Esporte

Paixão verde e amarela

Álbuns e figurinhas da Copa do Mundo 2022 fazem sucesso entre florenses de diversas faixas etárias, e provam que o hobby vai muito além de colecionar

Muito mais que reunir figurinhas, completar um álbum da Copa do Mundo é colecionar momentos únicos que, na maioria das vezes, são compartilhados entre pais e filhos, colegas de escola ou trabalho e, sobretudo, abrem as portas para novas amizades; independentemente da idade.
É assim que a proprietária do Almanaque Cultural Livros e Revistas, de Flores da Cunha, Sandreli Berner Marteninghi, 39 anos, descreve o sentimento da primeira Copa do Mundo à frente do estabelecimento. “Está superando as minhas expectativas. No início, minha ideia era a venda de mais ou menos 300 álbuns, mas, a adesão me surpreendeu: continuo vendendo até hoje. Então quer dizer que o pessoal vai continuar comprando figurinhas até completar os seus álbuns”, comemora Sandi, que já comercializou mais de mil álbuns – de capa normal e dura – e milhares de figurinhas. 
A empresária explica que, devido à pandemia, acreditava que as pessoas iriam adquirir esses itens pela internet, mas descobriu que o público gosta de comprar pessoalmente, fator responsável por aumentar significativamente o movimento na livraria: “Quando eu vi muita procura de álbuns e figurinhas, senti necessidade de trazer essas pessoas até a loja, também, de uma forma virtual, então, logo na primeira semana, fiz um grupo de WhatsApp e aí fomos acrescentando essas pessoas. Eu fico, muitas vezes, até às 22h na loja para responder o pessoal na plataforma de conversa, e é um trabalho diário”, explica Sandi, acrescentando que sempre precisa pensar qual será o fornecedor que terá de acessar, pois, os colecionáveis têm muita saída, mas também, há falta de figurinhas no mercado.
Sandreli, que já promoveu dois troca-trocas de figurinhas no local, reunindo mais de 300 pessoas em cada encontro, revela que pretende realizar mais, até que todos completem seus álbuns. A proprietária também afirma que enxergou na Copa do Mundo uma forma de atrair o público masculino que, muitas vezes, não consegue acessar por meio da leitura. “Eles estão vindo, conhecendo a loja, adquirindo alguns produtos na nossa conveniência e também na parte da leitura. Então eles estão gostando do atendimento e retornando de outras formas”, empolga-se. 
Ainda de acordo com ela, enganam-se os que pensam que completar um álbum de figurinhas é somente para a criançada, prova disso é a quantidade de adultos adeptos ao hobby. “Costuma começar nos seis anos, com a ajuda dos pais, que normalmente acompanham, mas, eu acho que a grande demanda aqui na livraria é entre 20 e até 40, 50 anos. Vejo muitos homens que gostavam de fazer o álbum, que gostavam dessa brincadeira quando criança, e hoje estão passando para os seus filhos. O que eu noto muito aqui é o pai falando: ‘Filho, quantas figurinhas você gostaria hoje?’, e, na verdade, é o pai que quer comprar e abrir o pacotinho”, lembra a linha de frente da Almanaque, que vê esse gesto como fundamental para aproximar as pessoas após o período de distanciamento social.
“Aproveitem esse momento com os filhos, com a família, e para fazer novas amizades. Porque pode parecer que seja só dinheiro, mas, dois anos de pandemia e sem interação, eu acho que esse é o momento de fazer novas amizades, troca de olhares, troca de falas, que normalmente essa geração nova não faz, com tanta tecnologia. Então eu acho que essa prática está aproximando mais as pessoas. É muito mais que colecionar por colecionar, é interação, porque essa troca é verdadeira e eu recebo vários relatos de pessoas que fizeram amizades a partir do álbum, desde 2010, e que levam até hoje, é uma corrente de pessoas e, em torno de uma brincadeira, se torna algo sério”, conclui Sandi, confessando que chorou de emoção no primeiro troca-troca de figurinhas, se dando por conta do quanto é gratificante ver as pessoas interagindo novamente.
