Corrida, um esporte que auxilia o corpo e a alma
Cada vez mais florenses e paduenses têm praticado o esporte e participado de competições no Estado e no Brasil
Todo fim de semana dezenas de corredores tomam as ruas do centro e do interior de Flores da Cunha para treinar e, principalmente, para manter a saúde. Eles são os praticantes de uma modalidade que cresce a cada ano, a corrida de rua. Nela, eles conseguem conciliar uma rotina de trabalho com a atividade física. Os atletas florenses participam de eventos dessa natureza na região e no Estado. E muitos deles estiveram no final de semana passado no Litoral Norte para participar da 16ª TTT – Travessia Torres Tramandaí.
A atleta Luisa Bellincanta, 63 anos, sempre gostou de correr como forma de movimentar as pernas, em virtude de trabalhar sentada, além da manutenção do peso. “Depois que participei da primeira corrida não parei mais. Foi muita adrenalina, um vício. Agora que faço parte da Equipe Team Via de Vanti a gente participa de corridas praticamente todos os finais de semana. Minha família reclama que me perderam para a corrida”, ressalta ela.
Para enfrentar essa maratona de corridas, Luísa faz musculação duas vezes por semana, spinning (modalidade de ginástica em grupo que simula um treinamento de ciclismo, com o uso de bicicletas estacionárias), aula de localizado e mais três corridas por semana. “Eu adoro fazer exercícios e se tivesse tido oportunidade de estudar, teria feito faculdade de Educação Física e trabalhado numa academia, porque ali me sinto em casa”, destaca Luisa, que faz exercícios específicos para fortalecer joelhos e pernas. “Só quem corre sabe como a cabeça fica leve. Não importa quantos quilômetros, mas quem começa a correr não para mais”.
Conforme o professor Anderson Agostini, sócio proprietário da Academia BioCorpo, para enfrentarem essas provas, os atletas precisam de um bom reforço muscular na região do abdômen e lombar, para uma melhor sustentação, equilíbrio, postura e um trabalho bem focado de perna. “Essa série de exercícios é importante para prevenir lesão, sentir menos dor e fadiga muscular e, consequentemente, ter um melhor rendimento nas provas”, cita o profissional.
O balconista Ademir Polo, 55 anos, segue o treinamento três vezes por semana na academia, treina durante a semana e nos finais de semana pratica com corridas de rua. “Por conta desse condicionamento físico disputo também o Circuito Trilhas e Montanhas, campeonato que terá dez etapas em 2020”, diz ele. A primeira delas foi realizada em Maquiné e contou com a presença de outros atletas florenses.
Para Polo, a hidratação é fundamental para uma boa prova. “No ano passado, desmaiei na corrida realizada em Morro Gaúcho. Desde então me previno com muita água e tenho uma alimentação bastante controlada”, frisa.
A corrida é um esporte que pode ser praticado por pessoas de todas as idades. Nessa modalidade esportiva há três anos, Polo sente-se mais novo a cada prova ou etapa concluída. “É gratificante apenas pelo fato de participar, mas, quando alcanço um pódio, fico mais motivado para continuar. Eu aconselho as pessoas de qualquer idade a participarem deste esporte”, pontua.
A psicóloga Monia Bisinella, 29 anos, se encantou pelas corridas. Ela não participa ativamente de nenhum grupo, mas ingressou nesta modalidade há cerca de cinco anos. “Antes disso, eu era bem sedentária e não praticava nenhum tipo de atividade física. Foi então que comecei a fazer musculação na academia e busquei na corrida uma alternativa para perder peso e para ter uma vida mais saudável”, recorda. O pódio na primeira prova foi aumentando o desejo de treinar mais e melhorar seus resultados. “Com o tempo, a experiência tornou-se um vício. A modalidade não tem a rivalidade, mas, cada atleta busca superar os próprios limites e percebemos que evoluímos a cada prova”, ressalta.
De acordo com a paduense, por ser um esporte individual, tudo o que o atleta conquista é um mérito pessoal, diferente de outros esportes coletivos, onde a vitória é em grupo. “Enxergar que você consegue conquistar algo sozinho, pelo próprio merecimento, aumenta a motivação para aperfeiçoar cada vez o desempenho”, afirma Monia.
