Economia

Enquanto que a geração do emprego formal (com carteira assinada) fechou 2015 no negativo – Flores da Cunha perdeu em um ano 238 postos de trabalho e somente em dezembro do ano passado foram 323 demissões –, o número de microempreendedores individuais (MEIs) segue crescendo. De 2014 a 2015 houve um aumento de 20,3%. Flores da Cunha terminou 2015 com 782 empreendedores, 132 a mais do que o ano anterior. Nos primeiros seis meses do ano, de acordo com dados do Portal do Empreendedor do Governo do Estado, foram abertos 89 MEIs no município, o que contabiliza uma média de 15 novos microempreendedores por mês. Até junho deste ano, o município tinha 871 empresas registradas nessa categoria. A maior parte formada por homens, com idade entre 31 a 40 anos, da área de prestação de serviços, destacando-se trabalhadores ligados à construção civil (veja quadro).

Para o gestor de atendimento do Sebrae Serra Gaúcha, Tiago Centenaro Mignoni, o crescimento das MEIs é uma tendência nacional, em especial por causa do momento econômico e do número de desemprego. “O volume de microempreendedores tem aumentado, inclusive, como uma forma das pessoas buscarem renda com o próprio negócio. Como a MEI é uma maneira mais simplificada de registro, isso também corrobora para o crescimento”, aponta.

Foi justamente uma dificuldade familiar, aliada à incompreensão dos chefes da empresa em que trabalhava, que fez com que a microempreendedora Glaucia Beatriz da Silva Paines, de 31 anos, optasse pelo empreendedorismo no final do ano passado. Na época, Glaucia não sabia no que investir, mas por sugestão do irmão começou a trabalhar com souvenires. Nascia ali a GP Estampas, que produz canecas, camisetas, almofadas, mousepads, quebra-cabeças, squeezes, entre outros itens personalizados. “Não voltaria a trabalhar numa empresa, porque aprendi a ganhar dinheiro de outra forma. Nunca pensei em ter um negócio próprio e hoje tenho um”, comemora Glaucia.

Vantagens

O MEI se consolidou como ponto de partida e alternativa para todo brasileiro que tem o sonho de trabalhar por conta própria, tendo acesso a direitos previdenciários. E os dados comprovam isso. Em 2009, quando os trabalhadores florenses passaram a ser formalizados como microempreendedores individuais, havia apenas cinco registros. No ano seguinte, já eram 93 e, em 2011, somavam mais de 160. Em 2012, com o aumento do limite de faturamento, o modelo rompeu a marca de 300 pessoas em Flores da Cunha. Hoje, são mais de 800 formalizações.

Os grandes propulsores são as vantagens e a forma simplificada, descomplicada e com redução de carga tributária dos pequenos empreendedores. De acordo com o gestor do Sebrae, quando um trabalhador deixa de ser informal e passa a ser um MEI, adquire um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), com registro da Receita Federal. Este novo status permite emissão de notas fiscais e facilita relações com bancos. “O registro da empresa é mais simplificado e todos os controles anuais e mensais também. Uma grande vantagem é que o pagamento é menor e mais barato. Ele paga um valor mensal, com todos os impostos e contribuição para o próprio INSS, dependendo da atividade exercida, entre R$ 40 a R$ 50”, explica Mignoni.

O microempreendedor precisa ter faturamento anual bruto de até R$ 60 mil, não pode ser sócio ou titular em outra empresa e pode admitir um funcionário, com salário mínimo ou piso da categoria. Acima disso, se caracteriza como micro ou pequena empresa, quando já paga impostos e precisa de um contador. No Congresso Nacional tramita um projeto para aumento da faixa de faturamento dos MEIs, passando de R$ 60 mil para R$ 80 mil.

Atenta ao crescimento dos MEIs, a Prefeitura de Flores da Cunha tem trabalhado para melhorar o atendimento, com uma integração maior para o registro na prefeitura e o cadastro na esfera estadual e federal. Como os registros são feitos de forma autônoma e desconexa, muitas pessoas fazem apenas nos níveis estaduais e federal, não procurando a prefeitura depois para obtenção de alvará e cadastramento municipal. O registro municipal é obrigatório e a orientação é que antes de qualquer cadastro se consulte a o Poder Público para averiguar o que determinam as leis municipais. “Estamos trabalhando nessa interligação com as prefeituras, porque o Portal do Empreendedor já está linkado com a federação e com os Estados, mas não com as prefeituras. Por isso, o empreendedor precisa ir até a prefeitura para completar o registro empresarial no nível municipal. Esse trâmite está sendo organizado para facilitar esse processo para que seja feito tudo numa única vez”, diz o gestor de atendimento do Sebrae, Tiago Centenaro Mignoni.

