Expressões

Entre as várias artes existentes na cidade de Flores da Cunha, está a restauração e pintura de imagens religiosas, também chamada de arte sacra. Um dos ateliers mais conhecidos do município está localizado na Rua Andrade Neves, próximo a Padaria Qualitá, o qual é de propriedade da florense Julita Michelon Molon.
Julita despertou o interesse pelo mundo da arte ainda muito nova, aos 8 anos de idade, quando começou a gostar de desenhos e, cada coisa que encontrava, acabava reproduzindo em uma folha de papel. Aos poucos, a jovem foi crescendo e o amor pela atividade a acompanhava. “Gostava de desenhar, mas não gostava daquilo que eu fazia, eu não estava completa. Então fiz crochê e não gostei, fiz tricô, mas também não gostei, fiz outros tipos de pinturas que ficavam bonitas, mas eu ainda não gostava”, relata a artesã, ao mesmo tempo em que lembra que, com o decorrer dos anos realizou vários tipos de cursos, todos voltados para o artesanato.
No entanto, a florense só se sentiu realizada quando descobriu o amor pela arte sacra. “Certo dia encontrei um santinho, mas ele era feio, então pensei: ‘vou tentar pintar um santo e ver se eu vou gostar’. Foi aí que comprei um santinho de gesso, todo branquinho, e pintei”, explica a artesã, revelando que na época ainda não tinha um conhecimento sobre a atividade e nem sabia qual tinta deveria utilizar. Por esse motivo, buscou se informar por meio de livros, os quais mostravam as imagens, qual tipo de tinta e cor era preciso usar.
Após ver o resultado positivo de seu trabalho, Julita resolveu fazer alguns cursos específicos para pintura em gesso. “Eu fiz vários cursos em Caxias do Sul e até em Bento Gonçalves, mas aprendi mais sozinha, olhando, lendo e vendo um santo”, relata. “Não é difícil, só é preciso ter amor, sentir dentro de ti que isso é um trabalho que tu gosta”.
A artesã explica que trabalhar com esse tipo de arte não é algo simples, mas que também não é algo difícil, para quem tem o dom, basta conhecer as variedades de opções existentes e as técnicas para dar vida às peças. Julita revela que, para que a imagem fique bonita, é preciso utilizar quatro tipos de tintas, além das possíveis misturas que podem ser feitas entre elas. Mas, muitas vezes, antes disso, é necessário fazer algumas restaurações, como ajeitar um braço, uma mão, ou até mesmo colar uma parte quebrada, que nesse caso requer um pouco mais de paciência e agilidade com as mãos.
“Eu não achei difícil fazer nenhuma restauração. As primeiras imagens eu fiz meio tremendo um pouquinho, porque eu tinha medo que não ficasse bem uma coisa ou outra, mas graças a Deus saia uma perfeição”, relembra, ao mesmo tempo em que informa que o que acha mais complicado é fazer o rosto, principalmente os olhos, uma vez que é a primeira coisa que se nota em uma imagem.
Entre os materiais utilizados pela florense estão: a lixa, o pincel, o gesso em bisnaga e em pó, a termolina branca, a água Raz, a aguarrás mineral, o secante de cobalto, alguns pós, misturas para os pós, além dos vários tipos de colas, tintas e vernizes.
Com o tempo, algumas pessoas passaram a conhecer sua dedicação às imagens sacras e começaram a procurá-la para comprar santos prontos e, até mesmo, para reformar imagens que já possuíam em casa, mas que com o tempo acabaram ficando danificadas. Seu trabalho é desenvolvido com tanta perfeição que pessoas de outras cidades da Serra Gaúcha também já a procuraram.
Durante os 16 anos de trabalho dedicados a arte sacra, Julita pintou e restaurou mais de mil imagens de todos os tamanhos, desde as pequenas até as grandes, tanto para a sociedade quanto para a igreja. 
Atualmente, a florense continua se dedicando ao oficio, porém não realiza mais a restauração de imagens muito grandes. 
Quem se interessar pelo trabalho de Julita Michelon Molon pode entrar em contato pelo telefone (54) 3292 1927.