Motivação
São vários os fatores que atraem os participantes para determinada prova. Quando o atleta começa a ficar mais profissional, passa a olhar para o tipo de percurso, a qualidade de hidratação e procura superar seus recordes pessoais naquele evento ou distância. Para o atleta Dirceu Cândido, 24 anos, tudo começou no dia 22 de março de 2015 ao participar de uma corrida de rua em Nova Pádua. “Até aquele momento praticava futebol, mas não era o meu forte”, recorda. Mesmo sem preparação acabou finalizando os 5 km na 3ª colocação. “A partir dali a corrida me proporcionou a convivência com amigos que me incentivaram e me fizeram conhecer esse mundo mágico onde só quem corre entende a emoção que a corrida proporciona”, revela.
Encarrando a corrida como um hobby, Cândido leva a vida profissional de operador e programador de robótica em primeiro lugar. Por isso, tendo uma rotina de dois turnos de trabalho durante a semana e mais os finais de semana, o tempo disponível para realizar os treinos e para o descanso é escasso. Ele recebe apoio para o reforço muscular na academia, além de alguns utensílios de treino como tênis e uniformes. Embora tenha essa ajuda, ainda falta suporte como nutricionista, suplementos, despesas de inscrições, viagens, transporte e alimentação. “O que ganhamos em premiação usamos para suprir os gastos. Por isso, o melhor retorno é a nossa saúde”, resume.
Embora os atletas não sejam profissionais, todos eles treinam durante a semana. Alguns de forma particular e outros em academia. De acordo com o profissional Anderson Agostini, os atletas até podem fazer alguns exercícios em casa, mas é recomendado que tenham a orientação de um profissional da área. “Em caso de um exercício feito de forma equivocada, o mesmo pode prejudicar outra região do corpo. Nesse caso, essas pessoas procuram a academia com algum princípio de lesão. Depois de diagnosticada, é preciso tratá-la para depois trabalhar o corpo como um todo”, afirma o professor.
A corrida de rua faz bem para a saúde das pessoas e destaca-se por ter um ambiente de amizade e alegria entre os corredores. A gerente administrativa Katia Angélica Salvador, 40 anos, começou a correr no final de 2015. O primeiro desafio foi concluir o percurso da ciclovia de Flores da Cunha correndo. “Intercalei caminhada e corrida até atingir meu objetivo”, lembra. Kátia foi então incentivada pelo noivo Eluzardo Gavazzoni a participar das provas e depois da primeira experiência, o amor pelo esporte só aumentou. Além de melhorar a concentração, o foco, a autoestima, a disposição, o humor e até a alimentação, a corrida ampliou o círculo de amizades. “Cada atleta tenta melhorar o seu tempo, superar seus limites, mas, nas provas não têm aquela rivalidade de competição entre os participantes. O melhor da corrida são os amigos que fazemos e, de modo particular, conhecer e aprender com os exemplos de superação de atletas com deficiências que participam das provas”, afirma.
A primeira prova disputada por Marilei Francescatto, 52 anos, foi a Corrida da Saúde organizada pelas Empresas Randon, em Caxias do Sul. Já na primeira experiência sentiu o gostinho do pódio, ficando com a 3ª colocação na sua categoria. Desde lá, a atleta ganhou 17 troféus e 31 medalhas. “Até para mim, é uma surpresa ter conquistado esses resultados”, destaca.
Além dela, o filho Felipe Francescatto, 24 anos, e o marido Oscar Francescatto, 66 anos, também são admiradores das corridas. Felipe sempre participou de vários esportes e tem uma vasta galeria de premiações conquistadas. Mãe e filho sempre foram muito ativos em atividades físicas, seja nas caminhadas ou na academia, mas nunca participando de competições. “O Felipe é o meu grande incentivador nesse esporte, além de motorista, professor e atleta”, elogia Marilei.
