cidade, se podem viver fiéis as suas vidas”, explica a madre Stefania. Ela complementa que, além das regras da constituição, é observado se “antes de tudo se vive o Evangelho”.

Durante a visita a madre percebeu algumas características especiais das capuchinhas florenses. “Posso dizer que as pessoas daqui amam muito as irmãs, elas não têm dificuldades fora do Mosteiro e as condições são muito positivas. O que pode melhorar é sobre essa forte influência italiana. É muito interessante e também difícil, pois de um lado não podem abandonar essas raízes, as raízes desta família, mas entre elas existem irmãs que não são naturais desta região, são de outros Estados e por isso, ao mesmo tempo, precisam ter um modo brasileiro para viver a vida, um estilo, e este é um trabalho que as irmãs daqui precisam fazer. Podemos dar sugestões, mas são elas que devem encontrar os meios para fazer isso”, acrescenta a presidente Stefania.

O pedido da madre é que a influência italiana, obviamente marcante pela imigração da região, ceda espaço para condições mais brasileiras. No Brasil desde o dia 15 de outubro, ela e Chiara visitaram também o Mosteiro Santa Verônica Giuliani, em Macapá, no Amapá. O local foi fundado em 2003. Na época, cinco irmãs que atuavam aqui foram designadas para a missão na região Norte. Stefania e Chiara permaneceram em Flores da Cunha até o dia 21, quando retornaram ao Velho Continente.

A valorosa fraternidade

As Clarissas Capuchinhas pregam o carisma franciscano pela pobreza, simplicidade fraterna, a clausura e intensa vida de oração e contemplação. Nesta maneira de orar e dedicar a vida a Deus, tornam a vida fraterna sua primeira característica, assim como Santa Clara e São Francisco pregam. E é sobre a fraternidade que a madre Stefania deixa alguns aprendizados para a comunidade de Flores da Cunha. “Se pensarmos bem, a Bíblia não traz uma boa ideia de irmãos, pois os primeiros dois irmãos são Caim e Abel. Isso quer dizer que ser irmão é muito difícil. Jesus chamou os apóstolos de irmãos somente depois da sua ressurreição, portanto, passando pela morte e pelo sepulcro. Isso tudo, penso, mostra que para podermos ser irmãos é preciso enfrentar alguns obstáculos”, reconhece. E complementa: “São Francisco chamava de irmãos e irmãs a todos, compreendido a morte, e disse também que a coisa mais importante é perdoar. Por isso o núcleo da fraternidade é a palavra perdoar, é o primeiro passo. Depois podemos falar de outras coisas, mas antes de tudo é preciso saber perdoar”.

Para a madre Chiara, a mensagem serve não apenas para a vida religiosa, mas para a convivência em comunidade. “O Evangelho tem um percurso que todos devemos fazer por meio do perdão para nos tornarmos cada vez mais irmãos. Na medida em que isso vai acontecendo seremos cada vez mais capazes também de ter boas relações, não apenas dentro dos mosteiros, mas também na comunidade. Inclusive com aqueles que vêm em busca de um pedido para serem escutados ou ajudados, que buscam palavras de conselhos que, porém, não encontram em nenhuma parte”, lamenta Chiara.

Embora as diferenças entre Brasil e Itália ainda sejam grandes, tanto em dimensão de território como de modo de vida, um coisa ambos têm em comum: a presença das Irmãs Clarissas Capuchinhas, que vivem em oração, silêncio e buscando a fraternidade entre as pessoas, onde a palavra perdoar ganha atribuições também fora do dicionário.


Stefania e Chiara passaram pelo Amapá antes de desembarcarem no Rio Grande do Sul. - Camila Baggio
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