Por causa disso, os números de MEIs na prefeitura são diferentes dos existentes no Portal do Empreendedor. A prefeitura possui 626 cadastros de MEIs liberados com alvará de funcionamento. Mais de 200 a menos do que os dados registrados no Portal do Empreendedor.

Diversificação em souvenires

O negócio da microempreendedora Glaucia Beatriz Silva Paines, 31 anos, é recente, mas as perspectivas futuras estão sendo desenhadas. Desde que obteve o registro de MEI há cinco meses, Glaucia tem investido em maquinário para sua empresa de souvenires e em cursos profissionalizantes. O empreendimento foi montado na sua casa, no Travessão Gavioli, quase no limite com Caxias do Sul, e tem se mostrado vantajoso. “No início quase desisti, mas busquei orientações no Sebrae, aprendi uma fórmula de vender meus produtos, consegui um bom fornecedor e hoje conquistei meus clientes e descobri que o sistema ‘boca a boca’ funciona muito. Além disso, faturo numa semana o que precisaria trabalhar um mês inteiro”, diz ela, que divide as tarefas entre o empreendimento e o atendimento na loja do irmão.

Com orientações e foco, a empreendedora tem conseguido impulsionar as vendas dos itens produzidos e descobriu que cada estação do ano requer um tipo de produto. No verão ela se dedica à customização de camisetas e no inverno na estamparia de canecas, além disso, também se concentra nas datas comemorativas. “No final do ano quero investir nos brindes para funcionários de empresas e também para as escolas. O importante é ter um foco e não desistir se falhar na primeira tentativa. Eu nunca me imaginei tendo uma empresa e nunca havia trabalhado com estamparia”, conta a jovem que vendeu o carro para investir no negócio.

Para o futuro, Glaucia planeja aumentar o número de máquinas, divulgar melhor a empresa e aumentar a diversidade de produtos. Para isso, elabora um site para impulsionar as vendas. “Costumo dizer que não vendo produtos, mais itens de alegria e felicidade para as pessoas. E depois se tu atendes com prazer os clientes voltam e recomendam.” A empresa dela, a GP Estampas, comercializa canecas, camisetas, almofadas, mousepads, quebra-cabeças, squeezes, entre outros itens personalizados. Os contatos podem ser feitos via WhatsApp – (54) 9182.6515 ou (54) 9641.5085.

Como encaminhar

– O cadastramento para o MEI é realizado no Centro Empresarial (em parceria com o Sebrae), na Rua Ari Koppe, 390, em Nova Roma, das 7h45min às 11h30min e das 13h15min às 17h30min, de segunda a sexta-feira. Outras informações pelo 3297 3055.

– Também é possível realizar o cadastro pela internet, no Portal do Empreendedor (www.portaldoempreendedor.gov.br). Assessorias, informações e consultas com profissionais são gratuitas. Hoje são mais de 500 atividades autorizadas e a lista completa de serviços permitidos pode ser conferida no Portal do Empreendedor.

Perfil dos MEIs em Flores da Cunha

– 518 microempreendedores individuais são do sexo masculino e 348 do sexo feminino.

– Entre os empreendedores, 320 têm entre 31 a 40 anos; 216 entre 21 a 30 anos; e 195 entre 41 a 50 anos.

– As principais atividades exercidas: 133 no serviço de construção civil (alvenaria); 67 no serviço de construção civil (pintura); 57 cabeleireiros, manicure e pedicure; 41 comércio varejista de vestuário; 32 instalações e manutenções elétricas; 32 confecção de peças de vestuário.

Evolução

2011 – 168

2012 – 312

2013 – 505

2014 – 650

2015 – 782

2016 – 871*

* Até 30 de junho.

Fonte: Portal do Empreendedor – MEI.