Economia

Um brinde ao crescimento do vinho brasileiro

Empresas florenses estão satisfeitas com venda acima do esperado

Algumas pessoas podem dizer que esse momento demorou, mas, enfim, chegou. O vinho brasileiro está tendo um reconhecimento jamais visto antes e as últimas safras, de boa qualidade, estão fazendo com que os vinhos se destaquem no cenário internacional e até mesmo nacional, dentro das casas, já que o vinho, pode-se dizer, foi escolhido como a bebida da quarentena e alavancou as vendas dos brasileiros.
Conforme dados oficiais da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), com base no Sistema de Cadastro Vinícola da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, nos quatro primeiros meses de 2021, as vinícolas rio-grandenses brindaram a venda de 9,5 milhões de litros (entre vinhos finos e espumantes), um aumento de 34% se comparado ao mesmo período do ano passado, que alcançou 7,1 milhões de litros. 
A melhor performance percentual é dos espumantes moscatéis com incremento de 37,76%, seguido pelos vinhos finos com 34,35% e pelos espumantes brut com 30,87%. Já o suco de uva amarga uma queda de 15,68%.
De acordo com dados da Agavi, também com base nos relatórios da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, os vinhos de mesa também apresentaram uma queda em 2021 comparado aos quatro primeiros meses de 2020 – de 6,3%. De acordo com o presidente da entidade, Darci Dani, o vinho de mesa a granel diminuiu, porém o engarafado subiu. “Estamos bastante confiantes em relação a comercialização”, destaca Dani. De acordo com os números, o vinho a granel diminuiu 23,1% de janeiro a abril de 2021 se comparado com o mesmo período do ano passado. Já o engarrafado subiu 4,4% – de 31,7 mil litros vendidos para 33,1 mil litros. 
 “O vinho brasileiro segue sendo descoberto pelos brasileiros que, ao degustar nossa diversidade e qualidade, estão percebendo a evolução e aprovando. É animador ver esta importante conquista. Com uma safra maior em 2021 os estoques estão sendo abastecidos, podendo atender ao mercado”, destaca o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta.
Argenta aposta ainda mais na aceleração das vendas diante da ampliação de canais, da melhor distribuição, do preço justo, além do próprio lançamento de produtos das vinícolas. “Com a flexibilização dos protocolos de segurança diante da Covid-19, o enoturismo também ganhou impulso, fortalecendo ainda mais a relação entre produtores e consumidores. A aposta no e-commerce e em ferramentas práticas como o próprio WhatsApp também tem facilitado a venda com entrega em qualquer parte do país”, ressalta.
Em Flores da Cunha
Os resultados satisfatórios também estão sendo bem quistos pelos empresários florenses do ramo. “Percebemos um crescimento em 2020, mas não esperávamos que se mantivesse e até mesmo ampliasse em 2021. Mas estamos tendo um impacto bem positivo”, relata o enólogo e sócio-proprietário da vinícola Família Bebber, Felipe Bebber. “A comercialização de vinhos está bem acima do que prospectávamos de crescimento, e até o final do ano devemos alcançar as 200 mil garrafas comercializadas”, destaca. 
De acordo com Bebber e seguindo as pesquisas (veja abaixo), os vinhos tintos estão tendo mais saídas. “São o nosso carro-chefe. Percebemos que há uma crescente em todo portfólio nosso, mas os vinhos mais premium estão todos esgotados, só aguardando novos lançamentos”. Conforme o enólogo, a expectativa para o segundo semestre é que esse aumento se mantenha. “Também estamos apostando nos nossos lançamentos primavera/verão, que é uma linha toda pensada em vinhos jovens, leves e frescos que terão dois vinhos brancos, um rose e um tinto”, revela Bebber. 
Para a gerente de marketing da Vinícola Viapiana, Débora Viapiana, os vinhos tintos também estão tendo maior saída. “A expectativa para o segundo semestre é que eleve a venda dos espumantes, em função da retomada das atividades. Também esperamos a melhora no fluxo de turistas, com o aumento de vendas local”, relata.
Para o empresário Julio Fante, diretor da Fante Bebidas, o primeiro semestre de 2021 está com as vendas estáveis, com um destaque para vinhos finos e espumantes, que estão acima do que comercializado em 2020. “Já os vinhos de mesa e os sucos têm tido desempenho menor”, analisa o empresário, que complementa: “para o segundo semestre acreditamos em boas vendas, mas com certeza menores do que o ano passado. As limitações estão no comportamento do consumidor por seu menor poder aquisitivo e pela falta de embalagens que chegou a seu ponto mais crítico de todos os tempos”, informa. 
Mas, com a pandemia e o ‘fique em casa’ ainda em alta, as vendas por e-commerce tiveram elevação. “As lojas especializadas e os canais digitais da vinícola (site, Instagram e WhasApp) têm representado bastante crescimento, além da venda direta ao consumidor, que era algo que não operávamos no ano passado”, analisa Felipe Bebber. Nesse quesito de venda direta, a vinícola Família Bebber tinha como meta em cinco anos ter 30% do faturamento através desse perfil de vendas. No mês passado atingiram o patamar dos 15% de faturamento. “Queremos explorar isso e ampliar essa participação no mercado, visto o investimento do nosso receptivo, criando assim uma boa experiência sempre ao consumidor”.
Para Julio Fante, o principal canal de vendas continua sendo o supermercado, mesmo com o crescimento do e-commerce e canais especializados.

No Brasil
Conforme dados da Ideal Consulting, o mercado de vinhos no Brasil registrou um crescimento de 5% no primeiro quadrimestre de 2021 na comparação a igual período do ano passado. Ao todo foram comercializados 105,3 milhões de litros da bebida – nos primeiros quatro meses de 2020, foram comercializados 100,2 milhões de litros.
As importações continuam fortes neste primeiro quadrimestre, com alta de 35,9% em relação a igual período do ano passado. Os vinhos tranquilos impulsionam essa alta, com o aumento de 38% no período, enquanto os espumantes e os champanhes tiveram queda de 6%.
No lado da indústria brasileira, os espumantes brasileiros mostraram boa reação. Com alta de 40% nos quatro meses deste ano em comparação com o ano anterior. No mesmo período, os vinhos finos cresceram 54%. O contraponto vem com o vinho de mesa brasileiro, com queda de 15%. Essa retração é impulsionada, principalmente, pela dificuldade de obter garrafas para o envase da bebida. Pela representatividade do vinho de mesa, a categoria vinho brasileiro teve uma queda de 9,3% nestes quatro meses.
Com isso, a proporção entre vinho brasileiro e vinho importado ficou em 63% para os brasileiros contra 37% dos estrangeiros. No acumulado de janeiro a abril, a produção brasileira representa 59% dos vinhos enquanto os importados estão com 41%.

Entendendo o consumidor 
Uma pesquisa realizada pela Nielsen Brasil e divulgada na revista BACO Wine Report 2020/2021, destaca o surpreendente dado da migração em massa dos bebedores de cerveja para o vinho. A pesquisa revelou que 92,4% dos consumidores de bebidas que migraram para o vinho vieram da cerveja, ante apenas 4,2% da vodca e 1,7% do uísque. 
Outros dados apresentados, esses do Grupo BACO com a eCGlobal, realizadas nas redes sociais proprietárias da empresa, com cerca de 1,2 milhão de participantes, revelaram que 61% dos entrevistados consomem vinho ao menos uma vez por semana. Já 86% dos entrevistados revelaram que consomem vinho em casa, sendo que o vinho tinto é o preferido. 
 

 - Jefferson Soldi/ Divulgação
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