A oportunidade de os três correrem juntos surgiu por ocasião do time de coração da família. “Na corrida do Grêmio, em Porto Alegre, desafiamos o Oscar a participar também. Agora, além das caminhadas ele também é presença garantida nas corridas próximas a Flores da Cunha. A participação dele não é tão intensa como a nossa, mas estamos sempre nos motivando para praticar esse esporte incrível”, conclui Marilei.
As equipes de Flores
Duas equipes de Flores da Cunha participam de corridas e circuitos pela região e Estado. A Team Via de Vanti é uma delas. A equipe foi criada a partir da amizade entre os atletas que participavam das provas. “O vício em correr foi ficando maior a cada prova e fomos fazendo novas amizades. Nossa vizinha Luísa Bellincanta começou a correr comigo e com o Felipe e em outra prova, a Katia Angélica Salvador passou a integrar o quarteto”, conta Marilei Francescatto. A partir dali, os quatro começaram a participar de muitas corridas. O deslocamento era feito com o carro do Oscar Francescatto e por isso usavam o nome de Run Imobiliária Francescatto. “Para confeccionar camisas e jaquetas corta ventos para utilizar durante as provas pensamos em outra nomenclatura para a nossa equipe. Pelo fato de sermos da Serra e de descendência italiana, prevaleceu o Team Via de Vanti (na tradução, equipe saia da frente), uma alusão que na corrida é preciso ultrapassar ou você é ultrapassado”, comenta Marlei. Hoje, a equipe conta com 15 atletas e está sempre aberta para quem queira participar ou quem esteja começando a correr. “Nossa ideia é a união, a diversão e claro, o bem-estar da saúde”, frisa o corretor de imóveis, Oscar Francescatto.
Outro grupo florense é o Power Runners, que surgiu em 2015, por iniciativa de Michel Platini, que trabalhava como personal trainer na Fórmula Fitness Academia. O objetivo do profissional era reunir um grupo de atletas para participar de corridas de rua. De acordo com Michel, após a prova da Vindima Night Run, realizada em 2015 (os atletas percorreram os 4 km e 8 km pelas ruas de Flores, portando lanternas que iluminaram o caminho), surgiu a ideia de criar o grupo Power Runners. Depois dessa prova, alguns atletas iniciaram a trajetória na modalidade e outros, que já faziam essa atividade física há mais tempo como os corredores Joel Padilha e Adriano Mabília se integraram ao grupo, que atualmente conta com 18 atletas. Segundo o fotógrafo Álan Novello, 32 anos, em 2017, alguns integrantes do grupo iniciaram a participação no trail run (corrida em trilhas) e, posteriormente, mais atletas tiveram esse mesmo interesse. “Após algumas etapas do CTM (Circuito Trilhas e Montanhas) os florenses participaram junto com o Grupo Luxo, de Caxias do Sul. Construímos uma amizade forte com o diretor Ramon Guaresi da Luz e os demais atletas caxienses. Sempre participamos juntos nas etapas do Circuito Trilhas e Montanhas e em outros eventos. Todos foram super receptivos e receberam os atletas do Power Runners de forma fraterna”, relembra Álan.
De acordo com Ademir Polo, o grupo Power Runners é uma grande família. “Convivemos juntos na academia e nas provas que participamos estamos sempre unidos. Além de cuidar da nossa saúde, que é mais importante, ainda temos essa afinidade que nos aproxima”, elogiou Polo.
Desafios para 2020
Além das provas realizadas na região, alguns atletas têm desafios particulares. É o caso de Ademir Polo que pretende participar da maratona de Porto Alegre, numa extensão de 42 km. Para Luísa Bellincanta a preparação tem como objetivo encarrar o famoso trajeto de São Tiago de Compostela. Para isso, em dezembro de 2019, Luísa e a amiga Carmem Pedroso percorreram o Caminho de Caravaggio que conta como se fosse o percurso para São Tiago de Compostella. As duas fizeram o trajeto de 210 km, distribuídos em 10 trechos, que contemplaram cinco cidades. “É uma experiência de fé, reflexão e conexão com a natureza”, resume Luísa.
A data para São Tiago da Compostela está marcada para setembro. Serão 800 km, saindo da França, até o noroeste da Espanha. O trajeto será percorrido em 30 dias.
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