Relatos que podem ser confirmados pelo florense, Tiago Novello Tonet, de 25 anos, que desde criança foi incentivado pelo irmão, Daniel Tonello, a colecionar diversos itens, como, por exemplo, Tazos, Gelocos e mini garrafinhas da Coca-Cola, além das icônicas figurinhas da Copa do Mundo. “Para mim, um álbum é muito mais do que simplesmente colar uma figurinha, muito mais do que simplesmente ir até a banca, comprar o álbum e colar. Eu acho que é um processo de realização pessoal, é algo de poder estar presente, de conhecer novas pessoas”, destaca Tonet. 
O amor pelas figurinhas da Copa iniciou ainda no ano de 2010, quando, com a ajuda financeira de seus pais, conseguiu concluir seu primeiro álbum e, desde então, sua paixão só aumentou. Em 2014 e 2018 entrou novamente na brincadeira, mas, nas duas vezes, com seus próprios recursos. E em 2022 não poderia ser diferente: “A princípio não queria fazer o álbum desse ano, achei o valor um pouco alto, mas, por todo o sentimento de fazer uma coleção, por todo o carinho que eu sempre tive, por gostar do momento e de estar envolvido nas trocas, lá no fundo, a vontade bateu mais forte”, confessa o jovem, que conseguiu completar o álbum da Copa do Mundo do Catar nesta semana. 
Um mês foi o tempo necessário para o florense conseguir finalizar seu álbum e, nesses 30 dias, ele adquiriu em torno de 100 pacotinhos de figurinhas da Panini: “Eu passei praticamente por toda a cidade. Comprei em vários lugares para diversificar os lotes e evitar que tivesse muitas repetidas”, explica, ao mesmo tempo em que diz acreditar que tenha gastado em torno de R$ 600. “O álbum eu comprei via internet porque estava faltando em Flores da Cunha, então acabei conseguindo em uma promoção e paguei mais barato”, relata.
E o período de caça às figurinhas também fez com que Tonet se aproximasse ainda mais do irmão, Daniel, que também havia comprado o álbum. Segundo ele, foram momentos muito dinâmicos e de trabalho coletivo:  “Nós abríamos os pacotinhos e já fazíamos a separação, as que eram boas para mim e as que eram boas para ele”, lembra.
De acordo com o jovem, o processo de conclusão foi rápido, pois, além de receber o auxílio do irmão e das várias amizades que possui, ele pôde contar com uma grande aliada: a tecnologia. “Hoje, com a era digital, com o WhatsApp, ficou muito mais fácil. Eu estava em três grupos, todo momento vinha um amigo falando ‘preciso de tal figurinha’, outro dizia ‘eu tenho essa’, e iam separando. Em 2014 já não era tão fácil, tinha que estar sempre envolvido, sempre na praça e em pontos de troca”, revela.
Ainda conforme Tonet, outro ponto em que a tecnologia facilitou a vida do colecionador foi a criação de aplicativos que permitem organizar e controlar quais figurinhas possui e quais faltam: “Nos outros anos eu fazia isso no Excel, era mais na mão mesmo, na anotação, mas, hoje tem essa facilidade também para compartilhar as que faltam e as repetidas, por meio do aplicativo. É uma mão na roda”, brinca o florense, que confessa sempre ter buscado incentivar seus amigos a colecionar, da mesma forma que o irmão fez com ele. 
Apesar das facilidades de comunicação entre os colecionadores, o jovem não abriu mão do antigo formato: as trocas de figurinhas presenciais, os famosos troca-trocas entre amigos e, inclusive, chegou a fazer novas amizades por conta do hobby. Afinal, como ele mesmo já definiu, colecionar vai muito além de comprar e colar figurinhas em um álbum.

Tiago Novello Tonet é um dos florenses que já completou o álbum da Copa do Mundo 2022.  - Karine Bergozza
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